Heitor colocou a mão contra as luzes, para ver melhor. Duas mulheres, com uniformes vermelhos, tiravam o corpo do rapaz da piscina e o entregavam para dois homens, também uniformizados, fora d'água e esperando com um saco preto estendido na borda m...
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Pela primeira vez no dia, Theo estava acordado. Realmente atento para tudo o que estava acontecendo ao seu redor. Quando o psicólogo Freitas disse que poderiam escolher o lugar para fazer dupla, a sala começou a se reorganizar imediatamente, mantendo o máximo de silêncio. Alguns alunos pegaram os pertences e jogaram nas mochilas, observou Theo olhando sobre o ombro, outros, só puxavam a mesa do colega para perto de si. Como as fileiras começaram a ficar desorganizadas, Freitas foi até a frente da sala, formou cinco grupos de mesas e disse que as demais deveriam se alinhar a estas.
Theo, por outro lado, não fez nada disso. Embora... metade da sala já escolheu o par. Em questão de minutos ele seria o único aluno sem par da sala. Começou a sentir a bexiga ficar apertada, provocando suores na testa e nos braços. Tentou umedecer os lábios secos e respirar tranquilamente, engolindo o nervosismo, para não parecer ansioso.
Mais do que seu comportamento nas primeiras aulas, obscuro e taciturno, Theo sabia que ninguém se sentaria ao seu lado. Nos últimos anos quem ocupara a carteira ao lado da sua fora Bruno.
Vão é passar longe daqui. Conformou-se o rapaz imaginando o constrangimento quando todos já estivessem com par.
Sem outro remédio, o garoto tímido olhou ao redor. Queria dar um ar de despreocupado. Maurelle e Leoncio praticamente se jogaram um sobre o outro, mesmo já sentando lado a lado. Na colisão das mesas, canetas voaram para todos os lados. Antony e Paula, no centro da sala e na primeira mesa, apenas puxaram as mesas até ficarem na marca que o psicólogo orientou. Daniel sentou-se com Isadora do lado, para servir o mais rápido possível assim que o rei ordenasse. Fugindo o mais longe que pôde de Antony, Lucca fez dupla com Ernesto no fundo da sala. Esse último vigiando Leoncio a todo momento. Agora Theo não conseguia evitar a sensação quente acima das bochechas. Ele conhecia bem o sentimento que apertava suavemente o seu peito. Cada vez mais comprimido!
Na última tentativa de evitar o choro, Theo começou a nomear as duplas. Katy e Enzo, Heitor e Wagner, Duda e Gabe...
Ele foi interrompido por um vulto que certamente estava procurando algum lugar para se sentar. Sem levantar os olhos, ele esperou que o cara sumisse da sua frente. No entanto, ouviu o som metálico dos pés da mesa de Bruno sento arrastada até bater suavemente na sua. Theo não precisou olhar para o rosto do cara para saber quem era. Conheceu o perfume depois de alguns instantes. Era o mesmo do intervalo.
Christopher sentou-se ao lado do colega, abrindo um sorriso tímido que durou poucos segundos.
Christopher saíra da frente da sala, onde sempre sentara de frente para os professores. Nunca houvera tamanha mudança em seu comportamento. Apesar que minha inteligência não depende de onde sento, afinal.
— O que está fazendo aqui? — Theo estava grato por não ter sido excluído, mas temia ser uma pegadinha do outro, mesmo que fosse o aluno exemplar da escola.
O doutor Freitas caminhava entre as fileiras anotando o nome de cada dupla numa folha sulfite.
— Achei que poderíamos começar aquelas aulas de reforço mais cedo — Christopher abriu um largo sorriso agora. — Vê meu rosto? Já sorri duas vezes, isso quer dizer que estou tentando ser simpático e amigável, coisas que eu não sou naturalmente. Então para de ficar me interrogando com essa cara de bosta.
