Camila
.
Joguei os braços pro alto e me entreguei. Era isso, que levassem tudo o que era meu, eu desistia! E ainda assim, parecia não ser o bastante. Meus meliantes pararam sobre mim, eu podia ver seus rostos angelicais avermelhados, e eles sorriam da minha derrota.
- Eu cansei! - declarei.
Olhei para Lauren ao meu lado e ela também estava com a mesma expressão de morte enquanto encarava o teto.
- Mama! - alguém chamou, exigindo que continuássemos no planeta Terra.
- Não tem mais mamãe - dramatizei - mamãe desapareceu. Puf!
Eles riram. Adoravam onomatopeias. Até Oliver, que em geral odiava tudo, gostava de barulhos que lembravam pum.
Lauren se sentou, mas foi derrubada de novo pelos três pestinhas que montaram nela. Thomas foi andando, Oliver e Daniel engatinharam.
"Ah, mas ninguém contou que Thomas está andando". Bom, nem eu sabia! Até ali, ao menos em nossa presença, ele só engatinhava ou se segurava nas coisas. Se tudo estivesse certo, aqueles tinham sido seus primeiros passos.
Lauren fingiu que ia morder eles, que gargalharam.
- Não! - foi o gritinho de Oliver, que sabia três palavras: não, cocô e pum.
Não me pergunte o motivo, juro que tanto Lauren quanto eu somos inocentes. Ally, no entanto, parecia um tanto suspeita.
- Dan! Dan! Dan! Dan! Dan! - gritou Daniel, que sabia o próprio nome e sempre gritava para ganhar atenção.
Oliver meteu a mão na cara dele.
- Não!
- Mama! - Daniel gritou, já chorando.
O que Thomas disse? Nada. Thomas não falava ainda. Ele apenas sentou na cabeça de Lauren e observou.
- Ei, carinhas! - ralhei com os dois, me ajeitando sentada - não pode bater no irmão, isso machuca e deixa triste, está vendo?
- Dan, mama! - Daniel exclamou dramaticamente, esticando os braços para que eu o pegasse.
Eu o fiz e ele escondeu o rosto em meu pescoço. Para o outro não se sentir mal - eu detestava quando me olhavam com a carinha "você ama mais ele que eu" - o peguei no colo também. Olhei para Thomas, perfeitamente confortável sentado na cabeça de Lauren.
- Quer vir também? - convidei, mas ele se limitou a rir e agarrar a bochecha direita e o nariz de Lauren, que se remexeu.
- Está bem, eu não sou um banco, sou a mamãe! - Lauren tentou ensinar, o levantando para tirar da própria cabeça e recebendo uns chutes quando esperneou, mas ela o segurou a sua frente, a cara séria, e disse firmemente - assim não. Machuca.
Thomas a encarou, sério. Ele não repetiu a façanha, então acredito que entendeu o recado, apenas continuou mudo e se deixou ficar sentado e quieto como se estivesse fingindo que não estava ali.
- Certo, podemos levantar agora? Tem jantar para fazer - Lauren quase implorou, e olha que ela não gostava de cozinhar.
- Não! - gritou Oliver, que não apenas sempre gritava que não como também não gostava de comer. Bom, ele não gostava de nada, então não era novidade.
Estávamos cansadas. Esse dia acordamos e pensamos "hm, e se a gente gastar toda a energia das três ferinhas que criávamos em casa?". Brincamos de tudo o que quiseram o dia todo e até tiramos soneca da tarde junto com eles, mas no fim das contas quem estava esgotadas éramos nós.
Lauren suspirou, mas levantou depois de bagunçar o cabelo de Oliver, que odiava isso. Talvez eu devesse parar de listar o que Oliver odiava e focar no que ele gostava. A lista certamente era menor e continha um item essencial: leitinho da mamãe Lauren. Talvez por isso ele ache que fazer o jantar era desnecessário.
Minha esposa olhou ao redor.
- Uau, parece mesmo uma cena de um crime - disse - e vocês três são os culpados, ferinhas! Vão ser julgados em nosso tribunal de mães e condenado a sofrer cosquinhas!
Ela agitou os dedos na frente deles, que riram e se amontoaram em cima de mim. Thomas mais uma vez levantou e andou, se pendurando em mim e me levando ao chão.
- Garoto, você não é o homem-aranha - me queixei, mas ele riu.
- E agora temos um corpo no chão - Lauren negou com a cabeça.
- Thomas! - resmunguei quando ele levantou e sentou na minha cabeça.
Eu tinha um bebê em minha cabeça, outro sentado em minha barriga e outro agarrado em meu pescoço e sobre meu peito. Esse último só podia ser Daniel.
Lauren pegou o filho maluco dela e tirou da minha cabeça, me permitindo sentar.
- Consegue conter eles? - ela perguntou.
Conseguia? Não sei, mas tinha que tentar.
- Vá, amor. Dou um jeito. Se tudo der errado a cena de crime já está aí contra os meliantes - brinquei.
Lauren deu aquele sorriso que sempre surgia quando minha piada era extremamente ruim. Depois disso ela me entregou o número três e disse:
- Se tudo der errado a gente pode tentar o papel do próximo Coringa.
Eu ri. Ela tinha razão.
Lauren saiu para fazer o jantar e me deparei com três crianças me encarando.
- Buh! - fiz e eles riram.
- Dan! Dan! Dan! Dan! Dan! - Daniel exclamou, agitado a ponto de escorregar do meu colo.
O segurei antes que batesse a cabeça.
- Bum! - simulei uma explosão e os meninos gargalharam.
Thomas tentou roubar o espaço de Daniel, que arregalou os olhos e gritou:
- Dan!
Uma curiosidade sobre Daniel é que ele gritava "Dan" sobre qualquer um dos meninos. Se ele achava que todos eram Daniel porque eram idênticos ou se era uma tentativa de ficar em evidência eu não sei com certeza, mas ele fazia isso.
Tentei ajeitar todos em um pedacinho de mim mesmo sabendo que iria ficar dolorida, mas o que eu não fazia por eles, afinal.
- Vamos lá, o que mais querem ouvir?
- Pum! - Oliver nojentinho pediu.
Girei os olhos, mas fiz barulho de pum para ele, que gargalhou. Depois disso achei que fosse mais saudável passar para sons de animais, que eles também gostavam.
Devo confessar que eu gostava de fazer essas bobagens, embora me cansasse depois de repetir pela milésima vez como me obrigavam. Era apenas gostoso fazer nossos filhos rirem e ver de longe o sorriso apaixonado de Lauren nos observando.
Eles começaram a fazer barulho todos ao mesmo tempo e eu fiz: shhh!
Me encararam com os olhos claros arregalados, então começaram a rir. Era isso que fazia esse lugar ser uma casa mesmo no meio daquela cena de crime.
*
*
*Nossos meninos estão crescendo!
Nossas mamães estão enlouquecendo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um, Dois, Três!
FanfictionEla me beijou uma, duas, três... milhares de vezes. E nosso amor se entrelaçou como nossas vidas se uniram por uma história inicial. E nunca terminaria, porque infinitamente respiraríamos fundo e contaríamos para continuar vivendo ardentemente: um...