Um, Dois, Três!

Quarenta e Dois - Filhos de Camila mesmo

* atualização surpresa da madrugada (ai mas é 1h. Madrugada para mim)

Tive pesadelo e quero me distrair*

.

Camila

.

Era mais uma consulta e Dan estava ansiosa por isso. Aos dezesseis, ela tecnicamente poderia começar a transição hormonal, mas para isso tinha que passar pelo médico, fazer exames e tudo quanto é coisa para saber se ela estava pronta de saudável.

Hoje Lauren e eu a levaríamos para a consulta. Era um momento importante e queríamos estar ao seu lado para saber exatamente o que ela teria que fazer. Duas para prestar atenção era melhor que uma, e nisso não conto a adolescente porque tecnicamente ela não era absolutamente capaz.

— Posso dirigir? — perguntou a garota.

Ela sempre tentava. Incrível.

— Não — neguei, entrando do lado do motorista porque perdi a aposta com Lauren.

Ela comeu uma lasanha inteira quando eu disse que não conseguiria. Inferno de espírito competitivo que a levava a fazer coisas sobrenaturais!

Alisando o buchinho, Lauren entrou do outro lado no passageiro e Daniel atrás.

— Por que não? — ela perguntou fazendo bico.

— Porque você dirige igual sua mãe — Lauren apontou enquanto eu dava ré e quase derrubava a lixeira.

— Qual delas? — Daniel perguntou com graça e eu ri, raspando no meio fio — cuidado, mamãe!

— Pois aí está a resposta — Lauren implicou.

— Chuchuzinho, você não é muito diferente — a lembrei.

— Peguei de você — ela acusou — dirigir mal é sexualmente transmissível.

— Ew! Mamãe! — a adolescente enjoada fez cara de nojo.

— Não seja chata! Transar é legal quando você tem alguém que gosta. Devia tentar um dia — Lauren disse a ela em tom de piada.

— Ew! — repetiu a cara de nojo.

— Está certa filha — apoiei a nojentinha — não incentiva a menina, Lauren.

Minha esposa riu.

— Só estou falando — disse com graça.

— De qualquer forma, eu não vou fazer isso nesse corpo — Daniel disse com uma careta — Só quando eu puder ser completamente mulher.

— Dan, você já é completamente mulher — Lauren disse, já mais murchinha.

Ela se sentia mal pra caramba com esses sentimentos de Dan sobre ser mulher ou não.

— Sabe o que quero dizer, mamãe — Daniel disse mais suavemente — quando eu tiver peitos e genital de mulher. Não me sinto confortável assim.

— Bom... — comecei contra minha vontade — isso pode ser temporário. Não deve ignorar seus sentimentos, mas seja aberta a se aceitar se você sentir vontade ainda assim. Sua tia Dinah sofreu muito por isso, sabia? Antes de conseguir passar pela transição ela odiava tanto o próprio corpo que perdeu parte da vida evitando as mulheres com medo de se encarar.

Vi pelo retrovisor Daniel apertar os lábios fechados. Estava considerando o que disse.

Encolheu os ombros.

— Acho que isso não deve mesmo ser nada bom — concluiu — vou ficar atenta.

Um sorriso brotou no rosto de Lauren e tenho certeza de que se eu não estivesse dirigindo horrivelmente e pudesse bater o carro, teria me dado um beijo daqueles.