28 ▪︎ Dormindo com o Inimigo

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- Bem vinda à minha fortaleza! - Werá estendeu os braços num gesto teatral - Só não repara na bagunça. Eu não esperava receber ninguém, então... Sabe como é, né?

- Sei. Homens só lembram do básico de higiene quando vão transar com alguém. - Susana fez uma careta de horror - TEM UMA MEIA GRUDADA NA PAREDE??? COMO ISSO ACONTECEU??

- Eu pisei numa poça com ela e molhou meu sapato todo. Ela tava meio grudada no meu pé. Aí, quando eu puxei, acabou voando e grudando ali.

- E VOCÊ NÃO TIROU DE LÁ???

- Claro que não, é super irado! Olha isso, minha meia desafia as leis da gravidade.

- Que nojo, meu Deus. Tá, eu vou ignorar isso e ligar pra minha irmã. Onde tem um telefone?

- Tem uma extensão* no quarto, última porta no fim do corredor.

Susana seguiu as instruções recebidas, porém reparou (E MUITO) em toda a bagunça. Além das roupas, meias e embalagens plásticas, viu muitos livros espalhados pela casa. Textos escritos em uma língua que julgou ser tupi-guarani e diversas partituras musicais também compunham o cenário. Pelas fotos emolduradas, Susana percebeu que Werá concluiu o ensino médio num colégio municipal. Pensando em sua própria vida, não entendia o porquê de alguém abandonar uma vida pacífica e autossuficiente num povoado afastado para viver o caos da cidade grande. Repreendeu a si mesma por ser tão intrometida nas escolhas alheias e, sentando na cama bagunçada, discou o número do escritório no telefone em cima da mesinha de cabeceira. Enquanto esperava a irmã atender, enrolava o fio nos dedos. Demorou um tempinho até que a voz de Cristiane bufasse do outro lado da linha:

- Onde você tá, Susana? Eu já tava morrendo de preocupação. Fiz janta pra nós, mas já deve estar fria à essa hora.

- Oi, Cris. Perdão, eu acabei vindo parar na casa do Werá.

- Você realmente acha que essa é uma boa ideia? Você mal conhece esse cara, mas ele literalmente está em tudo na sua vida desde o momento em que apareceu. - Cristiane parecia mais preocupada do que triste e isso fez Susana se sentir extremamente culpada.

- Eu sei disso, mas as coisas acabaram tomando um rumo estranho hoje. - Susana narrou a conversa que teve com Helga Com Amargo após a entrevista enquanto a irmã apenas ouvia silenciosamente. - O que você acha?

- O Augusto ligou. Ele está péssimo.

- Ele ateou fogo na nossa casa, Cristiane. Por que ainda conversa com ele?

- Não acredito que tenha sido ele. Nem a polícia sabe quem foi, não acho bacana você acusar o Augusto, um cara que nunca te fez mal.

- E o que você espera que eu faça?

- Decida. Ele gosta de você, mesmo com essa toda essa merda rolando. Ele tá super mal te vendo com o "Martín". Você poderia conversar com ele.

- E o que eu diria? "Ah, eu beijo ele em rede nacional, mas eu gosto mesmo é de você, ok?"? Eu nem sei mais se gosto dele...

- Você que sabe. Eu vou dormir, Su. Boa noite. Cuidado aí.

- Obrigada por tudo, Cris. Eu amo você!

E fim da ligação. Sem respostas pra quase nenhuma das perguntas feitas. Susana quis deitar e se encolher entre os cobertores, mas sabia que deveria levantar senão não comeria nada e nem cumpriria o objetivo daquela palhaçada: conhecer profundamente o imbecil gostosão que certamente nunca trocou aqueles lençóis.

Na sala, Werá colocava o telefone de volta no gancho. Pela extensão telefônica da sala, tinha ouvido a conversa toda. Aquilo era ruim. Cris era sua aliada antes do incêndio, mas agora ela estava mais próxima do branquelo emocionado. Levantou-se rapidamente, antes que Susana saísse do quarto, e começou a arrumar a bagunça do cômodo.

It's (NOT) A Love SongWhere stories live. Discover now