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30 de dezembro de 2013

Virgínia Beach, Virgínia – Estados Unidos

Jack desconhece qual botão deve pressionar, qual alavanca deve mover para baixo, de modo a interromper a corrente continua e acelerada de pensamentos que inunda seu cérebro. As imagens, uma mistura de fragmentos do passado com possibilidades futuras — cada uma um pouco mais aterrorizando do que a outra, fomentadas por um tempo crescente sem resposta — são como uma avalanche, uma força da natureza que nenhum homem poderia controlar ou prever adequadamente. Já soterraram uma porcentagem da sanidade dele, da lógica e da estabilidade. A cada segundo em que aquele silêncio se mantém, preenchido pela falta de informação, conseguem aterrar mais um pequeno trecho. Jack compreende que pode ser um processo irreversível; talvez o tempo sem luz e oxigênio seja tamanho que termine em morte por sufocamento — lenta, dolorosa e, de certo modo, evitável. A cada centímetro percorrido pela neve em uma calmaria arrastada apenas porque esse é o melhor modo de intensificar o desgaste doloroso do processo, há um rastro de destruição, grande o bastante para que Jack apenas se sinta mais e mais perdido, mais e mais assustado, mais e mais cheio de medo porque não sabe se há como limpar a bagunça e reordenar a desordem de modo a gerar um mínimo de sentido.

A sensação de sufoco que ele sente em uma forma mais física, com a crescente dificuldade para puxar e expulsar o ar, é só um extravasamento de tudo que se passa em sua cabeça, protegido e escondido por ossos, de modo que ninguém além dele próprio tem acesso. Parece que há algo em sua garganta, travando o ar, a saliva, e bloqueando, cada vez mais, a coerência enquanto força as cartilagens da traqueia. Nenhum gole de água — e, focado na própria busca, Jack não destinou muito tempo ou atenção para as necessidades pessoais e básicas de modo que, até o momento, ele nem terminou a garrafa de 500 mL empurrada por Kelly — conseguiu atenuar a sensação. Se pensar bem, talvez tenha apenas acentuado, como se a trava pudesse absorver o líquido e se inchar com ele. Seu coração doí quando bate. Doí de verdade e, sob outras circunstâncias, ele temeria estar tendo algum problema cardíaco. No momento, atribui a causa ao pânico que cresce e que o desestabiliza de um modo como ele não se lembra de ter sido desestabilizado. O que quer que seja, não é grave o bastante para que ele interrompa a atividade atual. Jack acha — e essa pode ser uma metáfora romântica para descrever as reações que seu corpo finalmente começa a esboçar em razão do choque e do impacto — que seu coração, como se precisasse bombear mais sangue, atender a uma demanda maior, inchou no interior do peito. O problema é que o espaço não lhe cabe e, a cada batida, das mais lentas as mais aceleradas, ele pressiona os pulmões, o diafragma e as costelas. Consegue, de algum modo, afetar até o estômago, fazendo que a náusea seja uma sensação constante e apenas desmotive Jack a fazer uma pausa para se alimentar. Faz horas que ele não come e, no momento, a ideia é ultrajante; ao mesmo tempo em que sente que não precisa fazê-lo, porque pode aguentar o impacto, parece um desperdício.

Desperdício de quê? Jack já não e nem mais capaz de pensar em uma resposta coerente. De tempo? De recurso? De informação? A esta altura do dia, com o vento mais morno da tarde, as nuvens bem acumuladas no céu, cobrindo o sol com uma ameaça de tempestade, e um resto de adrenalina que é insuficiente para manter o foco e evitar o desvio para as sensações projetadas pelo desespero, Jack acha que não tem mais nada. A lista com nome de locais pode estar encaixa no bolso do casaco de George, mas Jack sabe que todos os nomes nela já foram riscados. Isso significa que a porcentagem de hospitais que cabia a eles já foi verificada. Mesmo que não tenham sido incluídos naquela lista, algumas delegacias também foram pontos de paradas e, como as emergências, não trouxe qualquer resposta, nem mesmo uma sinalização minimamente satisfatória. Jack também sabe que Kelly e Bonny, com menos nomes na própria lista, já estão voltando para a casa de Angie. A experiência entre aquelas duplas pode ter sido diferente, mas, até o momento, a conclusão é igualmente frustrante. É pior do que ter se mantido no mesmo local; eles regrediram. Agora, enquanto há a incerteza pela falta de informações, o desgaste causado por isso, há também um medo crescente causado pela percepção de que tanto silêncio não pode sinalizar algo de bom. Jack não quer pensar ou dizer as palavras porque tem medo delas. Está cheio de medo de um punhado de letras que poderiam ser reordenadas e reconstruídas de modo a alterar o significado. Jack até pode fazê-lo. O problema é que alterar o sentido não alteraria a realidade dele; de um modo ou de outro, qualquer que fosse a semântica desenvolvida para tornar o momento menos sufocante, não modificaria o fato de que Jack não sabe para onde guiar a seguir.

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⏰ Son güncelleme: Jul 13, 2022 ⏰

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