Capítulo 06

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Enquanto esperamos nossos pedidos observo Nicoletta. Seus olhos me encantam, eles dizem mais do que ela diz. Seus gestos me mostram que além de incomodo pela a situação tem curiosidade e medo até. 

— Vai ficar me olhando até quando? — Sua pergunta é rápida e direta. 

— Você tem medo de mim? — Ela franze a testa como se não entendesse minha pergunta. 

— E quem não teria? 

— Eu não importo com o "quem", me importo com você. Você tem medo de mim ? — Seus olhos perdem o contato com os meus e ela parece pensar sobre isso. Seus olhos acompanha minha mão até o ajeitar do óculos.

— Eu deveria. Mas não tenho. — Acho que está sendo sincera então eu apenas concordo. — Como meu pai salvou sua vida? — Não tinha pergunta mais fácil? Passo a mão no cabelo e posso sentir a cicatriz no final da nuca.

— Eu tinha uns 22 anos na época e ainda era soldado, mas descobriram que eu era filho do Capo então me encurralaram na saída da faculdade, perseguição, saímos da cidade e chegamos até uma linha de trem, eu acelerei e acertaram o pneu e depois o outro. — Seus olhos não saíram dos meus em nenhum momento, acho que ela está pensando se corre ou fica pra ouvir toda a história. — O carro parou no meio do trilho, se eu saísse do carro iria morrer e se eu ficasse também morreria. Não tinha escapatória. Então eu corri e sabia que eles estavam atrás de mim e podia ouvir seus gritos e risadas atrás de mim. Eu estava cansado e tentava me esconder mas não tinha jeito, então eu decidi que se eu fosse morrer, iria morrer na mão da natureza e não de inimigos. Afinal um Constallo não morre para rival. — Dou de ombros, meu pai sempre me disse isso e eu não queria decepcionar. — Tinha uma queda d'agua muito alta ali perto e então eu reuni o pouco de força que tinha e corri até lá e me joguei. Seu pai me achou boiando ensanguentado por que bati a cabeça numa pedra e ele me socorreu e mentiu por mim no hospital e fico lá até que eu estivesse bem. Ele viu o que tinha acontecido e ele também já conhecia a história da minha família e mesmo assim me ajudou. Eu tentei pagar a ele, mas ele recusou. Então eu disse que se ele precisasse de mim, ele teria um favor. 

 — Eu lembro do meu pai chegar em casa com a roupa suja de sangue, ele não me disse o que tinha acontecido. Mas ele disse que tinha ajudado um amigo. 

— Todos os anos eu volto aquela queda d'agua eu renasci ali e graças ao Enrico. — Ela morde o lábio e suspira. 

— E os caras que estavam atrás de você?— Sua pergunta direta me faz rir. Ela sabe a reposta mas quer ouvir de mim. 

— Mortos. 

— Você? 

— Sim.

— Como você pode falar tão normal sobre isso. — Consigo notar sua indignação em sua voz.

— Querida, eu trabalho na máfia. Mas não vivo ela, nem todo mundo trabalha com o que quer ou da forma que quer. Eu nasci dentro e vou morrer dentro. — Essa é a primeira vez que deixo claro minha visão para alguém. É claro que todo mundo sabe que eu não gosto e não faço questão alguma de esconder, mas sou bom no que faço. 

— Você é o chefe, porque não muda então? — Respiro fundo e penso em mil formas de acabar com o assunto. 

— Você não entenderia. — Ela iria rebater quando mudo o assunto drasticamente. — Nicoletta eu sei que você não quer se casar com a máfia, então te proponho a casar comigo. Giacomo Constallo o homem. Pense nisso e no seu bem acima de tudo. Prometi ao seu pai que iria cuidar de você e não volto atrás da minha palavra. 

Um Mafioso DiferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora