Capitulo II _ o desconhecido

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  Um aroma gostoso percorria todo o cômodo, oque de fato me dera fome,  os móveis eram todos antigos, daqueles que víamos nas casas de nossos avós quando visitavamos, tudo de madeira polida, e que  estava sobre o domínio da poeira e das teias de aranha que davam um ar de antiguidade.

  — deve estar faminta querida - a velha estendia um sorriso largo, que se não  fosse por sua atitude boa, soaria assustador e olhou nos meus olhos, imóvel.
 
   Ela me estendeu uma sopa, com alguns cubos de carne, o cheiro era ótimo, nada como uma boa sopa em um tempinho frio,  peguei e levei a boca o gosto era melhor ainda.

— obrigado - agradeci enquanto comia o mais rápido possível para sair dali e chegar a tempo na escola.
  
  Jasper me olhava ainda perplexo, o que eu teria de tão  atraente ao ponto de um garoto não  tirar os olhos de mim? Ele me assustava as vezes, era estranho o fato de ele não  possuir expressão nenhuma  estava sempre com uma feição vazia, difícil de se compreender como estava se sentindo, a senhora o corrigia  o tempo inteiro.

Do outro lado da mesa de jantar, uma lareira velha  feita com pedras de calcário  bem velhas ao julgar pela aparência, queimava dando uma luminosidade meio fraca ao ambiente,  por cima um caldeirão de sopa fervendo. Me aproximei afim de me aquecer e me secar,  o som da madeira queimando  ma trazia paz e tranquilidade, enquanto a tempestade caia lá fora.
 
  — pode passar a noite aqui, se quiser, amanhã Firmino te leva até o desvio setenta e cinco - a velha senhora se aproximou, e me dei conta de que já havia perdido um bom tempo ali.

— não  posso, preciso chegar a tempo pra minha formatura do ensino médio - eles  não  entenderiam, como eu esperei por isso.

— acho que você não  tem escolha mocinha - Firmino olhava pela velha janela de madeira, me aproximei da mesma, a ponte que eu havia atravessado ja não estava mais ali - veja, o riacho transbordou a ponte, terá que passar a noite aqui! - um trovão  ecoou no final de sua fala, eu não  podia, mas que outra escolha teria, já havia me conformado perderia a formatura.

Revirei os olhos, só o que me faltava,  a velha senhora  saiu e subiu as escadas que dava acesso ao segundo andar, por baixo da escada havia uma porta,  era meio estranha e velha, provavelmente porque  já tivesse sendo corroída por cupins.

— não  se preocupe querida, pode ficar o quanto quiser.-  Firmino era gentil, usava uma  espécie de boina na cabeça, e na boca um charuto extremamente grande.

— obrigada - eu disse sem muita animação  enquanto observava pela simples e pequena janela, a água correr riacho a baixo.

  Não muito tempo se passou, e a velha senhora estava de volta a sala de jantar, e me olhava carinhosamente, mas me incomodava muito, se tem algo que eu odiava era que pessoas ficassem me encarando, me dava vontade de mandar  a merda, não  que eu fosse mal educada, tá bem talvez eu fosse um pouquinho ignorante as vezes.

— jasper, leve a visita até o quarto.  — ela sinalizou para jasper que pelo amor de Deus ainda não  emitia expressão.

— sinta-se  em casa querida — ela estendeu um sorriso.

— mais uma vez muito obrigada — agradeci e segui jasper  para o segundo andar, mas ao pisar na escada notei um barulho estranho, que vinha do outro lado da porta que eu vira antes, que ficava logo a baixo, parei e a encarei por alguns segundos.

— essa é a porta do porão, você se assustou?— jasper se aproximou de mim, e agarrou meus ombros, em um passe rápido me lancei para trás.

— oh querida, peço-lhe  perdão  pela  indelicadeza de jasper, francamente não  sei mais oque fazer — ela lançou um olhar severo a jasper que baixou a cabeça em retribuição.

— tudo bem, eu que peço desculpas, nem sei por que me assustei.— dei de ombros ainda olhando  fixamente para aquela porta que por algum motivo chamou minha atenção.

— Quanto aos ruídos desnecessários são  causados pelas ratazanas que se abrigam  lá embaixo. — ela lançou o olhar dessa vez para Firmino — você não  havia cuidado  para que não  entrassem  Firmino? — ela novamente  possuía um tom severo que me fez estremecer, oque estava rolando ali ?

— devem ter aberto um buraco no velho telhado, vou ver se concerto  amanhã quando a tempestade  passar Gilda querida— Firmino seguiu rumo a porta e a adentrou descendo uma escada que logo o fez sumir de tão  escuro que estava do outro lado.

Chegamos no segundo andar, que não  mudara muito a não  ser pelo fato de que o ambiente agora era iluminado por algumas velas, existentes ali, eu o segui até a porta no fim do pequeno e estreito corredor, e antes de adentrar jasper pós as mãos delicadas dessa vez pelo menos, sobre meu ombro esquerdo.

— nós não  saímos do quarto a noite sobre nenhuma hipótese. — dessa vez ele sorriu, e pra falar a verdade eu preferia ele sem expressão mesmo, por que seu sorriso largo que ia de um canto ao outro do rosto me assustara, e muito.

   Adentrei o quarto, que possuía uma velha cama  de madeira, que certeza estava rodeada de cupins, do outro lado uma pequena e redonda janela liberava a entrada dos clarões que eram emitidos pela tempestade,  uma velha cadeira sem pé estava abandonada próxima a uma mesa velha com alguns livros antigos e empoeirados, como eu havia aceitado dormir ali eu não  sabia, porém eu precisava.

—obrigado jas..... peer.— para minha surpresa jasper já havia sumido, e não  estava no corredor, que estranho, voltei minha atenção  para a cama, foi quando me dei conta de que cupins não  haviam, mas um pouco  pior, estremeci com as enormes baratas que só demonstravam o quão  medrosa eu era.

Me aproximei  lentamente e na ponta dos dedos  puxei um dos travesseiros manchados, acho que eles também não  conheciam água só poderia ser esse o motivo para tanta imundície.

Eu só queria que a noite passasse logo, apoiei o travesseiro contra a parede e me encolhi sobre o pequeno tapete de veludo, que eu havia verificado claro, para que não  tivessem baratas também, ou pior aranhas peludas e nojentas, demorei mas aos poucos fui saindo de mim e me peguei entrando no meu mundinho da qual eu não  queria sair, o doce e prazeroso, sono.

ROTA 55 (CONTO)Where stories live. Discover now