capítulo V _ Colisão

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Um estrondo e um clarão me despertam rapidamente, e eu me jogo contra o banco do carona, Margô me olha com expressão de surpresa, já estava acordada, me espantei como que até agora ela não havia dormido?

—até agora sem dormir? - pergunto olhando a chuva cair do lado de fora.

— se você consegue dormir, depois de ser capturada por psicopatas canibais, e motoristas assediadores, meus parabéns, você merece um prêmio.- ela solta um leve sorriso sarcástico, disfarçando o medo que a corroía por dentro, que estava estampado em seu olhar.

— é literalmente eu dormi - eu sorri, enquanto minha mão doía com as várias feridas, de antes ter socado o vidro - sou a miss calmaria agora. - brinquei, e fui desenhando no vidro embaçado de Judite, essa chuva não passava nunca, e a noite parecia ser uma semana de tão longa.

— será que vão acreditar na gente? - ela me olha perplexa e eu prossigo com a fala - digo, porque canibais é meio viajado né, dificil de acreditar, não acha ? - ela revira os olhos.

— talvez, mas a gente sabe que aconteceu, e sabe que se não contarmos, as pessoas nunca vão saber. - ela se vira para mim, e pega em minhas mãos, não sei quando nos tornamos tão íntimas assim.

— verdade, um desvio fechado cenário perfeito para maníacos sociopatas, eles atraem as vítimas, e por ser uma região deserta, não tem como pedir ajudas.- ela me olha com espanto.

— me desculpa, o que disse ? - ela provavelmente não estava prestando atenção na conversa.

— que por ser uma região... - ela me interrompe.

— não, você disse, desvio fechado ? - como assim ela não sabia disso, só poderia ser de outra cidade ou sei lá oque.

— é, essa rota foi fechada a uns dois anos já, construíram um novo desvio, porém o trânsito lá é absurdo, por isso peguei esse caminho que além de mais rápido não tem movimento. - ela ainda me olhava confusa, e era eu quem já não estava entendendo mais nada - mas espera, praticamente todos na cidade sabem disso! - finalizei.

— eu não sabia, meu marido é eu pegamos essa estrada sempre que vamos trabalhar, nunca ouvi falar sobre outro desvio - como assim? Era impossível não conhecer o outro desvio a não ser que seja turista, mas tudo bem algumas pessoas ainda usam esse trecho de estrada rural.

— ta legal - concordei, e voltei a olhar para frente com o delicado tom da chuva que foi aumentando gradativamente — você e seu marido trabalham em que mesmo? - questionei.

— trabalhamos na fábrica Corp Roups- eu já ouvi a respeito  dessa fábrica.

—  que maneiro, quem sabe depois disso tudo, você descole uma roupa maneira pra mim em ? - brinquei, ela assentiu com a cabeça e sorriu.

—  é quem sabe né?- ela sorriu e apoiou a cabeça sobre a janela trincada de Judite.

Olhei para ela, e a mesma olhou para mim, começamos  a ter uma crise de gargalhadas não  era coisa pra rir, mas  estávamos presas em um fusca, no meio do nada, com um caminhoneiro  bastardo por aí, após  termos sobrevivido a canibais porcos e nojentos, é de tanto lugares para se estar, estávamos ali na total e única merda.

Uma luz  seguida de um  barulho de carro surgiu pela frente, e ficamos aliviadas. Ao levantarmos o rosto, Margô  gritou e acenou para mim que fui de encontro ao banco abaixando a cabeça quando Margô  se apavorou. E gritou.

—  É  ELE OUTRA VEZ, E VEM EM NOSSA DIREÇÃO ! - ela abaixa no banco enquanto nos preparamos para o impacto  que viria a seguir, e a última  coisa que enxergo é o clarão  do farol se chocando contra a gente e o triste barulho da lataria e dos vidros de Judite sendo esmagados sem piedade.

  Minha audição  some e escuto um alto grunhido no ouvido, abro rapidamente  os olhos com a visão  turva e embaçada, e percebo luzes ao redor de Judite, eu sinto minhas forças indo embora.

Sinto uma luz forte sobre meus olhos, e os abro, me deparando com uma sala vazia com cheiro de creme para espinhas, sobre um colchão  azul e um lençol ciano, com alguns aparelhos do lado, olho em volta, e vejo uma pequena cômoda de lata, e percebo que estou em uma sala de hospital.

Eu tiro os vários fios ligados a mim, e me preparo para me por de pé, quando a porta da sala se abre e entra uma moça  um  pouco mais velha que eu, de vestido também ciano, e um sobretudo branco, combinando com o chapéu que possuía uma pequena cruz vermelha no meio, era a enfermeira.

— Ah você acordou - ela solta um sorriso delicado e bondoso.

— o que aconteceu? O que estou fazendo aqui? - levei a mão  a cabeça que doía muito,  eu me lembrava de pouca coisa, mas aos poucos tudo ia voltando ao devido lugar.

— você sofreu um acidente, uma árvore caiu sobre seu carro, enquanto você dirigia, a tempestade  estava muito forte.- ela se aproxima, me deitando novamente  na macia e aconchegante  cama.

— árvore? - Eu tentava me lembrar, até que tudo ficou claro —  eu fui atacada por um  caminhoneiro  ele jogou o caminhão  contra meu carro! Não  teve nenhuma árvore. - prossegui com a cabeça ainda doendo muito.

— senhorita, a senhorita  estava em um trecho de estrada que há muito tempo está fechado, nenhum caminhão  contorna por aquele caminho ha uns dois anos. - não  eu não  tinha sonhado, e também não  estava ficando louca.

— mas, estava eu e... Margô cadê ela ? - ela me olha espantada.

— desculpa, quem é Margô? - ela me lança um olhar de surpresa.

— a moça que estava comigo, ela está bem ? - ela me olhou ainda mais surpresa que antes.

— perdão  senhorita, mais de acordo com o  que sei, você estava sozinha quando  encontrada.-  não  pode ser, eu não  estava ficando louca, coitada e se deixaram Margô  lá? Ou pior se o caminhoneiro  tiver sequestrado ela.

— não, eu preciso ver a Margô, ela estava comigo, você tem que procurar, ela deve estar aqui, tem que estar aqui. - eu me levanto novamente e ela se põe frente a cama.

— senhorita tem que se acalmar, talvez seja efeito dos medicamentos, eles podem causar alucinações   como  sonhos ou  pesadelos por exemplo.- eu me debatia, sabia que Margô  estava em perigo.

— que droga, eu preciso ajudar, ela está em perigo, vocês não  entendem, MARGOOOÔ?- a enfermeira  pegou um telefone que estava sobre a cômoda.

— doutor, compareça a sala 52, a paciente está alterada, e também  fora de si -  ela botou o telefone outra vez no gancho.

—  eu não  estou fora de si karalhoo, minha amiga está em perigo, eu preciso sair daqui.- o doutor empurra a porta e chega na sala com  uns dois homens, e uma seringa na  mão.

—  segurem ela - ele ordena enquanto avança com a seringa em minha direção - é só um sedativo  você vai ficar bem. Ele finalizou enquanto fincou a a seringa em meu braço.

— não, não  Margooô.- eu me senti fraca enquanto minha visão  foi bambeando  até me dar um forte sono e eu me entregar a ele.

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   Acordei novamente e ao julgar pelos raios solares já havia amanhecido,  eu recebi alta, e segui em direção  a recepção  do hospital.

— com licença, estou procurando minha amiga, ela deve ter sido atendida  aqui.- me apoiei no balcão, enquanto a a senhora de pele escura e sorriso bem destacado em branco me olhou.

— só um minuto, nome ? - eu não  sabia o nome completo dela mas acredito que não  haviam muitas Margôs na cidade.

— é Margô .- eu falei tremendo.

—  sobrenome? - eu dei um sorriso sem graça.

— é que eu não  lembro o sobrenome  dela sabe.

— ok, vou procurar, só um instante, - ela  teclou  no computador algumas vezes e prosseguiu sem olhar pra mim.

— sinto muito senhorita, mais meus arquivos indicam que nunca tivemos uma margô medicada  aqui antes. - meu coração  parou, agradeci e em seguida me joguei no banco de espera, onde outra das minhas crises de ansiedade estáva prestes a iniciar.

ROTA 55 (CONTO)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ