Um estrondo e um clarão me despertam rapidamente, e eu me jogo contra o banco do carona, Margô me olha com expressão de surpresa, já estava acordada, me espantei como que até agora ela não havia dormido?
—até agora sem dormir? - pergunto olhando a chuva cair do lado de fora.
— se você consegue dormir, depois de ser capturada por psicopatas canibais, e motoristas assediadores, meus parabéns, você merece um prêmio.- ela solta um leve sorriso sarcástico, disfarçando o medo que a corroía por dentro, que estava estampado em seu olhar.
— é literalmente eu dormi - eu sorri, enquanto minha mão doía com as várias feridas, de antes ter socado o vidro - sou a miss calmaria agora. - brinquei, e fui desenhando no vidro embaçado de Judite, essa chuva não passava nunca, e a noite parecia ser uma semana de tão longa.
— será que vão acreditar na gente? - ela me olha perplexa e eu prossigo com a fala - digo, porque canibais é meio viajado né, dificil de acreditar, não acha ? - ela revira os olhos.
— talvez, mas a gente sabe que aconteceu, e sabe que se não contarmos, as pessoas nunca vão saber. - ela se vira para mim, e pega em minhas mãos, não sei quando nos tornamos tão íntimas assim.
— verdade, um desvio fechado cenário perfeito para maníacos sociopatas, eles atraem as vítimas, e por ser uma região deserta, não tem como pedir ajudas.- ela me olha com espanto.
— me desculpa, o que disse ? - ela provavelmente não estava prestando atenção na conversa.
— que por ser uma região... - ela me interrompe.
— não, você disse, desvio fechado ? - como assim ela não sabia disso, só poderia ser de outra cidade ou sei lá oque.
— é, essa rota foi fechada a uns dois anos já, construíram um novo desvio, porém o trânsito lá é absurdo, por isso peguei esse caminho que além de mais rápido não tem movimento. - ela ainda me olhava confusa, e era eu quem já não estava entendendo mais nada - mas espera, praticamente todos na cidade sabem disso! - finalizei.
— eu não sabia, meu marido é eu pegamos essa estrada sempre que vamos trabalhar, nunca ouvi falar sobre outro desvio - como assim? Era impossível não conhecer o outro desvio a não ser que seja turista, mas tudo bem algumas pessoas ainda usam esse trecho de estrada rural.
— ta legal - concordei, e voltei a olhar para frente com o delicado tom da chuva que foi aumentando gradativamente — você e seu marido trabalham em que mesmo? - questionei.
— trabalhamos na fábrica Corp Roups- eu já ouvi a respeito dessa fábrica.
— que maneiro, quem sabe depois disso tudo, você descole uma roupa maneira pra mim em ? - brinquei, ela assentiu com a cabeça e sorriu.
— é quem sabe né?- ela sorriu e apoiou a cabeça sobre a janela trincada de Judite.
Olhei para ela, e a mesma olhou para mim, começamos a ter uma crise de gargalhadas não era coisa pra rir, mas estávamos presas em um fusca, no meio do nada, com um caminhoneiro bastardo por aí, após termos sobrevivido a canibais porcos e nojentos, é de tanto lugares para se estar, estávamos ali na total e única merda.
Uma luz seguida de um barulho de carro surgiu pela frente, e ficamos aliviadas. Ao levantarmos o rosto, Margô gritou e acenou para mim que fui de encontro ao banco abaixando a cabeça quando Margô se apavorou. E gritou.
— É ELE OUTRA VEZ, E VEM EM NOSSA DIREÇÃO ! - ela abaixa no banco enquanto nos preparamos para o impacto que viria a seguir, e a última coisa que enxergo é o clarão do farol se chocando contra a gente e o triste barulho da lataria e dos vidros de Judite sendo esmagados sem piedade.
Minha audição some e escuto um alto grunhido no ouvido, abro rapidamente os olhos com a visão turva e embaçada, e percebo luzes ao redor de Judite, eu sinto minhas forças indo embora.
Sinto uma luz forte sobre meus olhos, e os abro, me deparando com uma sala vazia com cheiro de creme para espinhas, sobre um colchão azul e um lençol ciano, com alguns aparelhos do lado, olho em volta, e vejo uma pequena cômoda de lata, e percebo que estou em uma sala de hospital.
Eu tiro os vários fios ligados a mim, e me preparo para me por de pé, quando a porta da sala se abre e entra uma moça um pouco mais velha que eu, de vestido também ciano, e um sobretudo branco, combinando com o chapéu que possuía uma pequena cruz vermelha no meio, era a enfermeira.
— Ah você acordou - ela solta um sorriso delicado e bondoso.
— o que aconteceu? O que estou fazendo aqui? - levei a mão a cabeça que doía muito, eu me lembrava de pouca coisa, mas aos poucos tudo ia voltando ao devido lugar.
— você sofreu um acidente, uma árvore caiu sobre seu carro, enquanto você dirigia, a tempestade estava muito forte.- ela se aproxima, me deitando novamente na macia e aconchegante cama.
— árvore? - Eu tentava me lembrar, até que tudo ficou claro — eu fui atacada por um caminhoneiro ele jogou o caminhão contra meu carro! Não teve nenhuma árvore. - prossegui com a cabeça ainda doendo muito.
— senhorita, a senhorita estava em um trecho de estrada que há muito tempo está fechado, nenhum caminhão contorna por aquele caminho ha uns dois anos. - não eu não tinha sonhado, e também não estava ficando louca.
— mas, estava eu e... Margô cadê ela ? - ela me olha espantada.
— desculpa, quem é Margô? - ela me lança um olhar de surpresa.
— a moça que estava comigo, ela está bem ? - ela me olhou ainda mais surpresa que antes.
— perdão senhorita, mais de acordo com o que sei, você estava sozinha quando encontrada.- não pode ser, eu não estava ficando louca, coitada e se deixaram Margô lá? Ou pior se o caminhoneiro tiver sequestrado ela.
— não, eu preciso ver a Margô, ela estava comigo, você tem que procurar, ela deve estar aqui, tem que estar aqui. - eu me levanto novamente e ela se põe frente a cama.
— senhorita tem que se acalmar, talvez seja efeito dos medicamentos, eles podem causar alucinações como sonhos ou pesadelos por exemplo.- eu me debatia, sabia que Margô estava em perigo.
— que droga, eu preciso ajudar, ela está em perigo, vocês não entendem, MARGOOOÔ?- a enfermeira pegou um telefone que estava sobre a cômoda.
— doutor, compareça a sala 52, a paciente está alterada, e também fora de si - ela botou o telefone outra vez no gancho.
— eu não estou fora de si karalhoo, minha amiga está em perigo, eu preciso sair daqui.- o doutor empurra a porta e chega na sala com uns dois homens, e uma seringa na mão.
— segurem ela - ele ordena enquanto avança com a seringa em minha direção - é só um sedativo você vai ficar bem. Ele finalizou enquanto fincou a a seringa em meu braço.
— não, não Margooô.- eu me senti fraca enquanto minha visão foi bambeando até me dar um forte sono e eu me entregar a ele.
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Acordei novamente e ao julgar pelos raios solares já havia amanhecido, eu recebi alta, e segui em direção a recepção do hospital.
— com licença, estou procurando minha amiga, ela deve ter sido atendida aqui.- me apoiei no balcão, enquanto a a senhora de pele escura e sorriso bem destacado em branco me olhou.
— só um minuto, nome ? - eu não sabia o nome completo dela mas acredito que não haviam muitas Margôs na cidade.
— é Margô .- eu falei tremendo.
— sobrenome? - eu dei um sorriso sem graça.
— é que eu não lembro o sobrenome dela sabe.
— ok, vou procurar, só um instante, - ela teclou no computador algumas vezes e prosseguiu sem olhar pra mim.
— sinto muito senhorita, mais meus arquivos indicam que nunca tivemos uma margô medicada aqui antes. - meu coração parou, agradeci e em seguida me joguei no banco de espera, onde outra das minhas crises de ansiedade estáva prestes a iniciar.
BẠN ĐANG ĐỌC
ROTA 55 (CONTO)
Truyện NgắnNa noite de sua formatura, Jade se vê atrasada, em um atalho rural numa noite de tempestade, seu destino muda drasticamente, quando a mesma percebe que Judite seu velho fusca enferrujado para de funcionar no meio do nada, a tensão só aumenta co...