Capítulo 54 - Lembre-se

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~Kieran

Acompanhar a minha irmã numa visitinha ao campus foi uma excelente ideia para sair mais cedo do colégio hoje. A convenci a ligar e pedir para me liberarem, já que o diretor me odeia e não faz questão de esconder isso em hipótese alguma. Acho até que foi um prazer se livrar de mim mais cedo, e por isso não houve burocracia alguma.
A Ash está muito contente. Faz um tempão que não a vejo assim, e eu não poderia perder esses momentos de jeito nenhum. A sua alegria me contagia também, depois de tudo o que passamos.

O caminho não é muito longo. Por volta de meia hora, e é tudo muito tranquilo. Acho que foi por isso que decidiu não se mudar para o campus ou para mais perto, mas se fossemos, eu entenderia. O seu carro velho dá conta, o rádio até voltou a funcionar, e nesse exato momento ela canta uma música da Taylor Swift junto com a própria. Bom... eu acho que a minha irmã seria processada se a cantora ouvisse essa versão desafinada, mas o que importa é que ela está contente.

-Eu não sabia que a viagem incluía uma sessão de tortura, poderia ter avisado antes.-Comento, jogando uma lata vazia de energético pela janela.

-Se a faculdade não der certo, esse vai ser o meu plano B.-Diz, logo em seguida cantando ainda mais alto o refrão de Blank Space. Ela odeia essa música.

Abaixo o volume do rádio pelo bem dos meus ouvidos. Acabamos de passar pela guarita no portão. Ela mostra a sua carteirinha toda contente para ter a entrada liberada, o que me faz sorrir também. Esse era o seu grande sonho. A chance de ser alguém um dia. Eu mataria qualquer um que ousasse pensar em tirar isso dela.

-Meu Deus... esse lugar me dá aflição.-Olho ao redor, ainda dentro do carro. Um lugar tão aberto, mas ao mesmo tempo tão fechado. Tão grande, mas também tão limitado. Grandes casas, e um pouco mais longe, avisto com uma certa dificuldade, um grande prédio de cor marrom escuro. Logo percebo que aquele é um de vários.

-Você não consegue ficar uma hora na sala de aula do colégio sem reclamar ou fugir...-Diz, estacionando numa vaga próxima ao primeiro prédio, é muito provável que seja lá as coisas que tem para resolver o mais rápido possível que não parou de falar hoje cedo.

Ela tem razão. Faz um tempo que não consigo me concentrar muito bem nas aulas... os meus pensamentos sempre estão bem longe do que eu deveria estar aprendendo. E depois da cocaína, a coisa só piorou. Mesmo que faça um bom tempo que não chego nem perto de um pouco de pó, ainda posso sentir as consequências do prazer momentâneo. São terríveis.

-Eu não demoro, tá bom? me espera aí um pouquinho.-Tira o cinto de segurança e abre a porta para descer, segurando, em uma só não, um monte de papéis, o seu celular, seus documentos, um molho e chaves e um gloss labial. Uma habilidade que só ela tem.-Pode chamar o Nick para jantar mais tarde se quiser.

-Sim, senhora.-Digo.

Depois de recomendar que eu me comporte, vai correndo até a entrada do prédio. É, eu acho que tenho um bom tempo sozinho pela frente, já que para a Ash, o tempo passa mais rápido do que para pessoas normais. Se ela diz que vai demorar vinte minutinhos, demora três horas, sempre foi assim. Mas pra mim, não tem problema nenhum, o mínimo que posso fazer por ela é esperar.
Mexo no rádio, parece que todas as estações tocam as mesmas músicas, umas piores do que as outras. O som desse bendito carro do ano de 1997 não conhece uma certa tecnologia chamada bluetooth, então a coisa fica um pouco mais complicada.
Com o passar de cinco minutos, eu já fico entediado. Abro a porta e saio para, pelo menos, tomar um ar, e talvez fumar um cigarro, por mais que eu tenha prometido para o Nick que vou tentar parar. Ele não está aqui para ver e implicar comigo.
Me encosto no capô do carro.

Observo alguns grupos de pessoas que acabam de passar, me dando conta de que esses grupinhos de universidade não existem somente em comerciais de TV. Começo a achá-los patéticos... de repente. Mas não tenho motivos para isso, afinal, só estão cuidando de garantir um futuro um dia, como eu também devo fazer dentro de poucos meses.
Esse pensamento me faz respirar fundo.
Eu não tenho certeza de que isso é o que quero, pois também não tenho certeza se tenho capacidade de fazer isso. Se o colégio já está sendo um grande desafio para mim, imagina uma responsabilidade ainda maior?!. Sou totalmente sincero quando digo que esse já foi o meu grande sonho um dia... hoje, não me sinto mais tão capaz.

Eu Te Odeio!Where stories live. Discover now