Confusos.

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Vegas:

Tudo foi meio caótico depois que Denver nos interrompeu. Mas felizmente, meu pai não percebeu o clima estranho. Apenas comemorou minha presença do jeito único dele: uma aperto de mão firme e um tapinha em minhas costas.

Minha presença na casa depois de tanto tempo não era nada se comparado a emoção do meu velho em conhecer o namorado de Denver.

Meu pai não era um homem ruim. Longe disso. Sempre nos ensinou os princípios básicos para ser uma boa pessoa. E isso incluía respeito.

Mas ainda havia arraigado nele aquela homofobia que foi incutido na sua criação e intensificada pela sociedade.

Entendo até certo ponto que para um homem das antigas como ele ainda se sentisse reservado quanto ao amor entre pessoas do mesmo sexo. E meu respeito pelo velho apenas aumentava, pois apesar disso tudo, ele tratava Denver da mesma forma de sempre. Frio.

Mas não entendam isso como algo ruim. Muito pelo contrário. Isso demonstrava que apesar de não ser a favor, ele não iria se intrometer na vida de Denver.

Essa frieza era natural dele.

Por isso, Denver se sentia a vontade de trazer um cara em casa, mesmo com um homem um tanto quanto diferente como nosso pai. Por que ele sabia que o velho jamais trataria ninguém mal, se isso fosse causar tristeza em nós dois.

Mas isso não se estendia a Pete.

Eles nunca se deram bem. E isso nunca foi segredo. Os dois discutiam sobre tudo. Política, esportes, cultura... Tudo era motivo para entrarem em conflito desde que Pete pisou em nossa casa pela primeira vez. Era engraçado que um cara frio, que não dava importâncias a quase nada como meu pai, se sentisse irritado por um cara como Pete. Denver dizia que era por que no fundo, os dois tinhas personalidades parecidas. Coisa que na minha opinião era uma loucura.

Me recordo de ainda adolescente, meu pai dizer exatamente essas palavras:

— Fique longe dele. Esse menino tem umas ideias malucas sobre tudo. Aposto que já fez a cabeça do seu irmão. Não deixe ele fazer o mesmo com você.

Não que essas palavras fossem responsáveis por eu ter criado alguma distância de Pete desde sempre. Não foi isso...

Mas aconteceu naturalmente.

Talvez o fato de minha personalidade ser mais parecida com a do meu pai tenha feito Pete criar uma antipatia por mim. Mas enfim, o fato era que nunca fomos com a cara um do outro.

E agora vejo ele se despedir de todos nós, com um sorriso forçado para Denver e Son e um frio "Boa noite" para meu pai, que o responde com um resmungo rouco, sentado no sofá da sala assistindo um jornal de tv.

E para mim, nada.

Tudo bem. Nunca fomos educados um com o outro mesmo, mas depois do que houve em meu quarto, ele realmente iria me ignorar como antes?

— Já volto. - digo, o seguindo porta afora.

Ele está andando rapidamente até seu próprio carro, mas assim que ele abre a porta do veículo eu o alcanço.

— Mas que merda!?... O que você quer? - ele pergunta se virando ao sentir minha mão em seu braço.

— O que eu quero? - sorrio, nervoso. - Nós precisamos conversar...

— Não. Não precisamos. - e ele puxa seu braço se livrando de mim. - Não quero falar sobre o que aconteceu. É melhor esquecermos.

— Pete...

— Vegas, você é hetero. - ele me empurra. Seu olhar raivoso me deixa apreensivo. - Você nem mesmo gosta de mim. Então, o que aconteceu foi algo que não devemos levar a sério.

INSACIÁVEIS Where stories live. Discover now