New Perspectives

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A manhã seguinte foi recheada de beijos calorosos, cócegas e muitas risadas. Jamie era uma companhia infinitamente alegre, me chamando a cada momento para me mostrar algo novo pela cidade.

Passamos o dia em uma excursão pela Ilha Skye e fizemos um belo piquenique em uma das colinas.

Sentada na toalha xadrez me deliciando com pedaços de queijo e a vista, ouvi um sussurro baixinho em gaélico.

- Tapadh le Dia airson do chruthachadh - disse Jamie, seu olhar ao longe observando tudo ao nosso redor.

- Gaélico é uma língua muito antiga - falei, tocando seu antebraço. - Não consigo decifrar nada do que diz, mas acho lindo o som das palavras, reconfortante.

Olhei para o sol alaranjado do fim de tarde e respirei a brisa fresca do ar limpo da Escócia.

- É um belo dia Sassenach, estou muito grato por estar aqui com você. Acabei de agradecer ao Senhor pela criação, foi isso que disse em gaélico - explicou ele, arrancando uma pequena folha de grama do chão.

Eu já havia percebido que Jamie possuía uma grande afeição por Deus, apesar de não termos falado diretamente sobre o assunto. Por alguns itens e objetos na mansão, identifiquei que a família Graham é de formação católica e creio que os Fraser também.

Nunca participei ativamente de nenhuma religião, apesar de meus pais também serem católicos e de terem me batizado quando bebê. A ideia de ter um Deus poderoso olhando para todos menos para mim me incomodou muito durante meu crescimento. Me senti abandonada por Ele após perder os que amava, por isso apenas ignorei tudo a seu respeito.

Mas estaria mentindo se não dissesse que sua existência ficou aparentemente mais clara para mim nos últimos dias. Com tudo o que aconteceu comigo, não pude deixar de pensar que Ele parecia estar intervindo ao meu favor.

- É sim um belo dia Jamie, me sinto plenamente em paz... e grata - respondi.

Pegar a estrada a noite foi a única opção que encontramos para aproveitar melhor nosso tempo durante o dia e retornar a mansão pela manhã.

Enquanto sentia o vento em meus cabelos e observava a vasta imensidão verde passando com o movimento do carro, senti um grande aperto em meu peito ao me lembrar de minha vida tão diferente e não tão distante em Londres.

Jamie sempre perspicaz, notou minha mudança e estendeu a mão para me tocar enquanto dirigia, confortando-me.

- Está tudo bem Sassenach? - perguntou apreensivo, enquanto alternava seu olhar entre mim e a estrada.

- Na verdade não sei - suspirei, aflita. - Não consigo encontrar uma resposta para um grande questionamento que vem me perturbando desde a noite de sexta-feira.

Sem nenhum som além do motor do carro e do vento lá fora, eu tinha plena consciência de que Jamie estava sentindo o mesmo que eu, uma espécie de medo ao pensar em uma possibilidade de separação, mesmo que temporariamente.

- Sei que tem uma vida além daqui Claire, uma casa e que tem uma profissão na qual esforçou-se muito. Mas pensar em perdê-la agora não me parece uma opção, e não estou errado em dizer que apesar de ter trabalhado em algo fora do que escolheu, pude vê-la muito mais animada e feliz nesses últimos dias, do que quando chegou aqui. - Inclinou sua cabeça em minha direção, com um olhar tranquilo.

Eu queria naquele momento, me deitar em seu colo e esquecer todo e qualquer problema que pudesse me atingir.

- Meu lado emocional me diz que renunciaria a tudo o que conquistei em Londres para continuar vivendo a felicidade que encontrei aqui. De qualquer forma eu já perdi meu emprego e não me sinto nenhum pouco arrependida disso. Mas não me parece certo simplesmente abandonar a minha profissão, sem nem pensar em alternativas onde eu possa aplicar meus conhecimentos.

Uma ruga surgiu em sua testa e Jamie entrou em uma rua fora da estrada, apenas para parar o carro e dedicar-se inteiramente a conversa.

- Confesso que pensei sobre isso Claire, eu farei de tudo para ajudá-la a se encontrar e ser feliz. A solução que temos agora é para curto prazo, pois você merece alinhar o seu esforço da faculdade e de sua vida profissional, com um novo caminho para o seu futuro.

Sua mente astuta me deixava surpresa, ele parecia saber de tudo e ler meus pensamentos.

- De qualquer forma eu farei de tudo para que seja feliz. Mas você não precisa decidir nada agora, eu a manterei bem, segura e alimentada se isso te preocupa. Os Graham jamais recursariam a sua presença e ficarão felizes em saber que finalmente encontrei a mulher que amo.

Beijou minha testa com carinho e afaguei ternamente seus cabelos.

- Podemos abrir um escritório de direito para você atender na região, se isso a fizer feliz. Mas também pensei em conversar com minha tia para ver se ela poderia te ajudar no seu novo interesse por plantas, ela sempre teve a intenção de investir mais nisso, pois muitas pessoas da região procuram suas recomendações medicinais para uso de ervas e recursos naturais. Uma alternativa ainda, seria você auxiliar Ned nas questões jurídicas relacionadas a adega, ele já vem me pedindo alguém de confiança para ficar com o cargo dele pois pretende se aposentar - sorriu calmamente antes de prosseguir - Enfim, nada vai lhe faltar Claire, você é minha prioridade agora. E as senhoras Fitz e Campbell te roubariam de mim, se pudessem.

Pressionei minha cabeça em seu ombro e ficamos em silencio por alguns instantes enquanto eu absorvia minhas opções.

- Obrigada Jamie - ele surpreso, sorriu e ergueu a cabeça para mim. - Obrigada por pensar em tudo isso e se preocupar em me ajudar mais ainda. Eu amo você e não pretendo deixá-lo. Eu seria muito antecipada se dissesse que pretendia me mudar definitivamente para a Escócia?

Sua delicadeza para comigo, em todas as suas atitudes me mostraram o companheirismo e uma promessa de cuidado partindo dele, a qual eu retribuía impetuosamente.

- Eu a amo Sassenach, não posso deixar que vá embora pois isso seria o mesmo que perder uma parte de mim. - Respirou longamente antes de continuar - Sei que tudo entre nós está sendo rápido, mas sei que estamos fazendo o certo. Já a considero seu bem estar como minha responsabilidade desde sua chegada aqui.

Inclinou-se para baixo e docemente uniu seus lábios aos meus. Seu beijo era diferente de tudo o que eu já havia provado, demonstrava uma segurança e uma promessa de uma força conhecida. Sou seu, dizia. E se você me quiser...

E eu queria - e minha boca se abriu sob a dele, aceitando sua promessa e fazendo-lhe a minha, de amá-lo incondicionalmente.

- Claire, isso é inexplicável - sussurrou ele - o que sinto quanto toco em você. A vontade de te-la... é sempre assim?

Não era, também nunca senti algo parecido.

- Não, é diferente para nós - respondi, colando minha testa na sua.

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Retornamos a estrada pois as horas passavam rapidamente e pretendíamos chegar à mansão antes do amanhecer. Paramos em posto de combustível para comprar algumas besteiras e seguimos fazendo brincadeiras e conversando alegremente.

Optei por deixar minhas reflexões de lado e aproveitar o final da viagem.

Minha nova realidade estava ali, simples e definitiva. O que havia entre nós era tudo o que eu poderia desejar para meu futuro. E apesar de ser um amor repentino, era inegavelmente concreto e sincero, puro e espontâneo. Eu soube no mesmo momento que percebi isso, que de uma forma ou de outra ficaríamos juntos, pois o que sentíamos um pelo outro já havia tomado proporções inimagináveis.

Algumas horas depois chegamos ao nosso destino, um pouco cansados, mas extremamente felizes pela presença do outro subimos para seu quarto. E enquanto o sol dava início a um novo dia lá fora, Jamie me puxava para junto dele, para novamente nos tornarmos um só.

Uma longa jornadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora