Dante e Beatriz

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Poema de Dante.
Há tanto que o Amor me tem cativo
E habituado ao seu jugo,
Que, se antes me causava estorvo,
Agora parece encarecer meu coração.
Assim, quando ele me priva da minha coragem
E meu espírito parece ser soprado para longe,
Sinto atravessar minha alma
Tamanha douçura que meu rosto empalidece,
Então o Amor me tem de tal forma em seu poder,
Que meu espírito me faz ouvir
Sempre a clamar.
 
[...]

Assim que elas se conectaram, pele com pele, Rosamaria perdeu a capacidade de raciocinar e se deixou levar pela emoção. Nunca se sentiu tão viva. A boca de Caroline mal se movia sobre a sua. Seus lábios eram quentes, úmidos e surpreendentemente macios.
Rosamaria não sabia se ela a estava beijando daquela forma porque estava bêbada ou por algum outro motivo, mas era como se suas bocas tivessem se congelado juntas. Como se a conexão entre as duas, tão intensa e real, não pudesse ser rompida nem por um segundo.
Rosamaria não teve coragem de mover a boca, com medo de que ela a soltasse e nunca mais voltasse a beijá-la. Caroline pressionou seu corpo contra o dela num gesto firme, porém gentil, acariciando seu rosto com ternura. Ela não abriu a boca. Mas o sentimento que fluiu entre as duas era mais poderoso do que nunca.

A pulsação de Rosamaria latejava em seus ouvidos e ela sentiu que ruborizava e ficava quente enquanto pressionava o corpo contra os seios dela, vencendo a distância que as separava e a abraçando. Pôde sentir o coração dela bater contra o seu próprio peito.
Ela foi tão gentil, tão carinhosa... Sua boca a deixou querendo mais – muito mais. Não saberia dizer por quanto tempo se beijaram, mas, quando Caroline a soltou, Rosamaria estava atordoada. Foi transcendental. Emocionante.

A concretização momentânea do desejo mais profundo de seu coração. Uma enxurrada de lembranças e sonhos relacionados ao pomar invadiu sua mente. Nada daquilo era um capricho de sua imaginação: aquela atração era real e deixava sua alma em alvoroço. Montibeller se perguntava se Gattaz teria sentido o mesmo, mas achava que não. Talvez fosse imune a esse tipo de sentimento.

Bela Rosamaria – murmurou Caroline, em italiano cambaleando para trás. – Doce como mel.

Caroline lambeu os lábios como se saboreasse o gosto dela, qualquer vestígio de lucidez desaparecendo de repente. Gattaz fechou os olhos e caiu contra a parede, quase desmaiando. Quando ela voltou a si – o que levou mais de um minuto –, Rosamaria conseguiu arrastá-la até o quarto. E tudo teria terminado bem... se Caroline não tivesse naquele instante vomitado em cima dela. Em seu lindo e caro suéter de caxemir.

Diante daquela visão e daquele cheiro, Rosamaria, que tinha o estômago muito sensível, arquejou e teve ânsia de vômito.

Sujou até o meu cabelo! Ó deuses de todos os bons samaritanos, venham correndo ao meu socorro! pensou Rosamaria.

– Desculpe, Rosamaria. Desculpe por ter sido uma garota má. – Caroline soava como uma criança. Ela prendeu a respiração e balançou a cabeça.

– Não tem problema. Venha.

Montibeller a arrastou até a suíte e conseguiu colocá-la de joelhos diante do vaso sanitário antes que ela voltasse a vomitar. Tapando o nariz, Rosamaria tentava se distrair observando seu banheiro elegante e esespaçoso:

Banheira grande para duas ou mais pessoas? Confere.

Boxe grande para duas ou mais pessoas com chuveiro no teto? Confere.

Toalhas brancas grandes e felpudas para limpar vômito. Confere.

Quando Caroline terminou, ela lhe entregou uma toalha de rosto para limpar a boca. Gattaz gemeu alto e ignorou sua oferta. Então Rosamaria se agachou e limpou seu rosto gentilmente antes de lhe dar água nas mãos em concha para enxaguar a boca.
Rosamaria a encarou. Apesar do desastre que era sua família e das suas incertezas quanto a se iria se casar, ela às vezes pensava como seria ter um bebê – um garotinho ou uma garotinha que se parecesse com ela. Observando Caroline passar mal, imaginou como seria ser mãe e cuidar de um filho doente. A vulnerabilidade dela cortou seu coração, pois ela nunca a vira, exceto naquela única vez, quando ela a flagrou chorando por Zaled em sua sala.

De volta ao ParaísoWhere stories live. Discover now