7 - Que tal uma tourada?

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Enquanto a brisa fria e úmida acaricia o meu rosto junto do cheiro da grama verdinha que me agracia nesta manhã, sinto os meus pés formigarem

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Enquanto a brisa fria e úmida acaricia o meu rosto junto do cheiro da grama verdinha que me agracia nesta manhã, sinto os meus pés formigarem. As gotas de orvalho se fazem presentes em cada folha e o ar fresco move os galhos de algumas árvores próximas, suavemente, trazendo abrigo para pequenos pássaros ou roedores.

Por milagre, pareço entrar num real estado de calmaria pela primeira vez nesta semana, longe de pensamentos conturbados. Um leve formigamento em meus pés, que se intensifica e me faz mudar a posição na qual estou sentada, parece ser o único defeito neste momento de sossego.

Em cima de uma pedra qualquer que encontrei nesta pequena fazenda, endireito a postura e descruzo as pernas, voltando a minha atenção ao caderno de desenhos e anotações que quase sempre carrego comigo. Com traços leves, calmos, e precisos, exponho uma memória que até então está fresca.

Me lembro bem do formato do rosto, dos olhos expressivos e carregados de sombras pelas pálpebras, dos pequenos sinais em cada região do rosto, um acima do lábio superior, outro na ponta do nariz. E é claro, não consigo esquecer da expressão que esbanjava o puro desejo de me apagar da face da Terra, e ela tinha toda a razão do mundo para tal.

Não pude evitar de pensar na estranha mulher durante a minha viagem até a minha nova coordenada de serviço. Com o carro flutuando sobre o mar, só pude lembrar da neve de congelar as estranhas, harmonizando completamente com a atmosfera misteriosa e sombria de Myoui Mina. Imagens das crianças saltitantes pela neve passaram como um flash, e me flagrei mais uma vez com uma certa curiosidade sobre a vida da mulher, de entender a razão pelo qual estaria sendo procurada.

Eu não deveria sentir curiosidade alguma sobre essa mulher, aonde estou com a cabeça?

Voltando as coordenadas do serviço, acabei por achar a ilha de Creta mais agradável do que havia imaginado. Esta ilha, famosa por sua bela paisagem cheia de trechos montanhosos e planícies, ou pelo belo monte Ida que chama a atenção com o seu topo branquinho, é também o alvo daqueles que gostam de esportes mais violentos, por assim dizer.

Heraclião, a capital da ilha antes famosa por ser o berço da civilização minoica, acabou ganhando certa popularidade devido as recentes lutas clandestinas de gladiadores. Não que o governante se importe, é claro, se o esporte clandestino não causar problemas.

Não muito distante de mim, Dahyun tenta colher informações do velho fazendeiro que emitiu o contrato virtual da caçada há um tempo atrás. O senhor coça a longa barba branca, não se importando em esticar a coluna muito curvada e encolhida, e tenta se lembrar da última vez em que viu o grande touro passear pelos arredores, os olhos cheios de rugas se estreitando. Deixo de me atentar aos detalhes da conversa e me concentro em meu esboço, deixando que a Kim tome conta do diálogo.

Da ponta do lápis, aparecem mais e mais sombras, se espalhando pelo rosto da mulher da melhor forma que consigo reproduzir. O desenho não parece expressivo o suficiente para mim, então apenas fecho o caderno e suspiro, observando um rebanho de vacas malhadas passar por um pasto não muito longe. Um pequeno bezerro saltita pelo cercado, provavelmente contente com o clima fresco.

GREEK EYE - Michaeng Where stories live. Discover now