GREEK EYE - Michaeng

8 - Um reencontro nada amigável

Tivemos tempo suficiente para nos organizar, antes de darmos início a viagem rumo a ilha de Santorini. Dahyun trouxe consigo, entulhadas na mala do carro, o máximo de bugigangas e ferramentas possíveis incluindo a tal águia defeituosa da sua oficina, que ela insiste em inaugurar no nosso próximo serviço.

Eu, tendo o comportamento completamente oposto e me preocupando em levar apenas o necessário, tenho em minha mochila o mínimo de tralhas. No banco traseiro do carro, Rajah dorme tranquila graças ao tempo que Dahyun dedicou a cuidar dos seus ferimentos, se recuperando dos danos causados por aquele coice.

Em alguns momentos, ainda sinto minha lombar latejar. Dahyun enfaixou o braço depois que me virei para dar alguns pontos em seu ferimento. Mas, seguimos razoavelmente bem, se levarmos em consideração o tamanho do bicho que enfrentamos no dia anterior.

Com o tempo de descanso que me restou, fiz questão de aproveitar bem a presença de omma e de me certificar de que estava lidando da melhor forma possível com suas dores. Ignorei como sempre todas as reclamações de Pétros quando coloquei mais um saco de dracmas no depósito da família (a recompensa de Anakletos junto do que consegui ao vender os chifres dourados que tive como espólio), ocupada demais em ajudar como podia.

Em seguida, me lembro de ter avisado que poderia demorar muito tempo para voltar para casa, desta vez, e que não sabia os dias que levaria para concluir o serviço. No entanto, não citei o rei Minos. Não gostaria de causar alarde para uma situação que mal sei do que se trata.

Me lembro do olhar profundo de Omma sobre mim, como se pedisse silenciosamente para que eu me recordasse da conversa que tive em seu quarto, no momento em que me entregou a lança de Jungmin. Posso ser uma teimosa, admito, mas pouco me importa se estou vivendo apenas para Hyunmin. Não sei o que faria sem ela.

E é por isso que estou indo rumo ao palácio de Santorini, tenho este objetivo claro em minha mente.

A viagem não demora muitas horas, e assim que localizo o palácio pelas janelas do carro, minhas sobrancelhas se unem num misto de confusão e admiração. Eu já imaginava que toda a cidade de Santorini havia sido construída no topo da ilha montanhosa, formando aglomerados de casinhas brancas com o topo de suas cúpulas pintadas de cor azul intensa, um costume mantido a séculos. Porém, a localização do palácio consegue ser ainda mais privilegiada que todas as casas ao redor, afastado do aglomerado e com uma belíssima vista para o mar em um dos pontos mais altos da ilha.

Não posso dizer que este é o palácio mais luxuoso que já vi, mas o arquiteto que o projetou teve um belo de um bom gosto. A sua entrada foi inspirada nos antigos templos, com belas colunas de mármore sustentando um teto no formato triangular. Me parece mais uma construção antiga lutando bravamente contra a maldade do tempo, com o seu toque de elegância.

Dahyun mal nota a arte escondida pelas estruturas do palácio, mais ocupada em secar as armas de fogo dos soldados reais. São homens e mulheres que escoltam todo o perímetro, fardados em suas armaduras altamente reforçadas e com as capas verde-água esvoaçando a cada marcha constante. Os detalhes luminosos em neon em seus capacetes e peitorais são o que mais me chama a atenção. Que tipo de tecnologias se escondem nessas armaduras? Espero não descobrir.

Nossa recepção não é uma das mais calorosas, mas ao menos temos o direito a uma boa vaga de estacionamento. Assim que saímos do carro híbrido, Jihyo nos escolta para dentro dos grandes portões de mármore e passa por entre um belo jardim, deixando clara em seu rosto a carranca que tive a oportunidade de conhecer no dia anterior. Hoje, o seu cabelo castanho escuro está preso num rabo de cavalo, o que me passa um ar de seriedade.

Aparentemente, Jihyo é uma mulher de poucas palavras. Ela nos diz apenas o necessário, deixando claro que eu não deveria deixar um tigre branco à solta pelos aposentos do rei (óbvio que foi muito bem ignorada por mim, posso lhe garantir isso).