Capítulo 3

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O jantar teria sido um completo silêncio, todos teriam saído da mesa e fariam o que quer que fizessem em seus aposentados.

Teria ocorrido tudo da mesma maneira, isso se não fosse por Alicent - a rainha - jogando seu veneno, outra vez.

- Então, quando Alec irá finalmente rever a ideia de um futuro casamento? - perguntou a mulher .

O garoto citado quase se engasgou com a própria bebida em sua taça, tossindo levemente no processo.

Ele crispou os lábios, olhando para a rainha.

- Perdão? - perguntou.

Todos os outros pararam com seus talheres, voltando os olhares para Alicent.

Todos menos um, Aemond olhava para Alec, buscando examiná-lo. O garoto de cachos conseguia sentir a encarada em si, parecia que perfurava toda a sua alma.

Não sabia o que era, mas sentiu um leve frio na barriga. Ele só esperava que se fosse alguma doença, o matasse logo de um vez. Se recusava a casar por ordens da rainha.

- Seu casamento, acho que está na hora de criar uma ponte para o outro reino, não acha, Rhaenyra? - perguntou, as mãos cruzadas.

- Não, Alec irá decidir o casamento quando estiver mais velho - respondeu.

- Não vai acontecer, eu tomei a liberdade de ajudá-lo nisso - retrucou.

Rhaenyra arregalou minimamente os olhos, olhando para Laenor ao seu lado.

- O quê disse? - perguntou o homem.

- Seu filho tem pretendentes por todos os lugares, talvez possamos achar uma donzela decente - bebeu seu vinho.

O garoto sentiu a garganta apertar, suas mãos apertaram em punhos no seu colo. Ele sentia que iria quebrar a qualquer momento, mas não podia.

Não quando o platinado que lhe encarava estava presente.

- Ele é o meu filho, você não tem esse direito - disse a princesa platinada.

- Eu só estou tentando ajudar, Viserys me concedeu a honra, ele até concordou comigo - respondeu.

Rhaenyra não disse mais nada, apenas se levantou com o máximo de cuidado que podia - por estar grávida - pedindo licença na mesa, ela se retirou.

Todos tinham a plena certeza que ela já estava a caminho dos aposentos de seu pai.

Alicent também se levantou.

- Vou ver como ela está - mentiu. - E... Alec! - chamou. - Amanhã iremos terminar essa conversa.

E saiu.

O garoto piscou os olhos azuis nebulosos.

Uma.

Duas.

Três.

Seu olhar voltou ao seu prato, mas logo sua cabeça se ergueu. Fixando em Aemond que ainda o olhava.

Ele levantou uma sobrancelha, se perguntando se ele gostou do espetáculo de sua mãe.

O platinado mais novo soltou o ar pelo nariz, voltando a comer.

Alec soltou um riso de escárnio baixinho, logo se levantou. Pedindo licença, saiu antes que conseguisse a permissão.

[...]

Não sabia por quanto tempo tinha ficado na sacada, sua cabeça apoiada nos braços que estavam em cima do batente de pedra.

A brisa batendo contra seu rosto e bagunçando os cachinhos negros, ele só pensava em Drake e em como queria voar nele.

Queria a liberdade.

Por um momento, voltou seu olhar para a cidade, todos pareciam se divertir. O trono de ferro estava protegido, fazia sentido toda a animação.

Ouviu a porta de madeira pesada abrir atrás de si, não precisou olhar. Não estava interessado em quem quer que fosse.

- É um festival - disse a voz.

Alec retirou o que disse sobre não estar interessado, o garoto voltou seu olhar rapidamente para trás, se perguntando o porquê de Aemond está ali.

- Aemond? - perguntou, confuso. - O que faz aqui?

- Eu moro aqui - retrucou, e Alec pôde ver um misto de arrogância e diversão.

- Se você não me dissesse, eu nunca saberia - comentou o de cachos em sarcasmo.

Ele voltou seu olhar para frente, dando as costas para o outro.

- Nunca te disseram que é errado dar as costas ao seu inimigo? - perguntou o platinado, indo para o lado do garoto na sacada.

Obviamente, mantendo uma distância considerável.

- Você não é meu inimigo - respondeu simplista.

- Não sou? - confusão estampada em seu olhar.

- Não, não é - voltou a dizer. - Essa briga... - apontou para a cidade, se referindo Alicent e Rhaenyra. - Essa briga não é nossa, é das nossas mães.

Suspirou, cansado.

Aemond ficou quieto, o olhando. E quando Alec virou o rosto para olhá-lo de volta, o garoto platinado desviou para cidade abaixo deles.

- Eu achei que me odiasse - comentou o mais velho.

- Ódio é uma palavra muito forte, não acha? - perguntou, um sorrisinho maroto traçado em seus lábios.

Lindo.

Era assim que Aemond pensava quando o olhava, não entenda mal. Os dois quase não se suportavam desde que começaram a andar. Mas o platinado não podia negar que o garoto de cachos era atraente.

E por um momento, se perguntou como seria enrolar uma madeixa do cabelo de Alec entre seus dedos.

Era isso. Com toda certeza, Aemond não gostava dele, mas a atração por alguém absurdamente bonito ficava quase nítido.

Quase.

O mais velho era quase tão bom quanto sua mãe nas mentiras.

- Amor também, e as pessoas falam como se não fosse nada - respondeu a pergunta do mais novo.

- Você acha? - perguntou, abaixando a cabeça e apoiando em seu braço outra vez. Sua bochecha vermelha por conta do frio ficando prensada em sua pele pálida.

- Você não? - perguntou de volta.

- Eu não sei - respondeu, seu olhos em Aemond. - Ódio e amor caminham juntos a maior parte do tempo, é uma linha tênue. Quase não dá para saber se você ama ou odeia alguém.

- Os sentimentos podem ser iguais, mas ao mesmo tempo, eles são distintos - comentou, seus olhos focados no céu. - Acho que o amor deve ser o sentimento mais forte e quase inexistente.

- Amor, hum... - sussurrou, e Aemond o olhou.

- Sim? - voltou seus olhos azuis para o outro.

- Do jeito que você falou parece tão pouco... - disse.

- E tem algum sentimento maior que o amor? - perguntou.

- Perda.

Sua voz quase morreu em sua garganta, ele engoliu enquanto voltava seu olhar para a cidade onde as pessoas dançavam no grande festival.

- Você acha? - perguntou Aemond.

- É, eu acho que sim.

Silêncio.

Eles não precisavam dizer mais nada, não era desconfortável a situação em que estavam. O que de certa forma, era absurdamente estranho.

Alguém como eles, garotos que foram criados para serem inimigos um do outro, estavam simplesmente ali. Curtindo a brisa e a falsa liberdade que aqueles muros lhe aprisionavam.

Talvez eles não fossem tão diferentes, talvez, só talvez, eles aprendessem a gostar e suportar um ao outro.

Talvez, apenas talvez.

𝐁𝐋𝐎𝐎𝐃 𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓𝐌𝐀𝐑𝐄 ✦ ʜᴏᴜsᴇ ᴏғ ᴛʜᴇ ᴅʀᴀɢᴏɴWhere stories live. Discover now