Sextou

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Sexta era dia de feira na pracinha.

Haviam muitos feirantes que, de modo geral, apenas vendiam frutas, legumes, verduras, peixes, queijos, e temperos. Mas junto deles, também vinham as kombis de lanches pra provocar o olfato e o paladar popular. Pastel, sorvete, açaí, hamburguer, cachorro quente, churrasquinho. Tocava música alta nos bares ao redor, as crianças brincavam no parquinho, ou jogavam bola enquanto os pais ficavam de olho, e quase sempre tinha uma roda de samba de bairro ali para animar a coisa toda.

Pois bem, faltando uns vinte minutos eu já rumei até a praça a pé mesmo, não era muito longe. Uns cinco minutos, no máximo.

O local já estava começando a encher de gente. Eu me senti numa dessas mesinhas de praça e fiquei esperando por Dani. Enquanto isso, abri algumas mensagens de Luisa. Ela tinha mandado mensagem antes de eu sair.

"Acho que hoje vou dormir na casa da Nanda", dizia a mensagem.

"E vão fazer o quê?", digitei, e adicionei um emoji que significa que estou de olho. Eu sabia a resposta, mas o tom era sarcástico.

Ela mandou uma foto das duas se olhando com sorrisos bobos, em seguida. Respondi com uma selfie fazendo um hangloose. Eu não havia falado sobre o encontro, o que se manifestou na mensagem seguinte:

"Tá na pracinha? E nem me chamou?"

"Vim sextar. Dani que me convidou."

"HOJE TEM, HEIN!", e ela enfeitou essa mensagem com vários emojis de conotação sexual. Apenas respondi com "Idem".

Vi Dani de longe, nesse momento. Seus olhos estavam examinando a pracinha toda, me procurando, eu levantei um braço e eles pousaram em mim. Me despedi de Luisa em seguida:

"Ela chegou, bjs. Não invente de ir naquela casa!! Tchauzin, boa noite."

- E aí, gato - nos abraçamos e trocamos um selinho. - Tá cheiroso.

E ela estava linda, cheirosa, agradável. Algo muito além do que eu merecia. Os seus cachos estavam sedosos e macios, e o batom vermelho-rubro nos lábios deixava-a digna de uma musa de filme. Ou até mais. Seu cheiro levou-me ao céu, e seus olhos se encontravam aos meus de maneira única, singular. Ando exaltando-a em demasia nestes últimos capítulos, mesmo com minha mente querendo ser racional. Estou pela emoção, com ela. E, claro, pensei em tudo isso quando a vi, mas minha fala não foi tão sublime.

- Cheirosa é você que tá, linda - sorri de soslaio, contendo um sorriso de júbilo. - Então, o que quer fazer?

- Eu te convidei, então agora você escolhe.

Decidi por irmos no açaí. Estava calor nesse dia. Eu quis pagar pra ela, e ela não aceitou. E tudo bem.

Ficamos falando sobre qualquer coisa, saboreando bem o bem rechado açaí, e rindo, e trocávamos olhares desejosos, junto de flertes bem diretos. Não precisávamos tanto dessa dança, mas era divertido. O gelado acabava, dando lugar ao mais quente. A minha mão substituía a colherzinha de plástico pela pele dela, puxando-a para o mais perto possível, e ela assentia deixando-me conduzir. Agora nossas línguas que se saboreavam, e eram elas que bailavam suavemente, em sincronia, em festa. Um digno reencontro, pois durou. Ou eu pensei que durou, não contei o tempo, embora ele parecesse ter parado. O deleite de paixões da juventude. Afloravamos.

Saímos da sorveteria depois de um tempo nessa pegação. Voltamos para o centro da praça, de mãos dadas. Estava tocando uma música bem antiga na roda de samba. Era Pagode Russo. Ficamos rindo de algumas pessoas da roda tentando imitar soldados soviéticos dançando aquele balé acrobático deles. Depois, voltaram pros sambas mais atuais. Aí é que ela me chamou pra sambar. Agora, sem simbologias, dançamos. Eu era mais desengonçado, menos jeitoso. Ela, por outro lado, sabia o que fazia. Pra mim, só restava o mimetismo da coisa. Mas era divertido fazê‐la rir com meus tropeços vez ou outra.

Ainda não falei deles na narrativa, mas nesses meios tempos sempre apareciam conhecidos para cumprimentar e trocar um "boa noite". Felizmente, só vi gente da escola que eu só conhecia de vista. Acho que eu ficaria ainda mais trôpego no dança com Lu e Nanda olhando, embora essas fossem mais que conhecidas.

Depois de umas três músicas, fomos nos sentar num banco ali perto, coisa de pracinha mesmo. Mais beijos, mais carícias. E aumenta a frequência. O calor do momento gritando pra mim.

— Vamo lá em casa? — perguntou-me ela. Eu assenti, enrusbecido.

E dali da animada pracinha, partimos bem depressa.

A casa dela não era longe o suficiente pro tesão passar. Mas foi um momento que mal me lembro. Foi como se estivéssemos na praça e um segundo depois, na frente de sua casa. As ruas levemente iluminadas pareceram um sonho acordado. Enfim, estava tudo apagado quando chegamos.

— Tá sozinha hoje?

— Sim, meus pais foram visitar uma tia.

Agora era tudo certo pra dar errado. Sextou.


A Casa Velha.Where stories live. Discover now