INTRODUÇÃO

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Na vasta escuridão, a mulher com um chapéu preto que combina com seu elegante terno e sobretudo, olha discretamente para o centro do local, ao qual uma simples mesa de madeira quadrada está disposta junto com duas cadeiras humildes. Há névoa, não há entrada ou saída, e tudo está coberto pelo vazio. Exceto a mesa com as duas cadeiras.

Com quietude e movendo-se com suavidade, a mulher do chapéu se senta em uma das cadeiras e, quando olha para o lugar à sua frente, avista um jovem com, pelo menos, metade da sua idade. Ela remove seu chapéu e faz uma pequena reverência para o menino com traços angelicais que traja roupas brancas.

Ela não teme a criatura, muito menos a idolatra. É uma mulher cética e cumpre seu dever com maestria, sem qualquer traço de misericórdia.

O rapaz estica sua mão jovial e, com um semblante misterioso, sete cartas surgem na mesa gasta. A mulher, com paciência, observa cada uma com atenção.

A primeira carta tem o desenho de um Pavão majestoso. Este animal, apesar de ter extrema beleza admirada por todos, representa o Orgulho dentro do coração dos homens. A segunda carta tem o desenho de um Bode, representando a Luxúria e toda sua imoralidade e fornicação. Na terceira e na quarta carta há um desenho de um Porco e de uma Tartaruga, respectivamente. O Porco representa a Gula, sendo um animal imundo que devora tudo que encontra, não importando o estado da coisa, enquanto a Tartaruga representa a Preguiça, onde as mãos do pecador recusam-se a trabalhar e produzir.

A Onça é o animal desenhado na quinta carta. É um animal feroz, repleto de ódio. O homem muitas vezes deixa que a Ira domine seu coração e, por isso, acaba pondo fim na vida de outros homens. A Serpente, aquela que enganou Eva e trouxe o pecado para o Paraíso, representa a Inveja. Ela é responsável por colocar no coração do homem o desejo de destruir a felicidade dos outros.

Por fim, temos a Rã. A Avarenta, a Gananciosa rã, que não renuncia a suas riquezas para ajudar os mais pobres, apenas preocupa-se em enriquecer ainda mais no mundo.

A mulher termina de avaliar as cartas e olha para o jovem sentado com um sorriso no rosto.

— Essas são as faces do pecado. — Diz o garoto com uma voz calma e delicada. — A vida humana não pertence ao Céu e nem ao Inferno, mas a tudo que você representa. Essas sete vidas estão acorrentadas ao pecado, cada uma de um modo único.

— O Inferno já não tem muitas almas atormentadas devido seus pecados cometidos na Terra? — Pergunta a mulher ao passar os dedos pelas cartas com certo divertimento.

— Não estou dizendo para trazer as sete vidas para mim, minha cara amiga. Elas são suas agora, dou-lhe a liberdade para fazer o que quiser com elas. Não vê as cartas que repousam nesta mesa? — Ele estica os braços para os lados e sorri amigavelmente. A mulher analisa seus olhos azuis que cintilam com a excitação.

Ela faz novamente uma reverência com a cabeça, pega seu chapéu e o coloca no lugar, levantando da cadeira com sutileza e educação.

— Que comece o jogo!

LENDAS DO INFERNO - AS SETE FACES DO PECADOWhere stories live. Discover now