PREGUIÇA

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Naquela manhã, uma rachadura surgiu no teto.

Preguiça

Tédio. Poderia ser essa a palavra que resume a vida de Lucas? Ele está deitado em sua cama de solteiro, vestindo apenas uma cueca – que tem um rasgo na lateral – jogando para cima uma bolinha amarela que bate no teto e cai em sua direção em uma velocidade razoavelmente lenta.

Lucas encara o teto e vê que, naquela manhã, uma rachadura surgiu nele. O rapaz de vinte e três anos franze as sobrancelhas e encara a rachadura com certo interesse, mas não com disposição o suficiente para ajeitar o problema. Na verdade, ele não vê isso como um problema de fato. Afinal, é apenas uma rachadura. Que mal isso pode causar?

Lucas se levanta da cama finalmente e procura por seu telefone que está em algum lugar naquele quarto completamente bagunçado, cheio de roupas na cadeira e meias sujas no chão. Ele deveria contratar uma faxineira para limpar aquele chiqueiro? Ah... Muitas perguntas e nenhuma resposta. Lucas está endividado também. Ele olha a geladeira e vê o papel da água e da luz. Um total de cem reais.

— Vou ter que pedir dinheiro de novo para minha mãe. — Ele resmunga enquanto pega a garrafa com água e toma alguns goles sem se preocupar em colocar no copo. Deve ser uma das vantagens de morar sozinho. Em compensação, o tédio é sempre o mesmo. Nada novo, ninguém novo. Lucas está cansado, inclusive, de Beatriz, sua amiga de longa data que, vez ou outra, vai para sua casa no intuito de ter um orgasmo.

Beatriz até já quis namorar com o rapaz, mas ele é preguiçoso demais para se atrever a começar um relacionamento com alguém. Se envolver de forma casual é muito mais simples e prático.

Lucas Adeodato desistiu da faculdade de enfermagem tem quase dois meses. O pai dele o expulsou de casa, mas a mãe e o padrasto sustentam o apartamento mixuruca no qual ele vive atualmente. Claro que seu pai não sabe, pois se descobre esse absurdo até manda matar os três.

O que seria um favor para Lucas. Entretanto, morrer parece ser muito trabalhoso.

Um suspiro.

Lucas veste uma roupa por cima da cueca rasgada e calça seu tênis que está rebolado ao lado da porta para poder dar uma volta.

— Ah, o celular!

Ele dá meia volta e acha o celular em cima da cama, entre os lençóis e a colcha. Lucas vê mensagens de um dos seus poucos amigos, Arthur, e decide se encontrar com ele em uma cafeteria.

Chegando lá, Lucas espera por trinta minutos o que deveria ser apenas dez.

— E aí, irmão. — Diz Arthur ao sentar-se na cadeira ao lado do amigo. Lucas o olha com desdém e não diz nada, apenas toma um gole do seu café amargo. — Tua cara entrega teu cansaço. O que tem feito da vida além de dormir e bater punheta?

— Algumas vezes eu fodo também.

— Ah, claro, com a Bia. Eu sei, eu sei. Falando nela, como estão as coisas? — Arthur olha o telefone e digita algo.

— Nada novo. A gente não inova muito, sabe?!

— Deveriam passar no sex shop. — Sugere.

— Eu não. — Diz ao bocejar. — Preguiça.

— Ela vai é enjoar de ti.

— Eu fodo bem.

— Eu não estou interessado em descobrir. — Arthur ri e chama a garçonete. Ele faz o seu pedido enquanto Lucas continua bebendo o seu café lentamente.

LENDAS DO INFERNO - AS SETE FACES DO PECADOOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz