CAPÍTULO 2 - FAZENDO AMIGOS

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Fazer compras para casa não era tão difícil. Como meu primeiro mês aqui já tinha se passado, eu resolvi fazer compras mais pesadas, pagar contas e fazer tudo o que uma dona de casa fazia. Eu consegui fazer um plano de internet e celular, e consequentemente consegui pagar outras contas pela internet.

Mandar alguns e-mails para os meus pais e finalmente fazer uma planilha no Excel. Eu estava tentando criar um tipo de rotina, arranjar um equilíbrio, fazer as coisas certas dessa vez. Lembrar sempre do que meu antigo terapeuta recomendava.

Eu tinha que me preocupar com tudo e até que era um bom passatempo. Eu gostava de ir no supermercado fazer compras, pesquisar preços, comprar besteiras pra comer e assistir Netflix em casa sem me preocupar com barulhos estranhos no apartamento de cima ou com os gemidos da minha colega de quarto.

Eu também estava tentando manter uma alimentação mais equilibrada já que o único exercício que eu fazia era ir e voltar do trabalho de bicicleta, lembrando novamente das recomendações do meu médico de ter um cardápio saudável.

Mas eu estava satisfeita com meus avanços até agora, tudo estava bem, apenas meu isolamento que começava a ficar ridículo já que eu ainda não tinha feito nenhum amigo. A verdade é que no passado tive muitos colegas de festas, pra diversão e nenhum amigo verdadeiro.

A maioria das pessoas acabava se afastando de mim e eu me acostumei com a situação, e me acostumei em ter pouca gente por perto, na verdade eu não sabia quem eu era direito, e acho que isso as vezes afastava as pessoas. Não posso fazer nada sobre isso.

As coisas estavam bem, sem comparação como eram em NY, então estava tudo certo. Eu passava o dia no trabalho, e de noite eu preparava algo rápido pra comer, assistia algum reality show e acabava indo dormir de 23h.

Eu não sei se eu tinha envelhecido mais rápido, mas eu estava me sentido equilibrada com essa nova rotina. No final de semana, eu acabava ficando na internet conversando com gente que eu não conhecia realmente e assistindo filmes, eu saí algumas vezes pra ir no supermercado, e umas duas para uma lanchonete tomar café ou jantar. Algumas conversas mas nada de mais.

Eu sempre percebia o quanto era difícil fazer amigos quando você passa de certa idade. Nesse ponto todo mundo já tinha construído seus círculos sociais e não havia espaço para intrusos.

- Filha, como estão as coisas? - Perguntou minha mãe na nossa conversa semanal pelo telefone.

A gente conversava sempre por e-mail ou Facebook, mas por telefone apenas uma vez na semana. E era ótimo me aproximar novamente da minha mãe já que antes a gente praticamente não conversava.

- Estão bem. Vou hoje no mercado comprar algumas coisas. - Deitei no sofá mexendo no notebook no meu colo.

- Nada de fritura, hein?!

- Eu estou tentando, eu to tentando... E como estão as coisas ai?

- Estão bem. Eu estou fazendo algumas decorações de jardim para me manter ocupada e ganhar alguma coisa mesmo seu pai dizendo que não preciso fazer nada.

- Você faz bem, não pode ficar parada. E o papai, como ele está?

- Ele está assistindo ao jogo e está dizendo oi.

- Manda um oi pra ele também.

- Ela mandou oi. - Ela falou pra ele. - E aí, já fez algum amigo? Algum namorado?

- Se você contar uma aranha na teia do porão como amiga e Netflix como namorado, então sim.

- Filha, você não está saindo. Onde você espera fazer amigos? No lava-jato? Porque você não fala com seus colegas de escola? Alguns continuam ai.

NOS BRAÇOS DELAWhere stories live. Discover now