vinte e três

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A campainha não parava de tocar e eu já estava me estressando.

— Vai ser rápido, espera só um pouco! — Pedi mais uma vez pro Richarlison e me soltei dos braços dele.

Peguei a minha toalha e sequei o cabelo rapidamente, enrolei no meu corpo e corri para abrir a porta e ver logo o que era.

— Perdeu o celular, caralho? — Laura praticamente gritou furiosa quando abri a porta.

— O que foi? Estava ocupada! — Respondi sem entender a fúria dela.

— Eu não queria estragar seu momento com o Richarlison, mas a diretoria está ordenando que vá pra lá agora! — Ela falou parecendo apavorada, minha sobrancelhas juntaram em dúvida, mas logo senti como se uma faca tivesse atravessado meu peito.

— O Pedro? — Perguntei torcendo para estar errada, mas a Laura balançou a cabeça positivamente. — Ah, merda!

Voltei pro quarto rapidamente e peguei uma roupa qualquer e decente. Coloquei uma calça preta de alfaiataria, uma camisa social branca e um blazer preto. Penteei o cabelo rapidamente e quando fui colocar o salto, Richarlison saiu do banheiro cantando algum pagode.

— Ih, qual foi? — Ele perguntou confuso e parou no meio do quarto com apenas uma toalha na cintura.

— Diretoria do hospital está me chamando agora, preciso ir, beijo! — Falei rapidamente, dei um beijo na bochecha dele e corri até a sala para encontrar a Laura.

Não lembrei de pegar nada mais, fomos correndo pro carro dela e terminei de me arrumar lá mesmo. O hospital era perto, chegamos lá rapidamente.

Assim que a porta da sala de reuniões abriram, o primeiro rosto que vi foi o do Pedro, queria voar no pescoço dele e esgana-lo.

Cumprimentei todos os diretores e sentei ao lado do advogado que estava acompanhando meu caso, finalmente teria uma resposta do caso que me artomentava há tanto tempo.

— Declaro que a doutora Isabela Fernandes Kirzner tenha o CRM cassado! — O juiz do caso decidiu e assinou um documento na frente dele.

Olhei pro meu advogado que simplesmente parecia ter desistido ali mesmo. Pedro desabotou o terno barato dele e abraçou o advogado. Levantei rapidamente da minha cadeira e fui na direção do juiz e do diretor do hospital.

— Dr. Paulo, por favor, o senhor sabe o que aconteceu! — Pedi praticamente implorando, sentindo o choro fechar minha garganta.

— Sinto muito, querida. — Ele falou e tocou meu ombro.

— Não foi minha culpa, eu estava com outra paciente na hora, eu não tinha como causar aquilo, o senhor precisa me ajudar! — Implorei mais uma vez, ele parou na minha frente e sorriu fraco.

— Eu não posso decidir sobre isso, você precisava de um dos diretores presentes no dia para te ajudar e não conseguiu, o Conselho tomou a decisão, sinto muito. — Dr. Paulo respondeu e saiu ao lado do juiz.

Todos os anos lutando para estar aqui, para conquistar meu lugar como médica, para ser derrubada por uma pessoa em que confiei tanto, por uma pessoa que fingiu verdade ao meu lado e está pisando em mim.

Me apoiei na mesa de reunião e joguei a cabeça para frente, as lágrimas vieram sem dó, não conseguia segurar e nem parar de chorar. Meu maior sonho foi destruído por um moleque idiota.

— Sinto muito, não era assim que pensei que acabaria. — Reconheci a voz do Pedro perto de mim, olhei com raiva para ele.

Nada ali era verdadeiro, ele estava sendo irônico mesmo depois de tudo.

— Como você consegue? — Perguntei me exaltando e notei a presença da Laura ali, que foi se aproximando aos poucos. — Consegue dormir com a imagem daquela garota na sua cabeça? Consegue dormir lembrando do sofrimento que causou em uma pessoa que ficou do seu lado por oito anos, Pedro? — Desabafei como se aquelas palavras fossem afetá-lo, mas ele apenas abriu um sorriso debochado. — Caralho, você é um puta de um doente!

— Calma. — Laura me puxou para trás quando percebeu minha proximação do Pedro.

— Tudo estaria bem se você não tivesse roubado uma paciente minha e sido negligente com a garota. — Pedro falou calmo e saindo da sala. — Espero que se dê bem trabalhando em algum supermercado!

— Isso não acabou, Pedro! — Exclamei antes de cair no choro nos braços da minha melhor amiga. — Tiraram meu CRM, eu não posso mais ser médica! — Falei entre o choro enquanto ela acariciava minhas costas.

Fiquei ali com ela por vários minutos antes de ir pro meu consultório recolher minhas coisas. Minha cabeça já estava doendo de tanto chorar, mas nada comparado ao que estava sentindo.

Laura me levou para casa e eu orei pro Richarlison ter ido para alguma reunião ou voltado pro hotel. Abri a porta do apartamento e assim que me despedi da Laura e tranquei a porta do apartamento, meu corpo caiu no chão, me ajoelhei e não me importei de gritar e chorar, choro de raiva, tristeza, ódio e tristeza.

— Que porra aconteceu? — Escutei a voz do Richarlison vindo do corredor do apartamento, não fiz questão de levantar a cabeça, não tenho forças para isso, só para chorar e gritar.

Em segundos senti os braços dele me puxando para um abraço, não me acalmou e nem amenizou minha dor, mas senti como se estivesse em um lar.

𝙞𝙣𝙨𝙩𝙖𝙜𝙧𝙖𝙢 || 𝘳𝘪𝘤𝘩𝘢𝘳𝘭𝘪𝘴𝘰𝘯Donde viven las historias. Descúbrelo ahora