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Barcelona, Espanha - Fevereiro de 2019

Contrariando o conselho de seu fisioterapeuta, Héctor saiu pelas portas do fundo da casa de seus pais com o objetivo de caminhar pela cidade e respirar um pouco

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Contrariando o conselho de seu fisioterapeuta, Héctor saiu pelas portas do fundo da casa de seus pais com o objetivo de caminhar pela cidade e respirar um pouco. Só havia um problema: ele não podia caminhar. Após uma grave lesão, no mês anterior, em um jogo contra o Chelsea pela liga inglesa, o jogador realizou uma cirurgia delicada no joelho esquerdo e custou a admitir que estava desesperado com as previsões médicas, que diziam que ele poderia ficar um ano inteiro longe dos campos ou até mesmo nunca mais voltar a jogar. Por esse motivo, Héctor decidiu voltar à sua terra natal, em Barcelona, para realizar sua cirurgia e estar ao lado de sua família durante a recuperação, que ele já imaginava que seria desafiadora.

Héctor amava sua família, mais que tudo, e compreendia os motivos de sua mãe estar ainda mais próxima e preocupada com cada movimento que ele fazia, mas as últimas semanas haviam sido muito desafiadoras e ele precisava de espaço. Além das dores que custaram a sumir, Héctor teve ainda que lidar com uma conversa nada fácil onde sua - agora ex - namorada confessou que havia o traído com um companheiro de clube na mesma semana em que ele se preparava para viajar a Barcelona, justificando a ação com um "não sei se eu conseguiria parar a minha vida, por sei lá quanto tempo, por conta da sua recuperação e nem sequer ter a certeza se você continuaria sendo um jogador de futebol depois disso." Héctor e Julia ficaram juntos por 6 anos, encerraram a relação por uma chamada de vídeo que durou exatos 13 minutos e 56 segundos e agora o jogador recolhia os cacos do coração partido junto aos ligamentos estraçalhados do joelho. What a life!

Quando o Uber estacionou em frente a casa dos Moruno, Héctor se apressou com suas muletas para entrar no veículo antes que sua ausência fosse notada e saiu em direção a um dos lugares que mais amava na capital catalã. Ele não tinha certeza se o lugar estaria cheio, se ele seria reconhecido ou se encontraria algum vizinho fofoqueiro que acabaria contando à sua mãe, ou pior, ao seu fisioterapeuta, que ele estava andando sozinho,manco e sem um guarda-chuvas por Barcelona, mas toda oportunidade de passar um tempo sozinho e no Museu Picasso valeria a pena nesse momento.

A construção era, de longe, uma das mais bonitas que havia na cidade e Héctor agradeceu mentalmente por sempre carregar sua câmera e poder fotografar cada canto do prédio. A fotografia era uma de suas maiores paixões desde criança e, junto à escrita, uma das atividades que ele mais usava para se expressar, e nesse momento, sua melhor amiga. No entanto, o que o jogador não agradeceu, foi a enorme escadaria que se encontrava bem a sua frente, guiando os visitantes ao primeiro andar do museu, onde a exposição estava.

— Que ótimo Héctor, que ótima ideia! — O jogador murmurou a si mesmo enquanto dava pequenos pulos pelos degraus, rindo sozinho. No caminho, talvez no degrau de número 27 ou 456, ele já não sabia, ouviu uma senhora rindo e dizendo-o que ele poderia ter subido por uma das rampas na parte lateral ou simplesmente ter utilizado o elevador, e com uma imensa vontade de socar a própria cara, ele apenas sorriu e disse que já estava no meio do caminho. Era mentira, ele ainda demorou 6 minutos para chegar ao topo da escadaria.

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