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⚠️ ALERTA DE POSSÍVEL GATILHO ⚠️

O capítulo a seguir aborda o assunto do luto. Se esse for um tópico sensível para você, recomendo que pule os primeiros parágrafos. 


Barcelona, Espanha - Setembro de 2022


Eva já havia desistido de enxugar as lágrimas que caíam de seus olhos, quando se deu conta de que não pararia de chorar tão cedo. Sentia seus olhos arderem e incharem cada vez mais, já nem sequer conseguia abri-los de maneira completa. Sua cabeça parecia pesar uns 40kg, assim como o corpo que já apresentava os primeiros sinais de dor, dado a posição que ela se encontrava, imóvel, há quase uma hora.

Era a primeira vez que visitava o túmulo de seu pai desde que ele havia falecido, durante a pandemia, em 2020.

Quando recebeu a notícia de que seu pai estava doente, Eva estava em Barcelona, enquanto os pais estavam em Sevilha, para o velório do avô materno, que havia falecido naquela mesma semana. Ela ainda conseguia sentir a aflição e a dor em não conseguir sair da capital catalã para estar junto da família e não estar no velório do avô.

Sua mãe costumava dizer que, quando pensava em se casar, só conseguia se imaginar com um homem que fosse um marido semelhante a o que o avô de Eva era para com a sua avó. Quando conheceu o pai da menina, Elisa dizia que ele havia superado todas as expectativas e ria, dizendo para a filha que "talvez, príncipes encantados realmente existissem."

Marco era um homem muito afetuoso, cuidadoso, comunicativo e extremamente consciente. Ele movia o mundo para ver a esposa e a filha confortáveis e felizes. Eva nunca viu os pais brigarem, e as poucas discussões que tinham eram sempre resolvidas na base da compreensão e da conversa.

Quando iniciou sua vida amorosa, Eva teve contato com tantos homens terríveis que estava convencida que seu pai havia sido o último homem decente a pisar nesse planeta. Ao contrário da esposa, ele dizia à filha de que príncipes encantados não existiam, e que se ela quisesse ter um relacionamento saudável e bem sucedido, ela teria que aprender a ceder. Teria que aprender a, algumas vezes, abrir mão da razão, e em outras reconhecer que nunca sequer a teve.

Haviam dois anos que Eva ainda mandava mensagens de texto para o número de seu pai ou telefonava, deixando mensagens enormes na caixa postal, contando absolutamente tudo que acontecia em sua vida. Doía saber que ele nunca responderia as mensagens, e nunca atenderia às ligações, mas seu pai havia sido, por 26 anos, o seu maior refúgio. O único ouvinte que não a julgava e a acolhia em todos os momentos, mesmo naqueles em que ela se envergonhava, por saber que havia feito algo errado.

Sentada ali, diante da pedra de mármore que gravava o nome do patriarca, Eva sentia, pela primeira vez, a ficha caindo. Ele não a abraçaria mais, não riria mais de suas piadas cafonas e não puxaria mais a sua orelha quando a aconselhava.

— Me desculpe por ter demorado tanto para te visitar. Não vou inventar desculpas, dizendo que estava ocupada ou coisa assim, até porque você saberia que é mentira. — Eva suspirou, sua voz saindo embargada e quase em um sussurro. — Continuo sendo uma grande cagona e estava evitando encarar meus sentimentos.... pra variar.

A brisa soprava um vento mais frio, denunciando que o verão chegava ao fim e o outono começaria em breve. A mulher se encolheu ainda mais contra o próprio corpo, levando a cabeça de encontro aos joelhos e respirando fundo.

Ela havia voltado para Barcelona há três meses, após terminar sua pós graduação em Sevilha e conseguir um novo emprego na Catalunha. Ela amava a cidade, era seu lar. Ali havia vivido o melhor de sua vida, dos momentos mais engraçados e fraternos com sua família aos amores mais intensos.

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⏰ Last updated: Apr 04, 2023 ⏰

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