cinco.

58 12 0
                                    

Sevilha, Espanha - Dezembro de 2021


Havia três meses que eles não se falavam.

Aliás, não se falavam e sequer se viam. Estavam na mesma cidade, apenas a alguns quilômetros de distância e ainda assim, não se esbarraram uma só vez.

Eva não atendia suas chamadas e raramente respondia suas mensagens. Quando o fazia, dizia que estava muito ocupada com o trabalho e por isso não conseguia dar atenção ao celular. Ele não questionava, apenas esperava alguns dias para tentar contactá-la novamente, e terminava por ter que se contentar com a mesma desculpa sempre.

Héctor também não a julgava. Sabia que havia vacilado em não contar a ela que estava namorando outra pessoa, ou que elas se conheceriam naquele fatídico 3 de setembro. Ele, e sua mãe, eram os únicos que sabiam o peso que ele passou a carregar em seu peito depois daquela noite.

A matriarca tentou convencê-lo a ir até a casa de Eva para conversar com a moça, mas ele sempre desconversava, dizendo que "não havia mais o que fazer", que ela "jamais o perdoaria" e que provavelmente "não queria vê-lo sequer pintado de ouro". Ainda assim, todos os dias, enquanto ia e voltava dos treinos, Héctor dirigia pelo caminho mais longo, apenas para passar na frente da residência de cor amarela, que ficava a exatos 3km de sua casa em Sevilha.

Depois de algumas semanas, ele sentiu que deveria colocar uma pedra sobre tudo, consequentemente sobre sua história com Eva, e aceitar seguir em frente. Mas não houve um dia sequer que o jogador não tivesse pensado na mulher em diversos momentos, enquanto realizava atividades comuns da rotina ou antes de dormir, sem sentir o coração se esmurrar dentro de seu peito. A proximidade das festas de fim de ano, em especial o Natal, que Héctor sabia ser a data comemorativa favorita de Eva, aumentavam a angústia dele em um nível que começava a preocupar até mesmo a terapeuta do jogador.

Os esteriótipos astrológicos de que piscianos amam e sofrem com muita intensidade não seriam desmentidos tão cedo. Pelo menos não enquanto Héctor Bellerín andasse por esse planeta.

Na manhã da véspera de Natal, ele acordou mais cedo que o normal e, inquieto, se levantou rapidamente, determinado a conversar com Eva, mesmo que fosse pela última vez. Em seus 26 anos de vida, ele nunca havia sido tão resistente em ignorar as vozes em sua cabeça tentando convencê-lo a desistir daquela visita.

Com as mãos trêmulas, Héctor alcançou a campainha escondida na lateral do grande portal da casa amarela e sentia que cada segundo se arrastava por uma eternidade enquanto aguardavam uma resposta. Não obteve.

Tocou a campainha novamente. Duas, três, por fim, quatro vezes, e nada. Eva não estaria em casa na sexta de manhã, véspera de Natal? Impossível. Quando decidiu se virar e voltar para o seu carro, se virou uma última vez em direção a casa, olhando para as janelas e a varanda que, com um espaço rodeado de plantas de todos os tipos, sabia ser a do quarto dela.

Ele apenas bufou e revirou os olhos ao notar a figura dela parada, encostada à porta de madeira, encarando-o com a cara inchada de sono e visivelmente irritada.

- Você não poderia ter vindo me atender? - Héctor voltou a caminhar, se aproximando novamente da casa e erguendo a voz para que a mulher o escutasse

- Talvez se você fosse menos inconveniente e não aparecesse na minha casa, sem me avisar, às 7h da manhã?! - a morena debochou.

- Eva, você mal responde minhas mensagens. Como eu te avisaria?! - ele cruzou os braços a encarando enquanto ela se aproximava do muro, no segundo andar.

- Primeiro de tudo Héctor, fale baixo! Meus vizinhos não são obrigados a ouvir você choramingar na porta da minha casa. E, se eu quisesse falar com você, eu mesma teria buscado uma maneira de entrar em contato.

𝑨𝑳𝑮𝑶 𝑪𝑶𝑵𝑻𝑰𝑮𝑶 | 𝑯𝑬́𝑪𝑻𝑶𝑹 𝑩𝑬𝑳𝑳𝑬𝑹𝑰́𝑵Where stories live. Discover now