E assim a história começa.

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Susana segurava de forma insegura o braço do irmão mais velho

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Susana segurava de forma insegura o braço do irmão mais velho. Um sangue escuro e pegajoso teimava em escorrer através do corte feito pela espada de gelo. O menino choramingava e a irmã do meio olhava com receio do rapaz para a mulher que apenas observava as três crianças.

Ao longe os quatro ouviram uma voz distante, um menino pequeno e assustado.

– Pedro! – Eles ouviram Edmundo chama-los.

– Só queremos buscar nosso irmão. – Arfou Pedro a certo custo.

A rainha estreitou os olhos e mal podia acreditar na ingenuidade de Aslam em mandar três crianças, sem treinamento algum, sem maturidade nenhuma, para enfrenta-la. Ele achava o que? Que a força do amor e do protagonismo os faria sair com sucesso?

Aquilo não era um conto de fadas.

– Matem-nos.

A mulher sibilou tediosa, dando as costas ao pequeno grupo e vendo seus capangas sacaram suas espadas.

– Pedro!

A voz do menino parecia mais urgente, mais desesperada. Lúcia fechou os olhos, chorando baixinho, quando um horrendo monstro se aproximou dela. Se não fosse por um simples movimento da rainha, eles estariam mortos.

Pedro viu a mulher erguer a mão, impedindo de seus capangas avançarem, talvez reconsiderando. Eles a olhavam, esperando novas instruções, mas ela apenas ficou encarando o nada. Ouvir Edmundo gritar os irmãos lhe fez repensar.

Ela se virou lentamente e encarou o garoto mais velho com um olhar ameaçador.

– Não irei mata-los. Ficarão vivos para verem meu triunfo. Eu abrirei as portas e poderão sair, ordeno apenas que saiam de Narnia, indo o mais longe possível. Se eu os ver novamente, não terei piedade.

– Mas... e Edmundo? – Quis saber Susana, desconfiada. A rainha sorriu.

– Se irem, ele ficará bem e seguro. Nunca deverão procura-lo, mas eu garanto que vocês saberão sobre ele.

– Só saímos com nosso irmão. – Arfou Lúcia, num ato de coragem. A rainha apontou a espada para o pescoço dela.

– Então não sairão. Decidam.



	Edmundo estava com o rosto colado a porta

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Edmundo estava com o rosto colado a porta. Ele jurava que ouvira a voz de Pedro, mesmo que bem baixo, mesmo que rapidamente. Ele gritara pelo irmão diversas vezes, mas agora o silencio era tanto que o menino se perguntava se não ouvira coisas; se sua mente não o fez delirar por puro desespero.

Ele estava irritado. A guerra estava destruindo sua família. Edmundo ouvia Lúcia chorar descompassadamente enquanto via seus dois irmãos mais velhos correndo de um lado a outro ajudando a mãe durante outro bombardeio que começava em Londres.

A mãe sempre foi uma mulher amorosa e Edmundo a olhava pelo canto, quieto e tentando não atrapalhar. Acho que no fundo o rapaz sempre percebeu que a mãe, por mais amorosa que fosse, não olhava o menino com a mesma doçura que dirigia aos seus outros três irmãos. Talvez tivesse algo de errado, Ed realmente sentia-se diferente dos irmãos. Mas seu pai sempre via Edmundo, ele recebia mais amor do pai, mais carinho e compreensão e quando a guerra o tirou dali, quando seu pai foi obrigado a servir, estar ali, agora, com sua mãe o olhando pelo canto, seu irmão mais velho tratando-o como se ele fosse o pai, como se ele fosse o homem da casa... aquilo irritou profundamente o menino.

Quando entrou no guarda-roupa e cruzou com a mulher de túnicas brancas, ele estava tão irritado, queria tanto que Pedro sofresse, queria que ele sentisse pelo menos um pouco do que Edmundo sentiu a vida inteira; então o menino a seguiu.

Mas dois dias foi o suficiente para sua raiva passar, ele sentia falta dos irmãos, ele queria ir para casa, ele até achava que poderia ser mais amoroso com a mãe, afinal, ela também perdeu o marido. Mas já era tarde. Ali não havia espaço para um menino de dez anos errar.

E ali, agora, enquanto jurava ter ouvido a voz de Pedro, ele sentiu tanto alívio, ele sentiu-se tão feliz. Seus irmãos talvez não o odiasse tanto, talvez Edmundo fosse um pouco importante, eles vieram busca-lo.

Vinte minutos gritando e nada e agora Ed só se sentia idiota por ter sido tão infantil, ninguém havia vindo. Ele estava sozinho.

O menino se recostou ao canto e se encolheu, chorando baixinho. Sozinho. Talvez eu seja um erro, pensou.

De repente, a porta se abre devagar. Ele ergue o rosto e vê a mulher de vestes brancas a qual se chamava Feiticeira. Ele a olhou com certo desdém e ansiedade e ela se aproximou devagar, ficando a certa distância dele.

– Queria lhe mostrar uma coisa. – Ela anunciou e sem delongas se virou e saiu do quarto, deixando a porta finalmente aberta. O menino fungou e se levantou relutante, a porta estava aberta. Talvez ele pudesse fugir.

Ele saiu devagar e viu um longo corredor. Havia três caminhos bifurcando na esquerda e na direita a mulher andava calmamente. Sair correndo era um risco, mas ela não olhou para trás para ver o que Edmundo faria.

– Achei que fosse querer ver seus irmãos. – Ela anunciou ainda caminhando, sem se virar. Ao ouvir isso, Ed a olhou preocupado e finalmente caminhou na direção da mulher.

Ela havia parado numa longa e esguia janela de gelo que dava para a vastidão de inverno do lugar. Ed se aproximou, respirando o ar gélido e o sol frio depois de dois dias preso e então viu ao longe três pontos caminhando. O rapaz franziu o cenho, confuso.

– Eles vieram até mim para pedir para irem embora. – A mulher comentou despreocupada, olhando-os também. Ed a olhou surpreso.

– Eles estavam aqui?

– Sim, eu os deixei ir.

– Eles não vieram me buscar? – O menino perguntou baixinho.

De repente o mais velho se virou para olhar o castelo uma última vez, Ed viu Pedro encontra-lo na janela. Os dois se encararam por alguns longos segundos até Pedro se virar e continuar andando, levando as irmãs consigo.

Ele sabia que Ed estava ali e mesmo assim estava o abandonando?

– Você é igual a mim, Edmundo. É incompreendido e grandioso. Eles não entendem você como eu. Eu o vejo como realmente é.

A mulher ergueu o pequeno rosto a sua frente. O menino queria chorar, seus lábios tremiam, mas ele respirava profundamente, controlando-se. Quanto mais seus olhos queimavam, mas seu coração pesava. Quanto mais percebia que havia sido rejeitado, mais ódio ele começava a sentir. E de todas as palavras da Feiticeira, esta era a verdade: ela o via. E via o potencial de um coração endurecido.

– Eu serei seu escravo? – O garoto apenas quis saber, olhando os três irmãos se distanciarem tanto que eram apenas três pequenos pontos no meio da neve.

– Não, filho. Será meu braço direito. Será meu herdeiro!

A mulher beijou o topo dos cabelos lisos e negros do menino e ele fechou os olhos, com o rosto endurecido de ódio e deixando escapar uma única lágrima, a lágrima que guardava toda a tristeza de ser rejeitado, de não ser amado.


E assim a história começa.

CRUEL PRINCE, Edmundo Pevensie  ⋅⋆⊱ As Crônicas de Nárnia.Onde histórias criam vida. Descubra agora