Pense, pense, pense

1K 98 30
                                    


Isabel escutou um barulho suave de relincho de cavalos, mas ainda ficou alguns minutos a mais na cama, mesmo sentindo a luz inundar seu quarto. Ela coçou a vista e trocou de roupa. A trança de lado feita por Doyle ainda estava quase inteira, então só a ajustou e desceu para colher frutas e tomar um café fresco.

A ruiva desce e vê Clovis limpando o bar, mas ela para ao ver um homem sentado numa das mesas, tomando um café e cortando um pão. Ela ergue os olhos para o atendente e Clovis apenas ergue os ombros, sem saber o que dizer.

– Majestade. – A moça murmura um tanto surpresa ao ver o rei da Arquelândia sentado em seu bar, comendo como uma pessoa qualquer.

– Ah, Isabel. É bom revê-la.

Ele se levanta e beija a mão da moça que ainda está assustada e tensa com sua visita inesperada.

– Eu posso ajudá-lo?

– O café de vocês é muito bom. Quer se juntar a mim?

Ele sentou-se novamente e Isabel apenas o acompanhou. Eles ficaram alguns minutos em silencio até ele olhá-la e sorrir.

– Você está bem tensa.

– Sinto que deveria estar. Majestade, o que faz aqui?

– Eu precisava falar com você. A sós, se possível.

A ruiva olhou para Clovis e ele ficou relutante de deixá-la sozinha ali, mas por fim suspirou e tirou o avental.

– Estarei nos fundos pegando lenha, qualquer coisa me chame. – O rapaz saiu e de repente tudo ficou silencioso.

– Fico feliz que tenha conseguido sair das mãos de seu governante. – Ele pontuou casualmente. – Fico me perguntando como?

– Fizemos um acordo, eu cumpri minha parte e ele cumpriu a dele.

– Ah, claro. Seu príncipe é claramente muito generoso. – O rei sorriu irônico e deu uma mordida no pão.

– O que quer, senhor?

– Quero sua ajuda.

– Minha ajuda?

– Sua ajuda e vim ajudá-la. Irei invadir Narnia.

Ele disse tão naturalmente, enquanto limpava a boca com um guardanapo, que a ruiva não teve reação. Ela abriu a boca, mas ela simplesmente não conseguiu dizer se tinha entendido de verdade.

– Invadir?

– Sim, invadir. Tenho juntado um exército nos últimos anos. E graças a sua ajuda consegui resguardar o dobro de meus homens para lutar. O príncipe estava bem aéreo em nosso encontro e eu agradeço a você por isso.

– Atacar, você vai nos atacar? E está aqui me agradecendo? O que...

– Acalme-se, Isabel. Não pretendo machucar você e sua família, por isso vim aqui. Ofereço abrigo a vocês.

– Desculpa, isso é algum tipo de piada? Você vai atacar nosso vilarejo, o país inteiro, e eu devo agradecer por poupar minha vida?!

– Sim, deve. Vou fazer isso porque tenho carinho por você e também porque acho que seria vantajoso mantê-la ao meu lado. Mas quero paz, quero o meu reino livre. E se para isso eu precisar entrar em guerra, eu farei. Sinto muito que seu povo seja afetado.

– Saia daqui. – Isabel se levanta e aponta a porta.

O homem suspira e limpa a boca antes de se levantar lentamente e olhá-la uma última vez.

CRUEL PRINCE, Edmundo Pevensie  ⋅⋆⊱ As Crônicas de Nárnia.Where stories live. Discover now