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- Emilly? - Escuto me chamarem do outro lado da porta.
A voz da pessoa tem um tom baixo, mesmo que tenha apenas dito uma palavra, me senti anestesiada, eu já sabia a quem o timbre pertencia, mas estava insegura.

- Seria mau educado dizer que não estou? - Pergunto quase chorando. Eu estava emocionalmente instável naquele momento, se ela viesse conversar comigo, não sei como conseguiríamos sair do meu quarto depois,pois o mesmo ficaria inundado em lágrimas.

- Eu não entrarei se realmente não quiser. - A mulher afirma me deixando estática.

- Pode entrar... - Cedo frustrada.

- Com licença! - Ouço seu pedido educado e logo em seguida já sinto sua presença se misturar a minha no ambiente. Eu ainda estava sentada em minha cama,de costas para a janela,com as pernas dobradas até o busto e a cabeça baixa, nem sequer fiz questão de olha-la.

- É um quarto de princesa!. - Seu comentário ecoa por entre as paredes depois que pelo que presumo,ela ter examinado todo aquele cômodo. Já frustada por não estar mais sozinha e nem por conseguir mandar a mulher embora, saio da minha posição e me coloco de pé,a sua frente e a encaro.

- E também é real. - Declaro.

- Sim é real e isso na verdade tem bastante sentido Emilly!. - Ela fala calma. A mulher que estava a poucos metros de mim,inicia uma caminhada lenta em minha direção e eu apenas me ponho a observar-la.
Calça jeans branca, regata preta,jaqueta e saltos azuis... Laine era uma mulher uniforme.

- Não vejo sentido nisso e nem em nada mais. - Confesso cansada.

- E por que não querida?.

-  Você sabe por que,se não ,não estaria aqui agora. - Ralho acusatória.

- Emilly...

- Desde quando?. - Pergunto e ela suspira.

- Seus pais foram no meu escritório há alguns dias... - Ela explana.

- Eu sabia!, isso tudo faz sentido pra você?. - Minha fala soa dura.

- Depende de onde você quer tirar o sentido! - Laine sugere.

- Eu não vejo razão para tirar o chão dos próprios pés. - Reclamo.

- Talvez esse chão não seja sólido o suficiente!. - Ela insiste.

- É sim,pra mim é. - Grito insana.

- Não Emilly, você não sabe disso, é nova demais pra construir certezas ,pra procurar solidez. - A mulher a minha frente me afronta.

- Então por que dói tanto?,se não era pra ser aqui, nem assim...por que sinto que tá tudo errado?. - Questiono ja chorando.

- A dor sempre vai existir,não importa o momento,a causa,ou o nome. - Laine fala e me consola com um abraço.

- Você veio aqui só para isso?, Me ajudar a aceitar tudo isso?.

- Não, vim para me despedir também, não poderei ir com vocês!. - Ela revela e a aperto mais em nosso abraço.

- Vou sentir... sentir saudades. - Minha fala sai embolada pelas lágrimas.

- Também sentirei. - Ela fala após nos separarmos - Mas tenho uma boa notícia pra você! - Ela exclama alegre.

- Qual?. - Pergunto enquanto enxugo o rosto com sua ajuda.

- Lá em Nova Iorque tem uma amiga minha que, também é psicóloga, ela acabou de terminar de acompanhar uma garota um pouco mais velha que você aqui na cidade e foi para lá,o nome dela é Luana,eu até mesmo ja falei de você para ela e assim vocês duas podem conversar lá,assim como conversamos aqui, o que acha?.

- Não gostei muito,não nos veremos mais Laine!. - Respondo fazendo biquinho.

- Pessoalmente realmente não vamos mais,porém ,podemos conversar pelo celular, hum?.

- Pode ser ... - Respondo sem alegria. Contudo não havia nada que eu pudesse fazer em relação a isso.
Após passar mais alguns minutos conversando com Laine,somos interrompidas por batidas na porta do quarto.

- Quem é? - Pergunto

- Emilly,sou eu Mario,posso entrar?. - Ele pergunta e logo olho para Laine, que me sorri ladina. Sem demora,ela caminha até a porta, abre-a e se vira para mim apenas para se despedir com um balanço de mãos,faço o mesmo e em seguida já não a vejo mais.
Em seu lugar , Mario ocupa o espaço, entrando e fechando novamente a porta.

- Te procurei por toda parte. - Ele diz se aproximando.

- Não procurou não?. - Acuso

- Procurei sim! - Ele revida.

- Não mesmo!. - Insisto.

- Por que acha isso?. - Ele questiona de braços cruzados.

- Esquece. - Digo por fim.

- O que houve, você subiu tão rápido!,não está se sentindo bem?. - Ele expressa sua preocupação e me sinto desolada.

- Eu vou embora. - Confesso.

- Daqui?, Não,não faça isso,eu fico calado agora!. - Mario dramatiza e eu bufo.

- Irei embora deste país Mar!. - Falo e ele parece cair na real.

- Por quanto tempo?.

- Ainda não sei... - Falo chorosa e sem demora sinto mais um abraço de consolo nesse dia .

- Emilly.... - Ele fala meu nome ,mas sei que não sabe como falar o resto.

- Também vou sentir saudade de você Mar... - Choramingo ao pé do seu ouvido.

- Nos veremos novamente Emi. - Mario declara e me solta do abraço,ficando assim a minha frente.
Olhando diretamente em seus olhos ,consigo capitar o momento exato em que ele segura minhas bochechas a se inclina sobre mim, meu coração quase parou de bater ao sentir o beijo rápido,quente e macio que o garoto depositou bem no canto da minha boca.
Nenhuma vez antes, Mar havia sido tão ousado, a pele ao redor do meu rosto ainda formigava quando sua voz chegou aos meus ouvidos,baixa e calma,me pedindo para levar aquele gesto como uma lembrança dele comigo. E sem ter para onde correr,com o que,ou por que questiona-lo ,eu apenas existi anestesiada e rendida  naqueles instantes.

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