Daniel ficou parado na porta como uma muralha barrando a passagem de Éros.
— Eu já tava de saída, fica a vontade.— Max se levantou para sair e recebeu um olhar de repreensão de Daniel.
— Olha que eu fico, hein.— Éros se encostou no batente da porta e encheu uma bola de chiclete, olhando para Daniel.— Foi bom te ver, Max.
Max lhe cumprimentou com um aperto no ombro e saiu, deixando os dois sozinhos.
— Que coincidência nossas famílias se conhecerem, não?
Éros estava com parte do cabelo preso num coque e a gravata frouxa na blusa social do uniforme escolar. Mesmo sem convite, o garoto entrou. Daniel apertou a maçaneta com força, reprimindo a vontade de esganá-lo, e fechou a porta antes de se virar.
Éros estava olhando para os quadros da organização pendurados na parede da sala. Quadros muito antigos, da época em que os Anjos Guerreiros ainda eram uma fraternidade para garotos indisciplinados, até transformar-se num clube de caça para homens, onde eram colocados diante do digno propósito de limpar o mundo de demônios... mentalistas.
Daniel o olhou enquanto ele olhava para os quadros...
... perto demais...
Podia simplesmente pegar o Machado preso na parede e bater com força na cabeça dele, como sempre desejou fazer.
— Anjos Guerreiros... é um nome bem bíblico.— Éros pegou a cruz prateada que estava na mesa de artefatos e descobriu que era, na verdade, uma adaga em formato de cruz.— Vocês tem o apoio da igreja?
Que tipo de informação ele estava querendo?, pensou Daniel.
— Me chamam de Papa e caçamos demônios... é óbvio que temos o apoio da igreja — Daniel respondeu de braços cruzados.
— A igreja financiando assassinos... Quem poderia imaginar?— Éros fingiu surpresa.
— Deus é violência — respondeu Daniel.— Ele não seria justo se fosse bom.
Daniel não se definia como religioso, mas ele acreditava no divino. Ele viu coisas demais para não acreditar. E diferente de muitos, ele não acreditava que Deus tinha culpa pelas coisas ruins que aconteciam. As pessoas tinham. Por isso, eram elas que deviam ser punidas.
As palavras dele fizeram Éros o encarar por sobre os ombros e enxergar o terço pendurado em seu pescoço.
— É claro que confia em Deus. Pessoas como você, não morrem por causa dele — provocou Éros.
— Veio até aqui pra discutir religião?
— Seria inútil. O Deus dos mentalistas é o Étrom, e ele é tão cruel quanto o seu Deus. Eu não teria como me defender.
Os mentalistas tinham sua própria religião e seu próprio Deus, mas Éros não era devoto. Ele cresceu lendo e ouvindo histórias sobre o Étrom que o fazia acreditar que Ele não era tão diferente do Deus católico para o qual Projenitores e humanos se curvavam.
Éros pegou um quadro na mão, ciente de que sua atitude irritava Daniel.
— Por que só aceitam homens?— Éros olhava para o porta retrato.
Daniel passou um tempo em silêncio antes de responder.
— A anatomia masculina é mais propícia ao combate.
— Ah, é?— Éros o lançou um sorriso presunçoso e deixou o quadro de lado, curioso para ouvir o discurso dele.
— É da natureza do homem ser um guerreiro. O homem é biologicamente conduzido pela razão e anatomicamente possui uma estrutura física mais forte. Tudo o que precisam é de um ideal bem definido e treinamento pra direcionar essa força pro lugar certo.

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Espectro da Meia-Noite/ Legado Das Sombras- Livro I
ParanormalÉros sempre teve convívio com o mundo sobrenatural, isso não era surpresa alguma para ele. Seus pais faziam parte do grande Conselho que regia a Sociedade Secreta das Sombras, responsável por todas as castas mentalistas que se tinha conhecimento. El...