Capítulo 4 (Um alento triste)

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   Laurent chegou atrasado ao final da corrida, sua musa já estava sendo abraçada e agraciada por diversas mulheres e homens, nenhum digno dela, nenhum realmente capaz de faze-la feliz. O assassino não se aproximaria, ficaria como sempre, a uma distância mais que segura, desta vez estava sobre um prédio de três andares.

   As ruas estavam lotadas, iluminadas e barulhentas, dificilmente chamaria atenção ali, via alguns abatedores de carteira trabalhando, também algumas pessoas bebendo e cheirando o que não deviam. Algumas garotas da noite fazendo o seu dinheiro suado, e em meio a todo aquele caos e podridão, estava àquela menina, aquela garota linda, mas de um olhar cansado e assombrado pelo vazio.

   – Ela é bonita, infelizmente, dizem que ela nunca se envolve com ninguém. – Disse Devika, enquanto chegava por trás.

   Laurent e Devika possuíam uma história, não muito longa, os dois haviam sido treinados pelas mesmas pessoas, só que ambos tinham ambições diferentes, mesmo que por um tempo os dois tivessem seguido pelo o mesmo caminho, mais cedo ou mais tarde, eles se separariam de forma drástica, como aconteceu.

   Nunca houve uma briga entre os dois, só que Devi nunca suportou o fato de Laurent ser bom em diversas coisas que ela não era, e Ka o achar atraente, isso a irritava ainda mais.

   – Você a conhece? Já falou com ela? – O rapaz tentou não soar desesperado.

   Devika se aproximou e sentou-se ao lado do antigo colega, levou um tempo para responder, estava assistindo as pessoas, seria paga para contar sobre aquele evento medonho.

   – Sim, acho que todos já trocaram algumas palavras com Izanami, querendo ou não, ela é famosa por aqui... Trabalhando para a Adikia seria difícil não ser, também pelas suas amizades. Ela é uma garota muito boa em se envolver com as pessoas certas nos lugares errados.

   O rapaz olhou para a mercenária por poucos segundos.

   – Você jamais estaria aqui sem um bom motivo. O que traz você para cá?

   Existiam poucas coisas que incomodavam Devika, mas uma delas era trabalhar durante a noite no submundo, ou em qualquer parte onde as ruas fedessem vinte e quatro horas, se fosse em qualquer outro lugar e em qualquer outro horário, ela não se importaria. Seu passado com o submundo da Cidade de Cristal não era bom, suas lembranças e traumas eram culpa daquele pedaço podre da cidade.

   – Trabalho, sempre é o trabalho.

   – Se te animar, posso pagar o jantar hoje.

   O Corvo gostava de Devika, ela era meio babaca, só que era engraçada e aleatória na medida certa. Entretanto, não era o tipo de pessoa com a qual o rapaz gostaria de conviver todos os dias, para uma amizade de raros encontros, ela era ótima.

   – Acredite, Laurent. Realmente adoraria, mas minha noite só acaba quando meu serviço estiver completo, infelizmente, falta bem mais do que gostaria.

   A mercenária se levantou.

   – Que pena, fica para a próxima então.

   Os dois possuíam uma regra, que valia para quase todas as pessoas Erebus, não se conta o que faz ou fez durante a noite, independente do que seja. Principalmente no submundo. Era um jeito de manter seus contatos e empregos seguros e de evitar se expor demais para alguém que, muito provavelmente, viria a te apunhalar pelas costas em algum momento.

   – Seu pássaro está bem?

   O assassino conseguiu conter sua cara de surpresa ao escutar a pergunta.

Cidade de CristalWhere stories live. Discover now