Capítulo 15 (Águas calmas, profundezas tormentosas)

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   Izanami levou todas as bebidas que tinham álcool para o seu quarto, trancou a porta, e as bebeu sozinha ao decorrer da semana. Tinha vergonha de que os outros a vissem bêbada... E naquela situação deplorável causada por um casamento que já tinha acabado há muito tempo.

   Odiava que a vissem frágil, que tivessem pena dela e, acima de tudo, que se preocupassem com ela. Não queria ser um incomodo na vida dos outros, muito menos por uma dor tão mesquinha, que mesmo assim doía, por sentimentos que... Que nem mesmo ela compreendia.

   Queria que bater a cabeça na parede resolvesse o seu problema, que chorar ou ignora-lo a fizesse esquecer de quase quinhentos anos, queria que nenhum conhecido do passado lembrasse do seu rosto, que não tivesse tido que lidar com alguns a procurando, pedindo para ela voltar para Drystan.

   Ela pensou em voltar, todos pensariam, enquanto se isolava e chorava a ideia da vida que perdeu podendo ser novamente o que sempre foi, apenas com o seu perdão... No início, todas as lembranças boas vem a tona, as risadas, os abraços, os jantares, as danças... As promessas.

   Logo após isso passar, a raiva das promessas quebradas, das brigas bobas, da falta de atenção, de valor que Drystan dava a ela, ao pouco caso que fazia dos problemas de Nami, de como fazia seus problemas sempre serem maiores e mais importantes...

   Lenia foi o porto seguro da mestiça por um tempo, por conta disso, pensou em negociar com os deuses, pensou em diversas coisas, mas precisava de conhecimento, precisava preencher o vazio que seu marido havia deixado na sua vida.

   Então o tempo passou, e Izanami se encontrava ali, em um quarto escuro com o mesmo ar de uma semana, chorando e bebendo nas mesmas roupas sujas, querendo nunca ter nascido, nunca ter tido o desprazer de viver em um lugar onde Drystan viveria, pois se fosse assim, ela não sentiria falta ou o que quer que fosse aquele sentimento repugnante que estava em seu peito.

   A corredora colocou a mão embaixo da cama, a procura de um caderno surrado de capa de couro gasto, estava bem para o fundo, mas a mestiça o alcançou, nele ela desenhava e escrevia. A garota folheou o caderno, nele havia de tudo.

   – Coisas quebradas possuem certa beleza triste... – Nami riu, seu amigo havia escrito isso abaixo de um de seus desabafos sobre ser uma esposa ruim, por seu marido a trair, de ela estar quebrada por não se sentir sexualmente atraída por ele. – Erendiz, sua esposa tinha tanta sorte... – Algumas lágrimas escorreram pelo seu rosto.

   "Beba, lubrificará o seu cérebro" – Erendiz Fernes.

   – Acho que bebi demais, Fernes, acho que... Acho que estou perdida novamente. – Sussurrou Izanami com um estranho pesar daquelas palavras, com receio do real peso delas.


   Drach não incomodou sua não-irmã até o dia do leilão, mas ele precisava de Nami, todos precisavam... O problema era que o menino sabia que teria que cutucar a fera com uma vara curta...

   – Nami! – O vândalo espancou a porta às sete da manhã. – Acorda, fiz café e você precisa provar o vestido do leilão. Ah! O leilão que é hoje.

   A garota respirou fundo, precisava de um banho, seu cabelo estava seboso e seu corpo fedia, escovar os dentes também era essencial... Levou cinco minutos para criar coragem de sair do quarto.

   Drach não acreditou que Izanami realmente sairia do quarto às sete da manhã. O cheiro de fechado e... O que quer mais que deixasse seu quarto com um cheiro tão podre, contaminou o corredor, o cheiro da mestiça não estava tão diferente do seu quarto. O menino precisou engolir a vontade de fazer uma careta.

Cidade de CristalWhere stories live. Discover now