Capítulo 29 (Estaca zero)

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   Adikia não deveria estar ali, ficar no apartamento do Samael não ajudaria a recuperar tudo o que tinha perdido... Perdido! Ela havia perdido tudo, mas os outros não pareciam preocupados com isso, não ligavam para aquilo. A cafetina achava até um tanto irônico, já que quase todos viviam do dinheiro dela.

   Samael não acreditou quando entrou no apartamento, primeiro que as paredes estavam repletas de desenhos feitos com tinta spray das mais diversas cores, havia potinhos com comida em cada maldito canto. Meias sujas de baixo da mesa de centro da sala... Aquilo tudo era do Drach, ele não tinha a menor dúvida.

   Devika e Laurent não imaginavam que o apartamento de alguém como Samael seria tão irado, a imagem de garoto certinho e engessado estava sendo quebrada aos poucos.

   Mahina olhou para Samael no mesmo instante que viu o que havia acontecido com o belo apartamento do rapaz. Sua irmã ria, parecia se divertir em ver seu irmão tendo um pequeno ataque de raiva, mas ele apenas respirou fundo e ignorou tudo.

    Elvi e Drach conversavam sobre como o menino tinha confundido Laurent com um agente da Arisu e sobre a batalha exagerada deles. Izanami escutava atentamente e matava O Corvo, de diversas formas, apenas com o olhar... Ela e o jovem Fernes teriam muitas coisas para acertar no futuro.

   – Serei a primeira a tomar banho! – Gritou Meyv.

   Logo todos se expressaram sobre o assunto, se organizando para ver qual seria a ordem. Mahina se apressou para a cozinha, logo Samael foi fazer companhia a ela. Devika foi depois, puxando Drach e Elvi.

   Elvi não se sentia muito a vontade perto de Samael, as falas dele, o modo de pensar a fazia se lembrar de uma pessoa a qual já tinha superado a perda... De certa forma, mas todos ali a lembravam de alguém, mesmo que da forma mais simples e superficial. Anos existindo levavam a isso.

   Izanami olhou para Adikia, que suava frio e roía as belas garras, preferiu deixar a cafetina lidar com sua ansiedade sozinha. Nami preferia lidar sozinha e imaginava que a felina também preferisse.

   Ela não pretendia se juntar aos demais na cozinha, não estava com fome... Não tinha visto Laurent junto a eles, procurou nos quartos e até perguntou a Meyvka, que tomava banho, se ele estava ali. O único lugar que restava era a cobertura, onde havia uma enorme sacada.

   O vento soprava forte, entretanto, lá estava ele. O jovem garoto Fernes estava com seu pássaro agarrado ao seu braço, mas ao perceber que tinham companhia o disse para voar, prontamente o animal obedeceu. Izanami se aproximou sem pressa da sacada da qual o assassino agora se apoiava.

   – Qual é o nome da ave? – A corredora ajeitou seu cabelo atrás da orelha, na tentativa de evitar que fosse ao seu rosto novamente, só que o vento fez sua atitude ser em vão.

   – Weylin... Ela foi o último presente que meu pai me deu.

   – Então esse foi o nome que deu a ela... É um belo nome, combina com ela.

   Ele tinha tantas perguntas a fazer a ela, tinha tantas coisas para dizer a Izanami, mas estar tão perto dela, de poder olhar seus olhos que não eram nem azuis e nem roxos, mas uma mistura hipnotizante de ambas as cores em um equilíbrio perfeito o deixava sem palavras, apenas condenado a admirá-la até ela mandá-lo parar.

   O olhar fixo dele no seu foi como um soco no estômago. Laurent não estava apenas olhando para ela, mas vendo ela por completo, enxergando cada maldito detalhe da sua alma. Seu olhar era idêntico ao de Erendiz, entretanto, a cor dos seus olhos era idêntica ao de sua mãe, aquele azul escuro... Sua irmã também os tinha. Ambas as crianças demonstravam ser uma mistura perfeita dos pais.

Cidade de CristalWhere stories live. Discover now