4. Em Meus Braços

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- Que tal um café, é por minha conta hoje – disse eu quando nos encontramos em frete ao Halls Coffe local ao anoitecer.

- Nesse caso, quero um capuchino bem caro – ela deu de ombros enquanto entramos no local.

Nos acomodamos na mesa de antes e após fazermos nossos pedidos generosos, ela prendeu os cabelos em um coque bagunçado que lhe deixava sexy e jovial.

- Finalmente – falei descontraído, havíamos tentado nos encontrar a alguns dias até aquele momento.

- Sim – concordou ela – Como vão as coisas no açougue?

- Bem – respondi meio surpreso, afinal nenhuma garota jamais havia me perguntado como ia meu emprego desossando imensas partes de carne de um animal morto – E o seu? Suponho que trabalha na biblioteca.

- Bem sabe que sim – ela apoiou os cotovelos pálidos sobre a mesa e me encarou acusatoriamente – Sei que me espreita Grego.

Engoli em seco e ergui as mãos.

- Me pegou – confessei – Mas como eu poderia não querê-la?

- Uau – ela ergueu as sobrancelhas – Bem direto. Demorou o que, quase dois meses?

- Você me fissurou não negarei – contei e dei de ombros – Mas sou humilde o suficiente para me contentar apenas como nossos encontros irônicos.

Havannah me encarou como se quisesse ver minha alma, e pelos céus, felizmente ela não o podia fazer, ou sairia correndo.

- Eu sou um caos Grego – murmurou para si mesma – Quase nunca sou cais.

- Talvez queira saber que também sou assim – tirei os óculos – Não estou pedindo nada a você. Apenas que me mostre um pouco do meu mundo.

- Talvez fique desapontado em saber que a garota que tantos acham misteriosa e livre é mais solitária do que parece... – ela riu e recostou as costas na cadeira.

Os olhos como amoras brilhavam e seu lindo rosto delicado, parecia caber na palma da minha mão.

- Sai da casa dos meus pais a alguns meses devido nossas diferenças morais, tranquei a faculdade de letras e artes plásticas e agora moro em um prédio decadente e dou aula para crianças na biblioteca municipal – ela contou os itens nos dedos – E bem, gosto de tequila e sorvete nos finais de semana, e bem...

- Bem o que?

- Talvez eu esteja gostando de alguns novos vizinhos.

Havia um certo veneno especial e inocente no ar quando ela disse isso. Meu corpo estremeceu de forma suave e nervoso.

- E eu não quero mais um patife para me dizer oque devo fazer ou o que quero para o futuro – pontuou de forma crítica – Estou contente vivendo o hoje e não me importo em dar as costas.

- Não acho que sua vida seja desinteressante – ri sincero – Parece simples e boa.

- Eu poderia dizer o mesmo de você vizinho – ela me lançou um olhar desconfiado – Mas é bem mais interessante do que penso – Não acho que alguém com sua aparência, modos e estilo de vida se dê através de um açougue.

- Tem algo que queira saber? – indaguei.

- Não agora – ela inclinou a cabeça, animada pro nossas bebidas quentes chegarem.

Voltamos a pé para nossos prédios, e antes de subir as escadas, Havannah, ousada e calma, me pegou pelo colarinho e me beijou nos lábios como se quisesse um tipo de experimentação, ou provocação.

Me encarou com seus olhos de menina e deu as costas. Mas não antes que eu a puxasse pela cintura e a prendesse contra a parede.

- Não quero que pense que sou uma vadia – sussurrou engolindo em seco, com os olhos em meus lábios.

- Não é uma vadia – sussurrei em seu ouvido, a fazendo tremer – É meu caos.

A beijei novamente, louvável e desesperadamente, e com dificuldades, a deixei e caminhei e caminhei em direção ao prédio verde. Meu coração batia tão forte, como se fosse um tambor de guerra, me mandando voltar ao campo de batalha.

Mas eu não queria errar com ela.

Continuamos saindo e nos conhecendo, até que ela não me fizesse sofrer tentas restrições sobre seus sentimentos.

Foi em um final de semana quente e desconfortável quando ela ligou para o meu prédio, já que eu não tinha celular.

O recado era que se eu pudesse, deveria ir ao apartamento dela.

Corri para tomar um banho, vesti camiseta, calças comuns e chinelo e desci as escadas apressadamente tentando arrumar os cabelos com os dedos.

Quando cheguei na porta dela, estava suado e sem folego.

- Ceús, veio correndo? – ela arregalou os olhos ao abrir a porta.

Procurei sinais de algo errado e rapidamente constei cheiro de comida queimada e seus lindos olhos de fada inchados de chorar. Entrei na sala e me deparei com um imenso bolo tostado como carvão sobre a pia.

- O que aconteceu? – indaguei enquanto ela caminhava cabisbaixo com seu choped e calças de pijama azuis escuro até o sofá.

- Eu deixei queimar o bolo – então deixou-se cair lentamente no sofá com as mãos no rosto. Se dissolvendo em lágrimas.

Mas não se tratava do bolo.

Sentei-me ao seu lado e aninhei seu rosto em meu peito, e a pós mais algumas lágrimas, ela suspirou e me olhou:

- Problemas familiares – contou – Somente por eles eu choro. Não sou tola e fraca.

- Tudo bem Annah – segurei seu rosto com as mãos – Família é a coisa mais complexa de todas. Fui criado por um velho narcisista acredite se quiser.

- Sinto muito – disse ela encostando o nariz no meu.

Nos beijamos por um tempo e tratamos de abrir as janelas para o cheiro de queimado se esvair vento afora. Olhamos para o escuro da noite e poucos instantes depois, uma brisa suave com chuva caiu do céu.

Abraçado ali com ela, parecia o lugar mais seguro que eu poderia querer. Almejar.
Afundei o nariz em seu cabelo sedoso e perfumado e beijei sua testa:

- Quero você na minha vida.

- Não seja melodramático.

E bem, ela enfiou as mãos nas minhas calças e cambaleamos até seu quarto. O lugar mais arrumado da casa, com edredons e livros por toda parte.

Saboreei cada segundo da pele dela como se o suor fosse sangue, água, minha fonte de vida. E não permiti que seus gritos de prazer ecoassem pelos ouvidos dos outros vizinhos.
Cobri sua boca e a prendi contra mim deixando claro que ela era minha e de mais ninguém.

E ela se deliciou com o pecador audacioso e quase cruel que eu era.

Dormiu de pele crua no calor dos meus braços, e só consegui descansar os olhos quando o sol raiou.

PREDADORWhere stories live. Discover now