Foi assim que começou com Havannah e desde então não nos afastamos por mais nenhum motivo, como amantes, apaixonados, animais, insanos.
- Até que a história o corpo de Dália ter sido encontrado em Jacksnoville. Todos estavam demasiadamente aterrorizados e amedrontados com a perspectiva de que fosse o mesmo assassino das duas garotas anteriores. Estavam certos.
Lembro da primeira vez que senti vergonha e culpa maçante sobre a ultima garota, a que eu não havia matado dolosamente.
- Pobre garota – comentou Annah enquanto caminhávamos para meu apartamento em uma noite após um jantar com alguns colegas.
Ela parecia estar com os pensamentos torturados por aquilo.
- Viu as fotos do corpo em decomposição? – indagou frustrada – Como alguém pode fazer isso?
Segurei mais firme sua mão e a beijei na testa antes de entrarmos no elevador.
Como alguém faria uma coisa dessas?
Bem, Dália havia descoberto meu lado doentil, mas ao invés de ser verdadeira e pedir que eu me afastasse, a vi saindo de um motel as seis da madrugada de um domingo. Enfurecido, sai do carro que havia estacionado próximo a uma oficina e agarrei-lhe pelo casaco a xingando e lhe dizendo que havia sido desonesta.
Ela cuspiu na minha cara e me dar conta de minha fúria, a atirei de cabeça no chão e levei seu corpo inconsciente em direção aos fundos daquela velharia fechada. Haviam peças de carros e motores molhados e fedidos pelo matagal, fazendo a cena ser mais mórbida do que eu poderia imaginar.
Cavei um buraco no chão com o auxilio de pedaço velho de pau, e após me certificar que não havia mais como voltar atrás, que não havia mais pulso e que segundo a segundo o ferimento da cabeça jorrava todo o sangue que restava em seu corpo maldito, a encolhi e a enfiei no buraco e cobri com terra e todo tipo de lixo que havia por perto.
Fora a coisa mais perversa que fiz com alguém e jamais me perdoaria por isso. Não imagino o estado terrível que deviam tê-la achado considerando o tempo corrido desde então.
- Oh não consigo afastar a imagem – Havannah continuava enojada.
- Prometo que isso jamais acontecerá com você – disse-lhe beijando o nariz – Jamais.
- As pessoas são terríveis querido – sussurrou – Sou abençoada por ter você.
Passei o restante do dia com o estômago embrulhado. E os dias seguintes. A qualquer momento a policia poderia descobrir que fora eu, e que talvez, aquela descoberta fosse o livramento da minha doce amada de meus dedos sanguinários.
E tudo começou a se apertar, e meu amor por Havannah aumentar.
Imagine meu desespero quando meu tio, e meu empresário ligou no meio da manhã para meu prédio e pediu para falar comigo.
- Como descobriu minha localização? – indaguei com minha garganta empolando ao ouvir sua voz acusatória.
- Sou poderoso Grego, pôs o poder em minhas mãos, mesmo que ainda seja meu patrono – disse meu tio – Preciso saber se foi você quem fez aquela coisa audacioso e terrível com aquela pobre garota.
- Por que acha isso? – tossi.
- Ora pelos céus! Como pôde? Como pôde? Eu o ajudei a encobrir seus rastros de sangue duas vezes porque tudo pareceu natural, mas isso é demasiadamente terrível.
- Acreditaria se eu dissesse que não quis fazer aquilo? Certamente não. Por isso me mudei.
- Ora e me diga, já tem a próxima presa a vista ou já está com as mãos dela?
- Não farei isso novamente tio Carter, não farei.
- Ouça, vou visita-lo daqui algumas semanas, e virá comigo para se tratar. Não pode viver livremente como um cidadão comum enquanto mata jovens como se não fossem nada, e se se recusar, meu caro, vai se arrepender eu garanto. Não me importo em ser seu cumplice se for para poupar mais uma vítima.
- Sempre soube como eu sou – bufei – Sempre soube, não diga que agora está com remorso por não terem me internado em uma clinica ou me lançada atrás das grades a séculos. Não ouse.
Então desliguei o telefone e pedi que não me avisassem mais sobre aquele número.
Consegui me isolar por dois dias e no terceiro, ao anoitecer, bati na porta de Havannah.
- Tolo – gritou ela assim que abriu a porta.
Surpreso, não me defendi enquanto me olhou com olhos de magoa.
- Acha que pode sumir por dias e aparecer aqui como se nada tivesse acontecido? – ela continuou falando furiosa como jamais havia visto – Não quero alguém indo e voltando para minha vida entendeu bem?
- Me perdoe – falei avançando alguns paços.
- Espero que possa provar um motivo plausível para isso, e saiba que não me envergonho de parecer surtada e louca por exigir isso – ela esticou as mãos na porta, me impedindo de entrar.
- Aconteceu algo na minha família, ou o que restou dela – falei encarando seus olhos como pedras de gelo – Tenho um tio na capital que quer que eu vá embora com ele, para cuidar dos negócios, dos meus negócios.
A dureza no olhar dela pouco a pouco amenizou e cruzou os braços:
- Como assim ir embora e que negócios são?
- Herdei algumas dezenas de empresas de frigoríficos após a morte do meu pai – contei finalmente me livrando de ao menos um fardo – Quem lidera é meu tio, mas eu sou o patrono de tudo e estive afastado por muitos anos.
- O que? – ela ergueu as sobrancelhas e deu um passo para trás – E agora simplesmente precisa ir?
- Não agora -respondi – Mas temo ter que de fato passar algum tempo fora. Eu não tenho mais dezessete anos e talvez isso me faça ser melhor para você.
- Ora em qual momento reclamei de ser um açougueiro comum? – ela parecia a beira de um colapso.
Avancei para dentro da sala e a segurei levemente pelos ombros:
- Você é a melhor coisa que me aconteceu querida, é como uma divindade para mim, minha lua e minha estrela da manhã – minha voz ficou embargada e minhas pernas tremeram – Eu quero ser merecedor de você, mas temo ser impossível.
- Eu não nada além do que somos – ela deu as costas e começou a andar pela sala – Eu quero que continue sendo você e que ame me ouvir e me comer quando bem quiser.
Dei uma gargalhada e cai no sofá esfregando as têmporas:
- Se soubesse tudo que eu já fiz Havannah – lamentei e fechei os olhos – E eu sou muito orgulhoso e covarde para abandoná-la.
- Pare já – pediu ela – Não faça isso comigo. Todos que amei tentaram me destruir e me deixaram, não faça isso, hoje não.
Quando ergui os olhos para a minha querida, meu caos, meu caos, seus olhos estavam brilhando de lágrimas e me rendi a sua voz rouca e suave.
A sentei no meu colo e beijei cada centímetro de sua pele até que não restasse nada afastando seu corpo do meu. Seu cheiro, seu prazer.
E então tive a melhor noite da minha vida.
E quando ela dormiu, quis devorá-la até que não restasse nada. O maldito instinto de ciúmes e solidão se apossou de mim. Levei minhas mãos ao seu pescoço pálido e minúsculo e fechei delicadamente os dedos.
Mas não pude. Ela abriu os olhos com um sorriso irônico e deitou a cabeça sobre meu peito com o mais silencioso dos sussurros:
- Eu o amo.