Capítulo 20

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A aula de Magia Híbrida no dia seguinte ocorrera sem sucesso para a maioria dos primeiranistas, parte dos alunos já haviam desistido e apenas faziam pequenos truques com os próprios elementos ou observavam Darah brincar com as chamas da vela, moldando-as em formas de mini aves.

Após repetir duas vezes a refeição do jantar, a princesa foi para a biblioteca estudar. Horas mais tarde, Lionel se juntou a ela e ficou lendo algo sobre Luminocinese. Darah às vezes ousava olhar por cima do livro para verificar as marcas no pulso do amigo.

— Está melhor — informou ele quando a pegou olhando pela terceira vez. — Arabelle aplicou um óleo e me deu algum chá. Não está mais ardendo.

— Desculpe.

— Tudo bem, não foi sua culpa. — Lionel deu um meio sorriso na tentativa de tranquilizá-la e voltou a olhar para a página que lia, mas olhou algumas vezes para a amiga com uma dúvida lhe incomodando. — Você parece tão confiante, não imaginei que teria uma insegurança como essa.

— É... nós da realeza temos que ser bons em fingir.

— Não é... — hesitou — não é cansativo ter que fingir?

Darah baixou o olhar. Sim, era cansativo.

— Desculpa. — Lionel se arrependeu de ter feito a pergunta ao ver a forma que a princesa reagiu. — Eu não queria ser inconveniente.

— Todos nós fingimos alguma coisa ou alguns sentimentos. Às vezes a impressão que eu tenho é que aprendemos mais a mentir do que a dizer a verdade, pois nem todos devem saber das suas inseguranças e medos, porque na primeira oportunidade usarão isso contra você.

A garota deu um fraco sorriso ao voltar a olhar para ele. Ela pensava sobre isso desde novinha. Algumas vezes chegara a se questionar o porquê de tanto fingimento e sempre chegava à mesma conclusão. A quarta rainha de Feentina havia sido retirada do trono por demorar-se demais em seu luto após perder o marido.

— Isso é intensificado para quem está numa posição mais elevada, pois há um maior número de olhares voltados a você, observando cada passo seu. Se o representante demonstrar seu lado frágil, se tornará um alvo fácil, se tornando um alvo fácil, a equipe será automaticamente considerada fraca. Não é assim que pensamos? E quem deseja ser considerado fraco? Se o líder está passando essa imagem do grupo ou para o grupo, então ele não está mais apto e deve ser substituído por alguém que esteja à altura do cargo.

Darah suspirou. Também não podia deixar de pensar que se a quarta rainha tivesse guardado os sentimentos tristes dentro de um baú, talvez... só talvez, ela não tivesse se afundado nos próprios pensamentos.

— Mas, no final, todos nós escondemos nossas fraquezas, às vezes escondemos de nós mesmos, pois encarar e admitir o quão fraco somos pode ser até mais difícil do que evitar os predadores. Há momentos em que fingir estar tudo bem e fingir ter o controle de tudo é a única forma de não nos entregarmos ao desespero.

Lionel ouvia com atenção, sentia o pesar na fala da amiga, mas as palavras eram tão verdadeiras que era impossível discordar dela. Aliás, em alguns momentos ele sentia certa inveja por não conseguir esconder suas inseguranças tão bem quanto a maioria, o que o tornava exatamente o que a amiga acabara de dizer: um alvo fácil. Darah, percebendo o silêncio do amigo, pousou a mão no ombro deste e ofereceu-lhe um sorriso lateral ao dizer:

— Mas estamos buscando melhorar. É isso o que importa, não é?

Os lábios do garoto se curvaram em um sorriso sincero, sorriso este que logo se desfez ao lembrar que ainda não entregara a carta para ser enviada à sua avó. Ele semicerrou os olhos para ver o relógio na parede do outro lado da sala, faltavam apenas quinze minutos para às dez horas da noite. Ele saiu da cadeira em um pulo, mas acabou batendo o braço na mesa fazendo dois livros que estavam na beirada caírem. Darah usou telecinese antes que os livros tombassem no chão, pois a bibliotecária certamente reclamaria já que duas das regras era fazer silêncio e não danificar os livros.

FEENTINAWhere stories live. Discover now