Prólogo

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Fotografia:

É uma casa simples, extensa, de um único andar, contra o azul saturado de um céu sem nuvens. Paredes lilás, mas que já foram creme e verde-água em ocasiões menos vaidosas. Vê-se algumas pilastras aqui e ali, uma enorme varanda e um piso cujo material eu nunca soube especificar ao certo. Cerâmica? Pedra? Mármore é que não era. Duas redes vazias balançam contra o vento, e algumas plantas pendem pelas extremidades, samambaias em sua maioria. Mais cedo aquele dia, elas tinham sido regadas. Ao canto da varanda, onde a casa faz esquina, há uma mesa branca de vime repleta de cartas de baralho e sacos de biscoitos de polvilho espalhados pela sua superfície. As cadeiras e bancos em volta não estão vazios. Há uma, duas, três, oito crianças recém-chegadas de uma manhã inteira na praia, com cartas nas mãos, roupas de banho, sorrisos nos rostos e nenhuma pose engraçada. Olham uns para os outros, concentrados no jogo e na diversão. Nenhuma percebe a câmera. Um pássaro vermelho que pousa gentilmente no muro cor de café completa esse cenário idílico de plenitude, evocando lembranças de uma felicidade crua e genuína, dessas que sentimos poucas vezes na vida.

Essa fotografia morava na escrivaninha do meu quarto. Anos se passavam, e ela nunca envelhecia, não dentro de mim. Eu mergulhava naquele mesmo cenário todos os verões, naquela mesma plenitude, naquela mesma felicidade. Era só esperar: aquela casa estava ali, pronta para me receber. E aquelas pessoas, aquelas cheias de cartas nas mãos e farelos nos queixos, elas sempre apareciam. Eu podia contar com isso, como contava com as chuvas em março.

Em pouco mais de um mês, isso mudaria. Tudo mudaria. E essa é a história de um último verão, um último mergulho na fotografia.

Um Retrato De VerãoWhere stories live. Discover now