Um Retrato De Verão

Capítulo 5

Estávamos espalhados pela casa. Alguns sentavam-se ao chão, outros no sofá, outros nos banquinhos precários atrás do balcão da cozinha aos pedaços. "Era uma casa muito engraçada", mas a adorávamos. Cada um de seus pedaços avulsos. Ali podíamos ser os adolescentes rebeldes que adorávamos dizer que éramos. Naquela primeira hora, ainda estávamos nos fazendo confortáveis, bebendo pouco e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo.

— Dora, você ainda está com aquele namorado? — perguntava Penelope, enquanto abria outra garrafa de seu vodsuco. — Como era o nome dele? Raul?

— Ravi — Dora consertou. — E não, não estamos mais juntos.

— Você é boa demais pra ele, de qualquer forma.

— Não, ele é um cara legal. Me tratava muito bem. Mas a química não bateu... fazer o quê?

— Era aquele das fotos que você mostrou ano passado? — perguntou Chris.

— Ele mesmo.

Chris parecia incrédulo.

— Ele era um absurdo de lindo! Tipo, ninguém chega aos seus pés quando o assunto é beleza — disse ele, e Dora deu um sorriso sem graça. — Mas se alguém está perto disso, esse alguém seria ele. Qual foi a química que não bateu? Vocês concentravam tanta beleza num só casal que mal sobrava para o resto do mundo? Deixavam as pessoas cegas com tanto brilho?

— Chris, ela está ficando sem graça — disse Gio, olhando feio para o irmão. — Sinto muito que não deu certo, Dora. Algumas coisas não são para ser.

Dora assentiu, ainda sorrindo envergonhada.

— Mas não estou triste, sabe... acho que foi o melhor. Talvez ele só não fosse muito meu tipo...

— Como que um deus grego daquele não é seu tipo? — Chris interveio, mas Dora só deu outro sorriso tímido. Ben, que estava calado durante o assunto, entrou na conversa.

— Bem, só sei que esse deus grego devia ter mais a ver com você do que Theo — disse ele, num tom meio provocativo.

Todos riram, mas Theo e Dora o fizeram mais cuidadosamente.

— Nós nunca fomos um casal, propriamente dito — ela disse.

— Claro que não, vocês tinham o que, 11, 12 anos? — Penelope argumentou. — E foi apenas porque eu te desafiei a beijar Theo no jogo de Verdade ou Consequência...

Dora riu com o nariz.

— É, na época eu achava que era obrigada a namorar se beijasse alguém.

— Foi um longo e profundo relacionamento de duas semanas — disse Theo, fingindo um ar sonhador. — Nos beijamos duas vezes e conhecemos os pais. Mas já os conhecíamos antes, então não conta.

— Qual foi o motivo do término? — Perguntou Chris a Theo. — Dora descobriu que você comia cereal de boca aberta?

— Ah, sim — Theo estalou a língua, fingindo desapontamento. — Foi uma briga terrível, essa. Só me lembro de partes, como quando ela me acertou com a caixa de cereais e tentou me afogar numa tigela de leite.

— Haha — fez Dora, dando um meio sorriso. — Não teve nenhuma briga. Eu só entendi que era nova demais pra namorar, nada mais que isso.

— Nada mais — disse Theo, de repente um pouco mais sério, e apertou a mão dela, que estava apoiada no balcão da cozinha. Eles tiveram uma troca de olhares muito sutil, tanto que não acho que nossos amigos notaram (não sei por que eu notei. Não é da minha conta. Talvez eu nem devesse estar os observando tanto). Todos continuaram falando do breve relacionamento dos dois, até Dora cansar e decidir mudar de assunto.