Capítulo 2

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Era uma caminhada rápida, e o fim de tarde costumava ser bem refrescante naquela região. Pelas ruas, eu via as casas coloridas, com seus móveis de vime e varandas largas, onde as pessoas descansavam em redes ou jogavam dominó, sem muitas preocupações. Todos sabiam quem você era, seu nome de família, sua história inteira, se duvidar. Eu não me importava. Gostava de me sentir conhecida, por mais que estivesse à vontade no anonimato.

Ao pôr os pés na areia morna, automaticamente me senti em casa.

Inspirei o ar que desprende do mar, aquela maresia intoxicante, e estiquei a toalha na areia. Em volta, não havia quase ninguém. Todas as barracas estavam fechadas por causa do horário. De manhã, aquilo estaria cheio outra vez, e esse pensamento me fez sorrir. Quem sabe reencontraria meus amigos logo cedo.

No total, éramos oito. Eles vinham de cidades mais ou menos próximas para passar as férias ali. Eram, entre nós, seis cidades e três estados. Quando criança, eu sabia ter mais amigos por lá do que na escola - na verdade, ainda era o caso. Mas também é fácil se fazer amigos quando se usa roupas leves e toma sorvete num dia de sol, logo após passar a manhã inteira pulando as ondas do mar. Era impossível ficar de mau humor em Guardabalena. Era uma cidade à qual as pessoas iam em busca da felicidade.

Estava lendo sobre Mykonos e comparando as suas praias paradisíacas com aquela diante da qual eu estava, quando comecei a me sentir sonolenta. Era um fim de tarde perfeito de início de verão, céu sem nuvens, brisa fresca e o som do mar sob meus pés. Eu estava no paraíso. Não precisava ir a Mykonos para isso. Naquele momento, como em muitos outros semelhantes a esse, eu achava que nunca seria mais feliz. A pontada sob o peito não passava de uma lembrança. Todos os pensamentos ruins, as angústias, nada disso vinha em mente quando eu estava naquela praia, naquela cidade, cheia de planos e expectativas para o verão. Estava no meu lugar, confortável, em paz. Plena.

- Alice!

Dei um solavanco. O pronunciamento do meu nome viera logo atrás de mim, muito perto dos meus ouvidos. Virei-me de costas num átimo e, no segundo em que a vi, logo me perguntei como não reconheci sua voz de imediato.

Era Dora, minha melhor amiga das férias. Estava de joelhos na areia atrás de mim, portando o sorriso contagiante que raramente se esvaía do seu rosto.

- Você me deu um susto! - exclamei, me inclinando para abraçá-la. Mas não estava irritada. Gostava quando Dora surgia de repente, tirando-me da paralisia. Ela era boa nisso: em me fazer reagir.

- Adoro aparecer de fininho quando você está distraída - ela disse, enquanto nos separávamos. - Você parece uma dessas estátuas que ganham vida.

Sorri para a minha amiga e a observei: ela estava linda. Ainda mais do que no ano anterior, o que parecia impossível, pois Dora tinha uma beleza de tirar o fôlego - por dentro e por fora. Poderia ser confundida com uma atriz brasileira muito conhecida (como de fato já havia sido), com seu sorriso estonteante, pele negra e olhos cor de caramelo que cintilavam como contas à luz do sol. Aquele ano, ela havia descolorido as pontas dos seus longos e cheios cabelos crespos, dando-lhe um ar praiano que combinava com a sua personalidade tranquila e alegre.

- Então, você está na cidade há muito tempo? - perguntei.

- Cheguei ontem - informou, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha. - Estava com os outros agorinha mesmo.

- Então todo mundo já chegou?

- Quase. Falta Chris e Gio. Mas acho que já devem ter chegado, Gio mandou uma mensagem dizendo que já estavam perto. Eu estava na Casa do Farol com Penelope, Jonas, Ben e Theo.

Meus lábios se abriram num sorriso involuntário. Eles já estavam ali. Ele já estava ali.

- E como está a casa? Já prepararam tudo? - perguntei, lutando bravamente contra esse sorriso.

Um Retrato De VerãoWhere stories live. Discover now