My Love

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Mesmo com a pista de Phantom, o mago já não estava mais aguentando vagar pela cidade de Arlanta em busca de uma mísera pista ou essência da princesa. Ele não sabia se aprovava o fato de ter conseguido criar aquela maldita jóia da retenção ou se amaldiçoava tal feito. Se o imperador de Obelia não tivesse dado aquela pedra num colar para Athanasia, certamente Lucas já teria a encontrado. O que dificultava toda sua busca era esse empecilho, que na verdade mais parecia um abismo entre os dois. Era como se ele gritasse o nome dela do outro lado e o som nunca chegasse até ela.

Não conseguir encontrá-la o frustrava tanto, que ele acabou se vendo frente a uma taverna. Lembrou-se então que Claude tornou a se encontrar num estado deplorável após terem voltado de Sycansia, sempre sendo encontrado em meio às garrafas de álcool para tentar esconder o desamparo de estar sem sua filha, que iria aniversariar em breve. Era assim como Lucas estava também. Desamparado sem Athanasia, sem notícias dela, mesmo que agora estivesse com as pistas da localidade exata que ela supostamente estaria.

Beber o ajudaria a esquecer todos os problemas frustrantes um pouco? Ele não sabia. Mas queria tentar. Queria ao menos tomar um pouco de álcool como Claude fazia para afastar toda a irritação que sentia. E também afastar a raiva de si mesmo por não ter sido capaz de manter Athanasia segura ao seu lado, como havia prometido.

E agora que sabia que ela estava disfarçada, não podia usar magia para que ela não sentisse sua presença e acabasse fugindo. Independente disso, nem que tivesse que passar anos a fio procurando-a sem poder usar sua magia por todos os lados, Lucas não iria desistir.

Quando estava diante da porta do local, Lucas a empurrou com determinação, ouvindo o pequeno soar de um sino enquanto suas narinas se impregnaram com o cheiro do ambiente: álcool, cigarro, suor, colônias baratas – bem longe do cheiro de rosas que seu olfato queria sentir. Ele revirou os olhos, tossindo um pouco com nojo daquelas fragrâncias, e aguçou o brilho de seus olhos para encarar a espelunca minuciosamente.

Como previ. Ela também não está por aqui. Afinal, o que uma princesa faria num antro de perdição desses? – O mago pensou enquanto observava o balcão e seus bancos vazios. Caminhou até lá sem mudar sua expressão, o semblante fechado e sério. O rosto estava escondido pela sombra do capuz de sua capa negra, que ia se arrastando ao chão.

Ali, naquele momento, tudo o que Lucas queria era matar a saudade de longos quatro meses de buscas, afogando-se num copo de álcool. Afundar nas goladas inebriantes todas as emoções patéticas que floreavam seu coração de tristeza por não ter Athanasia ao seu lado, lembrando-se que as últimas palavras que escutou e as atitudes dela doeram tanto em seu coração. Ele precisava esquecer aquilo. Precisava ao menos de um tempo para si mesmo; para relaxar seu corpo tão exausto de meses ininterruptos da caça por uma princesa que não queria ser encontrada.

Ao chegar até o balcão, ele apoiou o tronco em um dos cotovelos e respirou com desdém. Um atendente rolou os olhos ao vê-lo, pensando ser apenas mais um de seus clientes depressivos que desejaria se afogar de álcool.

"Olá, cliente." O atendente cumprimentou o mago, escorando os cotovelos no balcão à frente dele e o encarando com interesse quando entendeu que ele era totalmente diferente de todos que já foram parar ali. "Parece que é novo em Arlanta."

Lucas apenas deu uma risada seca, lamentando-se de ter que escutar aquilo. Se aquele homem soubesse o tanto que já vasculhou essa maldita cidade em busca da Princesa de Obelia, já iria logo lhe oferecendo uma garrafa de rum por conta da casa.

Vendo que o mago não iria falar nada, o atendente pigarrou. Depois abriu um sorriso simples, sem mostrar os dentes, e continuou a limpar o copo que tinha nas mãos com um pano branco. "O que vai querer?"

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