Forgetting You

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Depois de chegar na pousada após Sr. Petterson tê-la deixado segura em seu quarto, Athanasia retirou o anel do disfarce de seus olhos e caminhou direto ao biombo para trocar suas roupas. Os trajes masculinos já estavam secos com feitiço, deixando em seu corpo aquele cheirinho de rosas que ela adorava quando estava sozinha no quarto. Ela inspirou profundamente e expirou calmamente, vestindo apenas um blusão largo o suficiente – que ia até a altura de suas coxas – para deixá-la relaxada sem todas aquelas peças e adereços.

Vários pensamentos dominaram a mente dela. E ela ficou ali, pensando em tantas coisas, e uma delas era em como havia se desesperado ao ver aquele sangue escorrendo dos lábios daquele mago – que desejava socar seu mestre –, mas ao mesmo tempo não conseguiu mover um dedo sequer para ajudá-lo ou ver se realmente havia se machucado mais do que ela percebeu. Foi um desespero tão grande, que naquele momento a fez entender o quão importante talvez ele fosse para ela; o quão incondicional é o que parecia sentir, mas ao mesmo tempo tinha medo de sentir.

Ela sentou no beiral da janela e fechou os olhos, abraçando as pernas enquanto olhava a chuva lá fora. Sentia-se burra, idiota, perdida. Tudo porque ela parecia querer aquele mago por perto, mas quando ele tentava se aproximar, o medo e toda a proteção que o corpo dela criou ao redor de seu coração, como se fosse uma crosta de gelo, a impedia de derreter novamente.

"Por que eu me sinto assim? Por que tudo tem que ser assim? Por que, por que, por que..." Ela murmurou com a voz trêmula. E como uma melodia no repeat, estava chorando. Chorando, talvez agora, lágrimas de sangue de tanto que doía. Tudo doía em seu corpo e coração.

E ficou chorando, até quase adormecer ali, toda encolhida abraçando suas pernas com o rosto apoiado nos joelhos. Mas ela precisava descansar, se quisesse pensar melhor no que faria no dia seguinte.

Ela então levantou dali fechou a janela, olhando distraidamente para fora até que, por um momento, suas narinas reconheceram um cheiro nostálgico, que a fez engolir em seco, reprimindo lembranças que aquele perfume de flores campestres trazia. E respirou fundo, procurando acalmar seu coração subitamente epilético. Era apenas uma coincidência, certo? Ela estava sentindo o cheiro daquele mago porque tudo o que a atordoava era ele. Nada mais do que isso.

Então virou em seus calcanhares, perguntando-se quando deixaria de ser tão idiota, e foi então que uma forma estranha se revelou sobre a cama daquele quarto.

Assim que os olhos de jóia azul safira focalizaram o intruso, não houve tempo sequer para ela pensar antes que seu cérebro travasse completamente. Ela apenas piscou duas vezes, em pane diante do choque entre o que esperava ver e o que realmente viu, enquanto o visitante inesperado – que olhava tudo ali, curioso – virava lentamente a cabeça em sua direção, notando que ela o encarava assustada.

Athanasia não demorou a reconhecer o invasor. O problema foi acreditar que ele realmente estava ali, no quarto da pousada que ela estava se escondendo. Uma ilusão, talvez? Infelizmente, essa possibilidade foi logo descartada. Claramente, não era nenhuma ilusão; ele era real demais para isso. A mente dela jamais conseguiria reproduzir uma imagem com tamanho grau de realidade.

Enquanto toda essa confusão dominava a consciência dela, ela se manteve paralisada, completamente imóvel... Diferentemente dele.

"Precisamos conversar." Lucas disse, sentado na cama com uma expressão concentrada no que falava. Seus olhos, diferentes daqueles azuis que ele se disfarçava, estavam tão vermelhos quanto o sangue que momentos antes ela viu no canto daqueles lábios. E pela má iluminação que havia no cômodo ela quase não foi capaz de perceber os cantos dos olhos levemente inchados e avermelhados, possivelmente por chorar recentemente.

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