Contato, dores e atenção.

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São Paulo
março, 2023.

A notificação brilhou no alto da tela por mais cinco segundos até desaparecer, Rafaella desligou rapidamente o aparelho e encarou Bianca, que desviou o olhar para o próprio celular e para o contato com número incompleto.

R: Você leu? - perguntou acanhada.

B: Propositalmente? Não - ironiza enquanto se afasta da mineira.

R: Eu juro que aquilo não é verdade, eu não estou ignorando ninguém propositalmente agora e também não estava antes - se explica nervosa, saindo da poltrona para se aproximar da carioca de novo.

Bianca parou por alguns segundos de frente para a mineira, encarando as expressões sofridas de Rafaella e analisando o que ela tinha dito, sem saber se acreditava ou não, mas com a mineira a encarando daquela forma, como um cachorro sem dono, a carioca sentia que acreditaria em tudo o que ela dissesse sem ao menos questionar.

B: Rafa, apesar de ter torcido muito nesses últimos anos para que o único motivo da sua ausência quase que completa, era a falta de tempo, que você não estava conseguindo conciliar as coisas ou só um esquecimento inocente, no fundo eu sabia que era pura falta de interesse seu, eu e qualquer outra pessoa conseguia sentir isso.

O silêncio que estava se formando pela falta de respostas da mineira, logo foi quebrado pelas risadas e murmurinhos no andar de cima, Rafaella suspirou e seguiu até o jardim da casa, arrastando Bianca pela mão.

R: Bianca, eu não quero ter que me explicar por tudo que eu faço aqui ou fazia lá, mas você é especial e eu não quero que você me ache uma filha da puta sem noção - ao notar os olhos arregalados depois de ouvir o palavrão, a mineira olhou para cima, para evitar revirar os olho para a carioca - Me desculpa pelo palavrão.

B: Tudo bem, continua - pede.

R: Eu nunca deixei de me importar com elas, são as minhas melhores amigas e minha irmã, eu não passei a odiar elas assim que fui embora daqui ou algo do tipo, mas eu queria viver aquele momento, eu não podia ficar lá e agindo como se ainda estivesse aqui. Não, eu não parei tudo que tinha para fazer só para gravar áudios de dez minutos, eu não avisei quando eu pintei o cabelo ou quando eu fui fazer uma tatuagem, eu demorei meses para perceber que a Manu tinha cortado o cabelo e boa parte do meu grupo de amigos, acham que eu sou filha única. Eu sei que eu fui errada, mas foi o jeito que eu achei para me desprender daqui e poder criar uma nova versão de mim. Tenta me entender, por favor.

B: É meio difícil entender o seu lado, Rafa…porque eu fiquei aqui, eu sei o lado delas, eu vi o que um vácuo em um simples bom dia causavam, eu já tive que me desdobrar para consolar as três no mesmo tempo, enxugar as lágrimas de cada uma e - parou ao sentir lágrimas molhando seu rosto.

Rafaella colocou as mãos no rosto delicado de Bianca limpou as lágrimas que escorriam pela bochecha da garota.

R: Me ajuda - pediu em um sussurro - Eu acho que só você pode me ajudar.

Bianca Andrade POV

Eu queria dizer que não a ajudaria, que esse é o preço que ela está pagando, que são as consequências e que eu preferia não me meter nesse assunto, mas eu também queria que a proximidade em que estamos, que as mãos delicadas no meu rosto e os olhinhos verdes bonitos dela não estivessem deixando o meu coração em puro êxtase, que o dia de hoje não tivesse sido tão incrível, que minha cabeça parasse de recriar nossos momentos á toda hora e que cada frase fofa e gentil que ela me disse, não estivesse ecoando dentro de mim. Eu queria ouvir o lado dela, tentar entender todos os motivos dela, sem sentir que estou traindo as dores das minhas amigas, queria voltar para três semanas atrás onde eu estava tão cega quanto Mari, Gi e Manu, onde era fácil passar pano para os erros dela, onde as coisas eram minimamente mais simples.

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