Anseio, atração e leveza.

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São Paulo
maio, 2023.

A semana passou lentamente, quase se arrastando, até chegar ao tão aguardado sábado, para o descontentamento de Rafaella, que ansiava impaciente como nunca pelo primeiro encontro oficial com Bianca. Depois de dias confusos, noites mal dormidas, de sentir-se perdida e confusa em suas relações, a mineira resolveu fazer o que fazia de melhor: ignorar seus problemas. E com isso, evitar Estela, Bruna e suas outras amigas de Goiânia, o quanto conseguia, até onde não lhe doía colocar em pratica tal ação imatura. Com tal comportamento, que ela havia prometido tanto que não voltaria a fazer, a mineira sentia-se estranhamente sem rumo, como se não soubesse exatamente como agir.

Sem o contato certo e rotineiro com suas segundas e essenciais opiniões, sem os comentários de Bruna, os conselhos de Estela e as alfinetadas de suas outras amigas, Rafaella pensou mais vezes do que gostaria em simplesmente acabar com aquele tão recente e confuso acordo de compromisso com Bianca, de aceitar que aquilo não tinha sido uma boa ideia, e que ela estava fadada à uma paixão platônica. Porque elas não precisavam mais dizer com todas as letras o que achavam de cada ação da mineira, as vozes delas ecoavam dentro de Rafaella toda vez que ela se entregava ao silêncio, as opiniões e conselhos simulados já estavam emaranhados em sua cabeça. Mas ao mesmo tempo, a mineira se sentia em paz para viver aquele momento, para ser brega e "infantil" como antes, para conhecer mais de Bianca e se mostrar mais para ela. Rafaella se sentia como se estivesse livre para ser cem por cento ela, por pelo menos alguns instantes. Enquanto Estela, Bruna e suas outras "conselheiras" estivessem consideravelmente longes, ignorar os pedidos, as grosserias e as zombarias delas seria mais fácil. Seria mais fácil de lidar com os seus próprios desejos, medos e sentimentos, seria mais fácil de esquecer o platônico e se entregar a um possível recíproco.

Encarando-se no grande espelho de seu quarto, Rafaella pensa em trocar de roupa pela terceira vez, de repente odiando todas as roupas de seu guarda roupa. A mineira suspira encarando seu short jeans e sua regata branca justa em seu corpo e nega com a cabeça, odiando o quão básica estava aquela junção. Quando já estava pronta para colocar um vestido ou pedir algo emprestado a Mariana, Rafaella escutou o toque de seu celular quebrado o silêncio do quarto, ela fechou os olhos por alguns segundos, escutando a música que lhe dava certeza de que era Estela quem estava ligando, ela respirou fundo tentando resistir a tentação de atender logo a ligação e passar longos minutos pedindo perdão pela demora a atender e por qualquer outra coisa que Estela lhe julgasse culpada.

O som da campainha ecoou pela casa juntando-se ao toque do celular por breves segundos, fazendo Rafaella sentir um arrepio correr pelo seu corpo, ela fecha os olhos com força ao sentir um ligeiro frio na barriga quando escuta a voz de Bianca na sala de estar e volta a encarar a própria imagem no espelho, a garota leva as mãos aos cabelos, arrumando o que não estava bagunçado e então se aproxima de sua cama impecavelmente arrumada, ela pega seu celular barulhento, encarando o nome de Estela brilhar na tela e suspira pesadamente ao abaixar o volume do aparelho e guardá-lo em sua bolsa, ignorando a terceira ligação da mulher naquele dia.

Depois de mais alguns minutos analisando a aparência no espelho, Rafaella desceu as escadas de sua casa com um pequeno e tímido sorriso nos lábios, ela se aproximou da carioca que segurava uma pequena e clássica cesta de piquenique, em passos rápidos e beijou sua bochecha.

M: Ai, eu queria tanto ir com vocês - diz manhosa.

R: Ai, Mariana, nem inventa!

B: Na próxima você vai, tá? Aí, você chama a Manu - sorriu para a amiga.

M: Como se ela fosse aceitar algum convite meu - revirou os olhos.

B: Só convidando para saber, amiga! Fica tranquila que o máximo que ela pode dizer é não - apertou o ombro da amiga e encarou Rafaella  - Tu não acha que ela super aceitaria o convite da Mari, Rafa?

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