Boatos, trinta e alívio.

444 41 74
                                    

São Paulo
maio, 2023.

O final de semana chegou ao fim, trazendo uma segunda-feira preguiçosa e entediante, e com ela o fim temporário do mundo particular de Bianca e Rafaella, e um pouco da calma e leveza tão citadas por elas no final de semana. É a hora do intervalo e elas não estão juntas, Bianca está na sala de jornal em uma pequena reunião com os outros alunos jornalistas e Rafaella está no teatro, pintando de branco algumas cercas feitas pelos outros alunos atores para a próxima peça, enquanto permite que seus pensamentos a levem ao o que ela tanto ignorou nos últimos dias, enquanto se permite admitir estar sentindo falta de suas amigas e de Estela. A mineira sente um arrepio correr por seu corpo, quando uma onda de arrependimento e constrangimento lhe atinge, no mesmo segundo que ela admite para si mesma. De repente seus motivos para ter se afastado temporariamente já não parecem tão válidos, tão certos e o tom indiferente na voz de suas amigas, já ecoa em sua cabeça, fazendo-a segurar o pincel com um pouco mais de força do que é preciso. Ela está evitando pensar em como Estela vai "recebê-la" de volta, porque todos os cenários que ela imaginou lhe causam arrepios e deixam suas pernas trêmulas.

A mineira bufa irritada pela nona ou décima vez, recebendo olhares de Gizelly e Manu que também estão pintando as cercas, é a primeira vez de Rafaella no teatro daquela escola, e apesar de notarem o quanto a garota está odiando estar ali, elas estão animadas pela presença dela.

R: Porque não compram cercas feitas? - reclama, parando de pintar.

G: Porque são os alunos que fazem os cenários - explica calma.

R: Porque? Que escola mão de vaca!

M: Ah, porque faz parte, né? É até bom para ir se conectando com a peça - deu de ombros - E bem, nós gostamos de fazer.

R: Eu já tô odiando - disse encarando sua cerca pintada pela metade.

G: Não precisa fazer, se não quiser - disse e Rafaella colocou a cerca mediana e seu pincel no chão no mesmo instante, fazendo Gizelly rir.

R: Quais são os personagens de vocês? - perguntou, depois de ler um dos cartazes que começariam a ser espalhados na escola durante a semana.

G: Eu vou fazer a Lorena, mãe da Rosália.

M: E eu vou fazer a Rosália - disse desanimada.

R: Nossa, que ânimo - ironiza.

G: É que a Rosália tem poucas falas - explicou simples.

R: Então pede para trocar de papel, ué?! - diz em tom de obviedade.

M: Não é assim que funciona... - parou de pintar para encarar a mineira - A professora designa os papéis de acordo com o seu desempenho no teste ou na sua última peça. E a professora odiou minha atuação na última peça - explicou gesticulando.

G: Ela não odiou a sua atuação, Manu! - encarou a baixinha - Odiou a sua teimosia em querer fazer a peça doente.

M: Ela devia me admirar por isso! Por me entregar tanto ao teatro!

R: Teatro de escola, vale ressaltar! - disse risonha e Gizelly lhe encarou com as sobrancelhas franzidas.

G: Vai querer atuar na próxima peça, Rafa? - perguntou, desviando o olhar para sua cerca novamente.

R: Não sei ainda.

M: A próxima vai ser a mais importante do ano! - disse animada.

G: De todos os anos! - complementou.

R: O que? Romeu e Julieta? - ironizou.

G: Não, já fizemos essa no ano passado! A próxima é quebra nozes.

HappierOnde histórias criam vida. Descubra agora