3 - Pesadelos

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Depois da missão bem sucedida em Montréal, a dupla de espiãs voltou para a América. Fazia uma semana que Maria estava sendo a sombra de Natasha na agência. Apesar da proximidade, elas ainda não eram amigas. Sua relação era quase toda profissional, exceto pelos flertes não correspondidos — nem todos — de Romanoff.

Hill preferia que fosse assim.

Maria era vista por muitos na agência como uma mulher fria, egocêntrica, mal humorada e entre outros adjetivos como esses, e talvez eles estivessem certos, com o tempo Maria se tornou tudo isso. Mas o que eles não sabiam é que essa não costumava ser sua personalidade. Hill costumava ser uma pessoa amável, simpática, sorridente, animada, alegre... até deixar de ser.

A dor da perda é algo que muda quem a sente pra sempre e Maria a experimentou mais vezes do que gostaria. Perdeu os pais logo cedo em um acidente de carro, foi criada pela tia materna, Helena, a quem vê se esquecer dela um pouco mais dia após dia.

Helena sofre de Alzheimer, e tem piorado a cada dia. Hoje está em uma casa de repouso especializada e sendo cuidada por ótimos profissionais, Hill a visitava toda semana, mas diminuiu a frequência nos últimos meses. Tem sido doloroso ver sua tia, a pessoa que ela mais ama e que foi sua figura materna desde os seus seis anos se esquecer dela.

E por último, perdeu a namorada. Essa não morreu, na verdade fez pior. No momento que Maria mais precisou dela, do seu amor, do seu apoio, ela simplesmente se foi. Apenas juntou suas coisas e foi embora, deixando um bilhete que dizia que ela estava indo em busca de seus sonhos. Maria nunca atendeu aquela atitude, elas poderiam ter sentado e conversado, afinal, ela nunca a impediria de seguir seus sonhos e a apoiaria em todos eles. Mas pelo visto, ela não estava nos planos de Emily.

Depois disso Hill nunca mais foi a mesma, se fechou para o resto do mundo, para qualquer tipo de relacionamento, seja ele amoroso ou não. Se afastou dos poucos amigos que tinha e afundou a cara no trabalho. Fury era, talvez, a única pessoa em que ela realmente confiava e considerava amigo.

Já se passava das três da manhã quando Maria caminhava pelo corredor dos alojamentos da agência. Esse era só mais um dia em que ela preferiu ficar preenchendo relatórios até tarde ao invés de ir pra casa.

Ela passava pela porta do quarto de Romanoff quando escutou alguns barulhos e um choro abafado vindo lá de dentro. Maria ficou preocupada, bateu na porta mas Natasha não atendeu, ela então resolveu entrar e deu graças a Deus pela porta não estar trancada. A ruiva se debatia na cama enquanto choramingava e resmungava algumas coisas em russo que Maria não entendia.

Por um momento Maria não soube o que fazer, Natasha estava ali, tão frágil, tão exposta, tão quebrada... Diferente de tudo que ela já havia visto, diferente da mulher convencida que costumava flertar com ela e testar sua paciência ou da assassina fria que costumava ser em missões.

Maria acendeu o abajur, e segurou os ombros de Romanoff a imobilizando na cama.

— Natasha, acorda - a morena a chamou baixinho mas a ruiva ainda se debatia e tentava se livrar dos braços de Maria

Não, não por favor  - sua voz saía desesperada enquanto balbuciava as palavras em russo - Eu não posso, eu não quero fazer isso - Maria não entendia o que ela dizia, mas sabia que era algo ruim

— Acorda, Natasha - dessa vez sua voz saiu mais alta, mais firme, Romanoff abriu os olhos assustada e logo levou a mão debaixo do travesseiro para pegar sua arma - Calma, sou eu, a Maria, abaixa isso - disse mais calma e Natasha finalmente pareceu se situar do que estava acontecendo - Você teve um pesadelo

Segunda Chance | BlackHillOnde histórias criam vida. Descubra agora