XVI. Girassóis

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Azula não estava ansiosa por um reencontro. Muito pelo contrário, ela havia passado meses evitando os parentes de maneira calculada. Voltar para a cidade não tinha sido uma decisão fácil e foi motivada por pura necessidade. Apesar disso, rever Zuko trouxe à tona uma enchente de emoções que Azula pensava ter se livrado há muito tempo.

Ty Lee retorceu as mãos, inquieta. O nervosismo claramente a consumia enquanto ela observava os irmãos. Agora Azula entendia porque a garota havia hesitado tanto em aceitar sua visita ao campus. Um pensamento envenenado invadiu a mente da ex-herdeira. Ela se perguntou se Ty Lee iria traí-la. Azula afastou a ideia, dizendo para si mesma que aquilo não era do feitio da florista. Ty Lee beijava o chão que ela pisava.

— Que bom revê-lo. Você continua parecendo um fracote, exatamente como eu me lembrava — Azula cruzou os braços, sorrindo com escárnio.

Zuko retorceu o rosto ao encará-la. Azula se divertia com as reações que causava no irmão, mas esperava mais. Ele costumava ficar muito mais perturbado no passado. Agora, não parecia passar de uma leve irritação. Azula estava fora de forma.

— Azula, que desprazer revê-la — ele finalmente respondeu, ficando sério — Eu já estava de saída.

— É sério? Não vai ficar para falar com a sua irmãzinha? Mesmo após quatro anos?

Azula usou o tom de deboche para disfarçar a mágoa. Ela não entendia porque a aparente indiferença a incomodava tanto. Zuko não parecia disposto a sequer fingir que se importava com ela. Ele que apodrecesse, então.

— Azula...

Ty Lee se aproximou, tomando a mão dela. Azula sabia o que ela estava tentando fazer e não queria deixar.

— Não temos nada para conversar — Zuko respondeu — Você claramente está ótima. É tudo que eu preciso saber.

Ela franziu as sobrancelhas. Zuko ainda possuía o talento sobrenatural de tirá-la do sério só por respirar. Aquelas palavras pareciam uma provocação. Azula sentiu como se ele estivesse debochando de sua miséria. Ela não estava ótima. Ela sequer estava bem.

— Como sempre, você acha que sabe de tudo.

Ty Lee puxou a mão dela novamente, num esforço de afastar os dois e evitar que a situação escalasse. Azula percebeu que não queria que a florista testemunhasse aquilo. Quando as coisas ficavam feias entre os dois, Azula perdia o controle.

— Vamos, Ty Lee.

Ela finalmente cedeu e aceitou se retirar primeiro. Zuko apenas a observou com o rosto sério, impossível de ler. Pelo menos, Azula agradeceu por não detectar pena.

Quando Azula e Ty Lee haviam saído do campus, ela encarou a florista, que se encolheu como se tivesse sido flagrada roubando um doce.

— Eu preciso te contar uma coisa — Ty Lee começou a falar — Eu e a Mai ficamos amigas. Foi ela quem me contou sobre você. É por isso que o Zuko estava lá.

A respiração de Azula encurtou.

— Você pretendia me contar isso antes de eu te flagrar falando com meu irmão?

Ty Lee assentiu com a cabeça.

— Eu só queria esperar um momento melhor, porque a gente tinha acabado de fazer as pazes.

Azula quis chorar de vergonha. Se Ty Lee estava andando com Mai, certamente tinha ouvido coisas horríveis a seu respeito. Ela não sabia o quanto a visão de Ty Lee sobre ela havia mudado. Era assustador não ter mais o controle das situações.

— O que te disseram sobre mim?

Ty Lee olhou nos olhos dela com as sobrancelhas franzidas. Com certeza não era bom sinal. O coração de Azula estava acelerado e suas mãos começaram a suar. Ela engoliu a seco.

— Não importa o que disseram sobre você. Eu quero formar minha própria opinião. Você me permite isso?

Azula respirou fundo e fechou os olhos. De alguma forma, era um alívio ouvir aquelas palavras. Ninguém dava segundas chances assim. Azula, especialmente. Ela nunca havia dado uma segunda chance para alguém em toda a vida. De certa forma, Ty Lee era a primeira exceção.

— Tudo bem. A escolha é sua — Ela concordou — É bom que você não se deixe levar pelos outros.

Ty Lee sorriu e apertou a mão dela com força.

— Fico feliz de sermos amigas.

Então, ela olhou para Azula novamente com um ar de insegurança.

— Somos amigas, não somos?

Azula desviou o olhar e deu de ombros. Apesar disso, abriu um leve sorriso.

— Algo do tipo.

A Serpente em meu Jardimحيث تعيش القصص. اكتشف الآن