L.

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Zuko agora ansiava por todos os finais de semana, para poder visitar a mãe e a irmãzinha. Tio Iroh já sabia de tudo, mas rejeitou o convite para acompanhá-lo. Ele sabia que o sobrinho precisava da atenção completa da mãe, ao menos no começo. Quando Ursa estivesse pronta, ela seria bem-vinda para visitá-los na capital. Iroh ficaria contente em revê-la.

Kiyi era uma criança muito esperta e muito doce. Ela ainda não conseguia entender ou aceitar Zuko como seu irmão, mas não rejeitava a companhia dele. Zuko nunca havia sido gracioso com crianças, mas era tão fácil interagir com ela.

— Mamãe, eu quero fazer xixi — Kiyi anunciou depois de rabiscar nos braços de Zuko com canetinhas por dez minutos.

— Você já é grandinha. O que meninas grandinhas fazem? — Ursa perguntou.

— Vão fazer pipi sozinhas.

Kiyi se levantou, obediente, e foi até o banheiro, deixando Zuko a sós com a mãe.

— Ela gosta de você — Ursa comentou, entretida.

Zuko encarou as obras de arte em seus braços e riu. De repente, também sentiu uma angústia no peito. Ele queria que sua infância com Azula tivesse sido recheada de momentos assim. Ele teria ensinado tantas coisas a ela. Talvez, se tivessem sido mais próximos, Azula não teria...

— Você está pensando na Azula, não está? — A mãe o tirou dos devaneios com uma expressão preocupada — Eu também penso nela o tempo inteiro.

— A Azula está bem. Eu acho.

Ele não sabia o que "bem" significava para os parâmetros de Azula.

— Eu... você acha que ela me visitaria um dia? — Ursa perguntou, esperançosa.

Não.

— Talvez...

Zuko se lembrava do colapso mental de Azula em flashes de memória que ele havia tentado apagar. Eram flashes dela balbuciando frases incoerentes sobre a mãe após quebrar um espelho. Aparentemente, Azula tinha visto Ursa no reflexo. Ele não sabia disso quando foi vê-la no dia. Zuko nunca sentiu tanto medo e tanta pena de Azula na vida.

— Ela nunca me deixou amá-la direito. A culpa é minha — Ursa lamentou.

— A culpa não é sua. Você tentou ser uma boa mãe.

— Eu deveria ter fugido com vocês naquela época.

Ursa parecia prestes a chorar. Zuko se aproximou para envolver a mãe em um semi abraço. Ela se inclinou na direção dele com a voz rachando.

— Ozai me ameaçou e ameaçou vocês e eu fiquei tão... tão assustada, Zuko. Eu nunca me perdoei. Quando vi o que ele fez com o seu rosto pelas notícias... eu quase morri. Ele disse que era um acidente, mas eu sabia a verdade. Eu só fui forte para não perder a Kiyi — Ela começou a chorar nos braços de Zuko — E depois, a Azula sendo internada. Eu não fui forte o bastante para proteger vocês.

Zuko a abraçou com mais força. Ele também queria chorar. Ursa forçou as lágrimas a pararem de jorrar quando eles ouviram o som de Kiyi lavando as mãos para sair do banheiro.

— Eu te amo, Zuko. E eu amo a Azula — Ursa fungou enquanto apertava a mão do filho.

— Eu sei — Ele a assegurou.

— De verdade. Nunca se esqueça disso.

— Não vou.

Kiyi saiu do banheiro sorridente e pulou no sofá para se juntar a eles no abraço que parecia confortável.

— Mamãe, você tava chorando?

— Sim, minha filha — Ursa afagou o cabelo dela.

— Por quê?

— Porque eu amo tanto vocês que o meu coração transborda.

Zuko sorriu, sentindo o próprio coração triplicar de tamanho enquanto olhava para as duas. Era um quadro bonito, mas incompleto. Zuko queria que Azula aceitasse fazer parte dele.

— Mãe — Zuko chamou a atenção dela.

— Sim?

— Tio Iroh ficaria muito feliz em revê-la. Por que não me acompanha até a capital?

— Bom, eu...

— Nós vamos pra cidade? — Kiyi sorriu e começou a pular de empolgação no colo deles — Mesmo, mesmo, mesmo? Eu posso ir no parque de diversões? Eu quero ir num prédio beeem grandão e ver tudo lá de cima.

Ursa começou a rir, ainda espantando as lágrimas dos olhos inchados. Zuko apertou o ombro de sua pequena cúmplice. Ela com certeza convenceria a mãe deles por ele.

— Ok, eu não tenho como dizer não pra isso.

Tio Iroh ficaria tão feliz. Zuko só queria que Azula também ficasse. O que ela pensaria de Kiyi? Azula poderia ser uma ótima irmã mais velha, se ao menos quisesse ser. Ninguém se atreveria a magoar Kiyi com uma irmã tão assustadora. Zuko sorriu. Era um sonho bonito.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora