LVIII.

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Azula havia aprendido bastante sobre plantas nos últimos meses. Ela aprendeu o significado de várias delas, inclusive do crisântemo vermelho que Ty Lee a ofereceu antes mesmo de começarem a sair. Antes de Azula compreender os próprios sentimentos. Apesar disso, as flores cujo significado importavam para ela naquele momento eram outras.

Não foi fácil pisar no circo novamente. Por onde Azula andava, todos olhavam na direção dela. O engolidor de espadas, as acrobatas, o palhaço e até o homem que cuspia fogo. Todos a encaravam como se ela tivesse partido o coração de uma irmã deles, e ela tinha. Azula respirou fundo e entrou na tenda principal, onde finalmente encontrou Ty Lee.

Seus medos foram confirmados quando viu Ty Lee trajando o figurino das acrobatas. A performance final ainda não havia começado, mas e se Azula já tivesse chegado tarde demais? E se Ty Lee já tivesse tomado a decisão?

— Ty Lee?

A florista se virou na direção dela com os olhos arregalados. Só então a vista baixou para o que estava nas mãos de Azula.

— Um buquê de jacintos azuis — Azula começou a falar, incerta — Para te pedir perdão.

Ty Lee andou até ela e segurou o buquê com delicadeza, como se ele fosse se desintegrar no ar. Azula se arrepiou quando os dedos delas se encostaram por um momento.

— Eu sempre soube que eu era uma má pessoa — Azula continuou, sentindo as mãos tremerem — Quando eu te conheci, eu tive certeza. Você é tão, tão boa. Eu quis aprender a ser como você. Eu não deveria ter te afastado quando ficou difícil.

— Azula...

— Olha, eu sei. Você foi paciente até demais comigo. Você aturou muita coisa. Quando você me viu daquele jeito, eu senti vergonha, porque eu já não me sentia boa o suficiente. Meu orgulho não me permitia admitir. Eu achava que, se eu fosse vulnerável, você perceberia o erro que cometeu ao estar comigo e me largaria.

Azula abraçou o próprio corpo e continuou encarando os pés, pois ainda não tinha coragem de analisar a expressão de Ty Lee. Ela tinha medo do que iria encontrar.

— Eu errei. Eu errei feio. Ty Lee, eu te amo, então, por favor, não fuja com o circo.

Ela finalmente levantou a cabeça. Novamente, Azula foi responsável por Ty Lee chorar, porém, daquela vez, havia um sorriso. Ty Lee abraçou o buquê com mais força e enxugou as lágrimas.

— Quem disse que eu ia fugir com o circo? — Ela riu.

— Eu... você não ia? — Azula arregalou os olhos e corou.

— Bom, eles ofereceram, mas... eu meio que tenho aula amanhã.

Azula riu aliviada, sentindo-se boba.

— Mas e o figurino?

— Ah, isso? Eu vou me apresentar hoje.

Ty Lee segurou uma das mãos de Azula e a puxou um pouco mais para perto com um olhar de profunda admiração.

— Eu também te amo.

Dessa vez, Azula acreditou. Ela se sentia amada. Elas se aproximaram o suficiente para roçarem os narizes e então riram.

— Posso ver você se apresentar? — Azula pediu com a voz baixa.

Ty Lee ergueu a cabeça para beijá-la na ponta do nariz.

— Nada me deixaria mais feliz.

Sons de fungada fizeram Azula e Ty Lee virarem a cabeça. Na entrada da tenda, vários artistas do circo se reuniram para assistir a reconciliação. O cuspidor de fogo não parava de chorar. O palhaço começou a puxar um longo lenço colorido de dentro da boca e estendeu para ele assoar o nariz.

A Azula do passado ficaria irritada com a intromissão. A nova Azula começou a rir e roncar pelo nariz, produzindo um som nada atraente. A nova Azula era um pouco mais feliz.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora