Capítulo 01

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Monte Campo — São Paulo

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Monte Campo — São Paulo

Afastei a cortina para ampliar a visão da rua e aproveitei para abrir um pouco mais a janela, o cheiro de terra molhada logo invadiu as minhas narinas. O tempo estava frio demais, não consegui abrir a janela toda por conta do vento gélido que se instalava por todo o cômodo. O motivo era a chuva que havia tomado de conta de todos os bairros a uma hora atrás. Fiquei observando a movimentação de fora por longos minutos.

Em Monte Campo, era comum as casas terem arquitetura suíça e traços harmoniosos da estética americana, as ruas quase sempre estavam limpas e parques acompanhado de pinheiros, havia mais áreas verdes do que na maioria das cidades. Era de se admirar, ainda mais em abril, onde o outono aqui é uma das melhores épocas do ano; as folhas ficam amarronzadas e o chão coberto delas, passaria horas observando tudo.

Voltei a atenção ao meu quarto. Movi minha cadeira próximo a escrivaninha e retirei cadernos e livros da minha mochila acompanhado do meu estojo. Me preparava para começar um trabalho de Biologia, o prazo de entrega era para segunda-feira, mas queria terminar antes que eu pudesse me esquecer ou procrastinar. Então, reunindo a pouca coragem, passei os dedos pelas folhas do caderno procurando as minhas anotações e suspirei em tédio ao ver a quantidade de tópicos.

Desde que mudei para outro estado, eu tive a preferência por ficar em casa, passava a maior parte do tempo sozinha no meu quarto que tinha quase o mesmo tamanho da minha antiga sala de estar. No início as experiências foram muito repentinas e difíceis; a mudança de escola, as interações com novas pessoas e um curioso interesse amoroso eu sentia que estava pisando em ovos. Era ainda mais difícil me adaptar por conta da timidez, mas minha avó e minha mãe sempre acharam que eu teria oportunidades melhores morando com os meus tios. Pelo menos por um tempo.

Acabamos discutindo muito por isso, pois era meu último ano, eu não sabia o que fazer com o meu futuro e tem coisas que não dá pra gente decidir em um passe de mágica. Mas eu compreendo o lado delas também, as minhas notas estavam péssima ano passado e estava me tornando uma pessoa difícil de lidar, elas só não queriam que eu sofresse tanto quanto elas sofreram, vivendo humilhação de patrão pra receber um salário mínimo e ás vezes nem isso.

— Anny

A voz animada de Flora tomou meus ouvidos tirando a minha concentração do trabalho e logo em seguida, escutei os sons das batidas na porta.

— Pode entrar. — Falei com os olhos fixos no caderno e logo desviei o meu olhar para ela enquanto adentrava o quarto.

Ela apareceu com um sorriso enorme nos lábios que estavam marcados por um gloss, os olhos castanhos se destacavam por sombras nude acompanhado de um delineado e cílios postiços e o tom do blush predominava nas maçãs de seu rosto. Seus cabelos lisos estavam soltos como de costume e seu vestido preto desenhava bem suas curvas expondo metade das suas coxas.

— Pensei que iria sair com a gente. — Ela disse enquanto se sentava na minha cama e virei minha cadeira para encará-la mais uma vez.

— Tenho trabalho da escola. — Falei apontando pro caderno.

Querido desconhecidoWhere stories live. Discover now