Capítulo 09

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— Ele disse isso? — Camila indagou surpresa e eu apenas balancei a cabeça positivamente — Se ele questionou sobre se você tinha namorados é óbvio que ele tá incomodado com algo

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— Ele disse isso? — Camila indagou surpresa e eu apenas balancei a cabeça positivamente — Se ele questionou sobre se você tinha namorados é óbvio que ele tá incomodado com algo. — Ela começou a caminhar de um lado para o outro.

— Exatamente.

— Podemos dizer que já temos um pequeno avanço, mas vamos continuar com isso por um tempo, já que como você disse, ele e Lavínia continuam como se estivessem se relacionando — Ela passou suas unhas pintadas de verdes pelo próprio queixo.

— Tu não acha que eu estou me humilhando demais por ele? — Questionei enquanto me sentava na minha própria cama.

— Pode parecer, mas ele não sabe e nem precisa saber, você tá jogando suas cartas sutilmente — Ela deu de ombros — Além do mais, quem nunca fez algo para chamar atenção de quem gosta?

— Pode ter razão, mas é que eu nunca me comportei dessa maneira.

— De que maneira? — Ela parecia confusa.

— Dessa maneira. De correr atrás, de tentar conquistar um garoto, buscar por atenção ou seja lá o que isso for — Eu olhei para minhas mãos.

— Tem sempre uma primeira vez pra tudo, uma hora ou outra a gente sai da nossa zona de conforto não é? — Camila se sentou ao meu lado e passou a mão em meu ombro — Tipo como você saiu do seu estado para vir morar em outro, está estudando em uma nova escola e quando você beijou pela primeira vez. Está enfrentando o desconhecido e tá tudo bem.

— É verdade. Tenho que parar de ficar paranoica. Obrigada, Cami. — Eu sorri reconfortante.

— Não vai desistir em.

Após uma sexta muito louca, decidi aproveitar uma tarde fria e nublada de domingo do meu jeito, queria ir finalmente na livraria, fazia algum tempo que eu não ia lar passar a tarde por lá. Graças à minha tia que havia me dado dinheiro eu poderia ficar lendo o resto do dia. Era um dos meus lugares favoritos, além da livraria parecer um grande castelo, ela tinha uma estética por dentro e fora muito parecida com cottage, o que me encantava.

Vesti apenas um suéter vermelho que Flora havia me dado e uma saia xadrez, coloquei uma meia-calça e botas que iam abaixo do joelho. Peguei uma bolsa velha que eu tinha guardada, coloquei meu celular, dinheiro e algumas coisas a mais. 

— Vai sozinha? — Meu tio Erick perguntou quando me viu descer as escadas

— Sim — Eu respondi.

— Então toma cuidado e mande mensagem quando chegar lá — Ele olhou para o seu relógio — Daqui para lá só demora uns 10 minutos de bicicleta.

Era estranho ser monitorada.

— Eu vou mandar mensagem, não se preocupe — Eu abri a porta.

Peguei a minha bicicleta que estava próximo da porta e me dirigir pra fora da casa, acenei para meu tio antes de sair e ele fez o mesmo. Pedalei tranquilamente pela rua e ela não estava movimentada, estava silenciosa, as folhas do outono estavam pelas calçadas e a imagem dos bairros eram como de um filme. Eu pude sentir o vento gélido nos meus cabelos e rosto. A sensação de estar fazendo algo solitário era estranhamente boa, acho que ser sozinha fazia parte de mim. Na verdade, faz parte de todos, as pessoas só não conseguem ficar mais sozinhas.

Cheguei próximo a famosa vila e me aproximei vagamente da livraria, o centro estava bem movimentado, principalmente por ser um ponto bem  turístico, as falas das pessoas se misturavam, o cheiro de diferentes comidas enchiam meus pulmões e meu estômago. Acorrentei minha bicicleta a frente da livraria e em seguida entrei, sentindo logo o cheiro de livros novos. Meus olhos se iluminaram, eu respirei bem fundo me lembrando da primeira vez que entrei aqui e sempre é a mesma sensação.

— Olá senhora Ferreira — Eu sorri me aproximando do balcão.

— Anelise, querida. Demorou para voltar em — A senhora com mechas grisalhas sorriu para mim.

— Andei um pouco ocupada, mas aqui estou — Eu sorri.

— Raissa, atenda os clientes por favor — Ela olhou para sua funcionária e ambas logo trocaram de lugar.

— Está tudo bem? — Perguntei enquanto ela se aproximava de mim.

— Claro, eu apenas queria lhe dar uma coisa. Espere aqui. — Ela saiu um pouco a frente entrou em uma porta próximo ao caixa e logo voltou com uma sacola delicada e decorada na mão.

Ela me entregou a sacola em mãos e revelou-se um livro da famosa escritora Jane Austen, Orgulho e Preconceito, onde a edição era linda, repleta de detalhes.

— Ai muito obrigada, Sra. Ferreira. Não precisava. — Meus olhos brilharam com isso e então a envolvi em meus braços, dando um abraço forte e apertado.

— Magina, querida. Você falou muito sobre esse livro, me lembrou minha filha quando morava aqui. — Ela sorriu depois que retribuiu o abraço. — Bom, tenho que ir atender os outros clientes. Pode se sentar no seu cantinho, fica à vontade.

Eu sorri animada, caminhei até a mesa próximo a janela que me dava uma visão privilegiada de lá de fora, mostrando um pouco das serras, relevos altos e do movimento humano pelo centro. Eu sentei na cadeira  confortável e coloquei o livro e minha bolsa em cima da mesa de madeira. A janela tinha decorações de folhas, flores e galhos, provavelmente sintético.

Lembrei de pegar meu celular da bolsa e avisar ao meu tio que já tinha chegado.

Anelise
Já estou aqui, tio.

Tio Erick
Ok, não chega tão tarde.

Lucca
Você vai mesmo ir a essa festa da Lavínia?

Anelise
Claro. Por que não?

Lucca
Isso não te incomoda? Pensei que estava evitando ela.

Anelise
Eu já tenho que entender que não tem como evitar a loira, ainda mais quando se trata de você-sabe-quem.

Lucca
Se você tá dizendo.

Deixei o celular de lado voltando a atenção para o livro, aproximei ele do meu nariz para sentir mais perto o cheiro do novo — sim, eu estava obcecada. Era uma das coisas que eu fazia antes de ler um livro físico. Em seguida, retirei um bombom de chocolate branco da bolsa e o coloquei na boca. Olhei em volta e mais pessoas chegavam, casais principalmente.

Enquanto estava lendo concentrada, tomei um pequeno susto quando o celular disparou em notificação. O estranho era que a notificação ter sido mandada por alguém do aplicativo de mensagens.

Quem usa esse aplicativo pra se comunicar?

Desconhecido
O vermelho combina muito bem com você, Anelise.

Mas que diabos?

Olhei em volta e tudo parecia muito tranquilo, nada de olhares indesejados ou pessoas que aparentavam estranhas. Revirei os olhos impaciente por terem atrapalhado meu momento. Isso só poderia ser uma brincadeira idiota do Lucca. Coloquei o celular de lado mais uma vez focando no livro.

Desconhecido
Mas sabe qual cor lhe cairia muito melhor?
Amarelo.

Meus olhos se voltaram para a tela do aparelho mais uma vez e eu espiei só pela barra de notificação e franzi o cenho. Meu coração disparou, olhei para o meu suéter vermelho e passei a mão devagar tentando disfarçar o nervosismo.

Meu Deus eu vou morrer.

Desconhecido
Ela simboliza mentira.
E você é uma grande mentirosa.

Querido desconhecidoWhere stories live. Discover now