Capítulo V

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— como quer sua omelete James? . — Perguntou Andy diante o fogão.

—  com bastante tomates e cebola por favor. — respondeu James sentado na mesa do café lendo o jornal no seu tablet.

Andy e James estão sozinhos na cozinha, James está a espera da esposa enquanto Andy espera mais ordens do seus senhores. Ao descer as escadas Dayla parte para a cozinha levada pelo o bom cheiro que há lá, ao entrar ela toma um susto ao ver Andy preparando o café da manhã.

— Bom dia Dayla, o que vai querer comer no café da manhã?. — perguntou Andy despejando a omelete no prato de James com tamanha perfeita que mais parecia um profissional de cozinha.

— incrível não é , foi o Andy que preparou, mandei ele caprichar na decoração do café da amanhã e veja só que mesa linda. — James não podia esconder a felicidade de ver aquilo, o seu projeto se saiu muito bem em sua primeira tarefa.

— sim, a mesa está magnífica... é... Eu vou indo tá legal. — Dayla não sabia o que dizer sobre aquilo, sua vontade é de sair daquele lugar o mais rápido possível.

— senhora Dayla não deseja tomar café da manhã, a organização mundial da saúde adverte que não comer as refeições diárias aumenta os riscos de cânceres intestinais e estomacais. — Andy tenta alerta sua senhora das consequências de não tomar café da manhã.

— eu sei, eu como alguma coisa no caminho, eu tenho que ir, tchau James.

Dayla se foi deixando Andy e James em casa, assutada e desconfortável ela pega a linha F para a UFDU. Mesmo ouvindo música ou lendo Dayla não consegui tirar da cabeça a voz e a afeição de Andy, o robô não só tinha um beleza impactante mas uma voz encantadora também, e tudo isso assutada Dayla, é algo novo demais para se acostumar assim tão de repente, é preciso tempo e Dayla sabe disso, mas sua vontade de ceder a mudança é baixa demais a deixando inconformada com a situação em que se encontra.

  Ao entrar em sala de aula Dayla se depara com menos da metade dos alunos que tinha, o que a deixou ainda mais desconfortável.

— professora Dayla, tá tudo bem?. — perguntou um dos alunos.

— claro que não idiota, não tá vendo a sala cheia?. — disse com tamanha ignorância um dos colegas de sala.

   Sem saber o que dizer, sem saber o que fazer Dayla apenas age compulsoriamente, indo até a sua mesa e se sentando. Ela olha para os alunos e vê o quão aquilo era o fim, não teria como dar aula para quatro alunos em um curso superior de filosofia, ela está arruinada, e consequentemente sem emprego. Apesar de tudo aquilo que ela está sentindo decidiu falar:

— ...bom dia...alunos...bem...temos que ser francos com nós mesmo não é?. — ela sorri para amenizar a frieza do ambiente. — e como um filósofo uma vez disse " as coisas são como elas são e não devem ser discutidas.

— é de August Comte. — respondeu a única aluna da sala.

— isso mesmo, August Comte, e como as coisas estão? Estão feias, não é nenhum segredo para vocês que com o grande índice negativo no curso de filosofia eu perderei o meu emprego, e consequentemente vocês serão direcionados a outros cursos. — o desabafo foi como tirar um saco de pedras pesadas das costas. — é isso galera, acabou.

— eu sinto muito senhora Dayla, mas era inviável, essa é um dos últimos cursos da era 2000 que ainda estava em vigor.

— eu gosto desse curso, gosto das ideias dos antigos filósofos e todo esse mundo de raciocínio e ideia, é disse que precisamos, filosofia, um animal não precisa disso porque ele já vem pronto, nós não, precisamos nos conhecer e nos limitar. — disse uma jovem de longos cabelos castanhos.

— porque nos limitar?.— questionou a professora.

— se não houver um limite acabaremos com nós mesmo, a ideia de livre arbítrio é basicamente isso, você pode fazer o que quiser mas há consequências para esses atos e essa consequências são os limites desse liberdade.

   Impressionada a professora começa a sorrir e vê que apesar de tudo a semente que semeio nos seus alunos começou a brotar, não em todos como desejaria que fosse mas em apenas uma, uma já é suficiente para dar continuidade. Ouvir aquilo fez Dayla ganhar seu dia, sua volta pra casa foi animada relembrando a fala da aula em cada momento, a cada instante, pensou ela que a jovem poderia ser a próxima professora de filosofia, mas tal pensamento se desvaneceu ao recordar que o curso de filosofia será removido das universidades. " A mão de obra manipulada venceu" pensou Dayla sentada no banco do trem da linha F sentindo a estação.

   Ao chegar em casa Dayla encontra uma mesa de jantar bela, com um delicioso pernil de porco no centro de uma cheiro cativante que dá água na boca.

— James! Mas que mesa linda, amo, eu estou chocada, quanta delicadeza. — Dayla se direciona a James que está sentado em uma cadeira na cabeceira da mesa.

— incrível não acha? Algo realmente magnífico. — os elogios de James soaram estranho para Dayla.

— foi você quem fez?. — perguntou ela apesar de imaginar a resposta porém de certo modo ela tem a esperança que a resposta seja outra.

— foi o Andy que fez.

   Ouvir aquilo a fez perder o brilho no olhar e a força do seu sorriso, pensou ela que seu marido teria se dedicado em fazer um belo jantar para ela depois de um longo dia de trabalho assim como ela sempre fez com ele, mas não, quem se dedicou a estar na beira do fogão e fazer todos os gostos dela foi Andy, o robô.

— o que foi? Parece triste, não esta satisfeita?. — a pergunta saiu com tamanha dúvida que levou James se levantar da cadeira para ir abraçar Dayla.

— eu, eu...vou ser demitida. — Dayla mentiu, era uma das suas tristezas a demissão porém não é a que mais machuca seu coração.

    A desvalorização de uma atitude é a ponta inicial de um desastre em um relacionamento, as pessoas tentam tapar a lacuna das desvalorização com sexo ou gracejos passageiros mas esquecem que essa lacuna não se fecha, ela apenas se abre e continua se abrindo até não poder mais. Dayla escolheu mentir para não ter um conflito com James, o dia foi difícil demais, ela não desejo que a noite seja igual, Dayla escolheu o silêncio da dor para ter aquilo que precisa, amor.

O SalvadorWhere stories live. Discover now