Eu estava no ar. Através da pequena vidraça da janela do avião eu podia ver as nuvens se dissipando. Eu estava em meio à névoa. Fechei os olhos imaginando que aquilo era o cérebro da minha inválida. Eu precisava enxergar algo além. Eu já havia me habituado à escuridão do seu poço profundo e escuro, por que eu não conseguiria me guiar entre sua mente enevoada?
O amor sempre curou tudo, essa era a única certeza que nós tínhamos. E, bem, eu tinha uma quantidade de amor capaz de alimentar o mundo inteiro, isso se ele não estivesse direcionado a uma pessoa em especial.
Os segundos passavam lentamente e eu tentava ensaiar na minha cabeça um bom diálogo de desculpas. Eu havia lido alguns trechos de Shakespeare durante toda a viagem, era necessário uma bagagem de cultura para impressionar Lauren.
Quando finalmente o avião pousou, puxei todo o ar possível para dentro dos meus pulmões e afirmei para mim mesma: Se prepare, Lauren, eu estou chegando e eu quero você de volta.
O táxi me deixou no mesmo lugar que nós paramos da primeira vez. Eu ainda lembrava da garota um metro a minha frente arrastando algumas malas, antes de parar de frente para aquela descida de montanha coberta por pequenos arbustos. Eu sequer fazia ideia que iria me apaixonar por aquele ser humano impossível, complicado e, além de tudo, arrogante.
Agora eu seguia até a sua casa da montanha com passo firmes. Eu quero você de volta, Lauren. Eu quero mergulhar nos seus olhos verdes. Eu quero você de volta, Lauren. Eu quero ficar dentro do seu abraço quente. Eu quero você de volta, Lauren. Eu quero seus lábios desajeitados pressionados contra os meus. Eu quero você de volta, Lauren. Eu quero seus dedos afagando os meus cabelos. Eu quero você de volta, Lauren. Eu te quero jogando na minha cara que eu não leio livros o suficiente, eu te quero fazendo comidas vegetarianas, eu te quero com seus momentos de bipolaridade. Eu quero você de volta, Lauren. Eu preciso de você tanto quanto de oxigênio.
Suspirei pesadamente antes de subir os degraus que davam acesso a sua varanda, depositei uma mala a cada lado do meu corpo e encarei a campainha. Eu irei me jogar nos seus braços. Talvez eu lhe dê um beijo inesperado... Apenas porque eu não sei como pedir desculpas.
Toquei a campainha freneticamente. Eu tinha pressa. Ou a minha inválida aparecia logo ou eu arrancaria meus lábios fora. Maldita mania de me morder de nervosismo. Apareça, Lauren! Eu contarei até três.
Um... Dois... Três.
A porta se abriu, revelando uma inválida, mas não a minha.
"Vero?" Eu sorri, abrindo os braços para um abraço, Veronica mal me encarou antes de bater a porta na minha cara. Será que eu estava tão diferente? Irreconhecível?
Bati na porta algumas vezes, mas ninguém fez menção de que iria abri-la novamente. O knock-knock já estava deixando minha mão dolorida, portanto, apelei para a campainha, mesmo que o som fosse extremamente irritante.
"O que você quer aqui, garota? Some!" Vero me repreendeu, pronta para fechar a porta de novo. Dessa vez fui mais rápida e bloqueei a entrada com metade do meu corpo.
"Veronica, por favor! Eu preciso falar com a Lauren." Supliquei, fechando a mão no seu pulso.
Vero chacoalhou a cabeça, "Você não vai! Eu gostava tanto de você, Camila, pensei que seria uma coisa boa na vida da Laur, mas me enganei. Você é uma vadia."
"Não." Encarei seus olhos vermelhos. Hoje, especialmente, ela cheirava à maconha. "Eu vim até aqui só para isso. Eu preciso me explicar e pedir desculpas."
Veronica se manteve em silêncio por alguns momentos, encarando algum detalhe da minha blusa. Ela, provavelmente, estava ponderando. Eu merecia isso, Lauren me devia a oportunidade de justificar os meus erros.
VOUS LISEZ
Destinadas
FanfictionEm uma época onde o mundo está tentando se recuperar das consequências deixadas pelas guerras, tenta-se encontrar formas mais rápidas de deixar o planeta um lugar bom de novo. Após grandes períodos de ódio gratuito, isso não é fácil. O amor é o únic...