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Minatozaki Sana

O barulho da esteira fazia um zumbido regular sob meus pés conforme eu andava. Mal tinha dormido na noite anterior, e meu humor estava horrível. O suor escorria por minhas costas e meu rosto. Peguei minha toalha e enxuguei tudo bruscamente, jogando-a para o lado. Meu iPod estava explodindo com a música alta, mas ainda não estava alta o bastante, então aumentei o volume, feliz pelo apartamento ser à prova de som. Continuei, em um passo quase frenético.

Pensei em todas as minhas opções e meus planos na escuridão da noite, tendo duas ideias. Meu primeiro pensamento foi que, se Jihyo e Jisoo me colocassem para dentro, eu poderia tentar blefar na entrevista, contar a Lalisa somente detalhes vagos da mulher que supostamente mudou minha perspectiva e, consequentemente, a mim. Se fizesse tudo certinho, conseguiria manter uma fachada até me provar para Lalisa, então o impossível aconteceria — essa mulher perfeita terminaria comigo. Eu poderia fingir estar de coração partido e mergulhar no trabalho.

Porém, pelo que Jihyo explicou, minha ideia provavelmente não daria certo. Significava que eu precisava ter uma mulher física — uma que convencesse Lalisa que eu era uma mulher melhor do que ela acreditava. Alguém, como Jihyo mencionou, “de verdade, carinhosa e pé no chão”. Eu não conhecia muitas mulheres que se encaixariam nessas categorias, a menos que tivessem mais de 60 anos. Eu não achava que Lalisa acreditaria que eu pudesse me apaixonar por alguém que tivesse mais de duas vezes minha idade. Nenhuma dessas mulheres com quem eu confraternizava passaria por sua inspeção.

Pensei na ideia de contratar alguém — uma atriz talvez —, mas parecia muito arriscado. As palavras de Jihyo continuaram se repetindo em minha cabeça. “Você é cega, Sana. A solução está bem diante de você.” Ela pensava que eu deveria usar a srta. Chou como minha namorada. Se eu recuasse e tentasse ser objetiva, ela tinha razão. Era o disfarce perfeito. Se Lalisa pensasse que eu estava saindo da Kim Inc. por estar apaixonada por minha assistente e a tivesse escolhido — assim como nosso relacionamento — em vez de meu emprego lá, marcaria muitos pontos com ela. Srta. Chou era diferente de qualquer mulher com quem eu estivera. Jihyo a achava carinhosa, pura e envolvente. Outras pessoas pareciam gostar dela. Só pontos positivos. Com exceção de que era a srta. Chou.

Com um gemido, desliguei a esteira, pegando a toalha que joguei. Na cozinha, peguei uma garrafa de água, bebi tudo e liguei o notebook. Fazendo login no site da empresa, procurei pelos arquivos dos funcionários, parando na página da srta. Chou. Analisei sua foto, tentando ser imparcial. Não havia nada de extraordinário nela, mas seus olhos brilhantes eram grandes com cílios longos. Achei que seu cabelo escuro fosse longo já que eu nunca o tinha visto de outra forma a não ser em um coque apertado. Sua pele era limpa; pensei em como ela ficaria pelas mãos habilidosas de um maquiador e vestida com roupas caras.

Apertando os olhos para a tela, encarei a foto. Um pouco de sono não seria mal para se livrar de suas olheiras e, talvez, comer alguma coisa que não fossem sanduíches de pasta de amendoim e geleia ajudaria.

Resmunguei com a frustração, esfregando minha nuca. Supunha que, neste caso, não importava o que eu preferia. Era o que eu precisava. Neste caso, eu poderia ter de admitir que precisava da srta. Chou.

Que merda.

Meu telefone tocou e olhei para a tela, surpresa ao ver o nome de Jihyo.

— Oi.

Desculpe se te acordei.

Olhei para o relógio vendo que eram apenas seis e meia. Estava surpresa por ela estar acordada, na verdade. Eu sabia que ela levantava tarde.

— Estou acordada há um tempo. O que está havendo?

Lalisa vai se encontrar com você hoje às onze.

Levantei-me, sentindo os nervos da espinha se tensionarem.

— Sério? Por que tão rápido?

Ela estará fora no restante da semana, e eu disse a Jisoo que você estava pensando em aceitar uma entrevista de emprego em Seul.

Eu ri.

— Te devo essa.

Deve muito. Tanto que nunca conseguirá me pagar. — ela riu. — Você sabe que há uma grande chance de não conseguir nada se não convencê-la de que as coisas estão diferentes para você, certo? Deixei isso bem claro para Kim Jisoo, mas minha palavra só vai levá-la até aí.

— Eu sei.

Tudo bem. Boa sorte. Depois me conte como foi.

— Vou contar.

Após desligar, verifiquei minha agenda, sorrindo ao perceber que a srta. Chou a atualizara na noite anterior. Eu tinha uma reunião no café da manhã às oito, o que significava que voltaria para o escritório lá pelas dez. Resolvi não ir ao meu escritório. Tive uma ideia de como apresentar minha “namorada” na entrevista.

Disquei o número da srta. Chou. Ela atendeu depois de alguns toques, murmurando seu cumprimento sonolento.

Hummmm... alô?

— Srta. Chou.

O quê?

Respirei profundamente, tentando ser paciente. Era óbvio que eu a acordara. Tentei de novo.

— Srta. Chou, sou eu, Minatozaki.

A voz dela estava rouca e confusa.

Sra. Minatozaki?

Suspirei pesadamente.

— Sim.

Pude ouvir uma movimentação, e a visualizei tentando se sentar, toda amarrotada.

Ela limpou a garganta.

Há, ahn, algum problema, sra. Minatozaki?

— Não chegarei ao escritório até depois do almoço. — o silêncio pairou. — Tenho de cuidar de um assunto pessoal.

A voz dela estava seca quando falou.

Poderia ter me mandado uma mensagem... senhora.

— Preciso que faça duas coisas para mim. — continuei, ignorando o tom de sarcasmo na voz dela. — Se Taeyeon for até lá e perguntar onde estou, diga a ela que estou resolvendo um assunto particular e você não tem ideia de onde. Fui clara?

Cristalina.

— Preciso que me ligue às onze e quinze. Exatamente.

Quer que eu diga alguma coisa ou só respire alto?

Tirei o telefone da orelha, surpresa pelo tom dela. Parece que minha assistente pessoal não gostava de ser acordada cedo. Estava sendo bem mais respondona que o normal, e eu não tinha certeza do que fazer agora.

— Preciso que me diga que meu compromisso das quatro foi alterado para as três.

Só isso?

— Sim. Agora repita o que acabei de te dizer.

Ela fez um som estranho, algo parecido com um murmúrio, o que me fez sorrir. A srta. Chou parecia ser corajosa se as circunstâncias fossem certas. No entanto, eu queria ter certeza de que ela estava acordada o suficiente para se lembrar de minhas instruções.

É para eu falar para Taeyeon que a senhora está tratando de assuntos pessoais e não faço ideia de onde. Vou te ligar exatamente às onze e quinze e dizer que seu compromisso das quatro foi mudado para as três.

— Bom. Não estrague tudo.

Mas, sra. Minatozaki, isso não faz sentido, por que a senhora iria…

Sem me incomodar em ouvir mais, desliguei.

O Contrato 🖇️ SaTzuWhere stories live. Discover now